Na mosca
Com repertório certeiro, turnê de reunião da formação clássica revive a melhor fase dos Titãs e ajunta público devoto de várias gerações. Fotos: Daniel Croce.
É o segundo show da chamada “Titãs Encontro”, a turnê que reúne, pela primeira vez desde o final dos anos 1990, a possível formação clássica da banda, com o produtor e multi-instrumentista Liminha tocando guitarra no lugar de Marcelo Fromer, morto brutalmente em 2001. Ou seja, é possível ver de volta com os Titãs Arnaldo Antunes (vocais), Nando Reis (baixo e vocal), Paulo Miklos (sax e vocal) e até o batera Charles Gavin, fora da carreira de músico há tempos. Oportunidade rara para fãs das antigas, mas também para as gerações seguintes que não viram essa turma junta ao vivo. E estão todos lá, cantando sem parar. Não é mais o Titãs dos bons tempos, o que se percebe no andamento mais lento e certa falta de intensidade, sobretudo nas músicas mais pesadas e velozes, mas ainda assim são os Titãs reunidos, e as 2h20 com 31 músicas gravadas no século passado valem muito à pena.
Por isso quem espera pela nervosa abertura de roda punk em “Lugar Nenhum”, logo a segunda, ou na pedrada “Policia” (com Sergio Britto arrasando no gogó), tem que ficar com uns pulinhos a mais no meio do público, hoje de idade avançada como a dos membros da banda, e amaciada por dezenas de músicas lentas que o grupo passou a fazer para trilhas de novelas globais nas últimas décadas. Por isso e escolha do repertório, só da fase antiga dessa formação, com mais identificação com o rock e o pop de origem, ao menos em um primeiro momento, surte efeito. Nem mesmo o set acústico atrapalha, já que as cinco músicas escolhidas para a degola já não são grande coisa, como as babas “Epitáfio” e “Pra Dizer Adeus”, ou mesmo “Os Cegos do Castelo”, que estreou no primeiro disco do formato. Ou seja, não estragaram nenhuma música. E todo mundo cantou e foi lindo, claro.O set acústico tem um dos momentos mais sensíveis da noite, com a filha de Fromer, Alice, cantando em “Toda Cor” e em “Não Vou Me Adaptar”. Escorada por Arnaldo, ela não tem carreira promissora como cantora, mas a participação realça pela representatividade do pai, cuja imagem exibida antes nos telões arrancou aplausos do público. O palco é do tamanho da importância e do interesse geral pela turnê – os ingressos evaporaram e datas extras surgiram -, com um telão gigante no fundo e dois de cada lado, cinco modernos octógonos de luz no teto e dois níveis de plataformas, sendo o mais alto sobre a bateria. É por ali que os oito músicos entram, em silhueta negra, e de onde o guitarrista Tony Bellotto dá a largada com o riff da sensacional “Diversão”, prenúncio de uma noite para se anotar no caderninho.

Liminha, como guitarrista substituto de Marcelo Fromer, Nando Reis (baixo) e Tony Bellotto (guitarra)
O mais feliz de todos ali no palco é Branco Melo. Recuperado de cirurgias na garganta, tem agora uma voz esganiçada, mas canta (diferente, mas) bem mesmo assim. O hit “Flores”, com o saxofone de Paulo Miklos, é um dos grandes momentos da noite. Miklos vai bem como cantor solo e nos apoios, apesar de exibir uns quilinhos a mais que não comprometem. E a dancinha de Arnaldo, marca registrada dele nos Titãs, segue impagável. Com ele, “Comida”, “Miséria” e “Televisão” são outra conversa, mas que ficou faltando “O Que”, faltou. Detalhes que certamente não passaram pela cabeça de um refestelado público que viu a sequência em clímax até “Bichos Escrotos”, e um bis arrematado com “Sonífera Ilha”, em clima de irresistível ska/fanfarra de bloco de sujo. Ou seja, nem pense em deixar de ir nessa turnê.
Nota 1: O pessoal tá dizendo que Nando citou o nome de um certo ex-presidente em “Nome aos Bois”
Nota 2: “Epitáfio” é de 2001, portanto a única deste século a entrar no show
1- Diversão
2- Lugar Nenhum
3- Desordem
4- Tô cansado
5- Igreja
6- Homem Primata
7- Estado Violência
8- O Pulso
9- Comida
10- Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas
11- Nome aos Bois
12- Eu Não Sei Fazer Música
13- Cabeça Dinossauro
14- Epitáfio
15- Os Cegos do Castelo
16- Pra Dizer Adeus
17- Toda Cor
18- Não Vou Me Adaptar
19- Marvin
20- Go Back
21- É Preciso Saber Viver
22- 32 Dentes
23- Flores
24- Televisão
25- Porrada
26- Polícia
27- AA UU
28- Bichos Escrotos
Bis
29- Miséria
30- Família
31- Sonífera Ilha
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Bragatto, Nando Reis citou o “inominável” em Nome aos Bois, e a escolha de inserir no repertório a canção Eu não sei fazer música me pareceu uma referência clara à burrice das redes sociais dos dias de hoje. Parabéns pelo texto! Abraços!