O Homem Baile

Boa desenvoltura

Vocalista mais seguro, repertório padrão e boa performance fazem o Stone Temple Pilots se garantir em show pouco concorrido no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista do Stone Temple Pilots, Jeff Gutt: deixando pra trás a caricatura de Scott Weiland

O vocalista do Stone Temple Pilots, Jeff Gutt: deixando pra trás a caricatura de Scott Weiland

Não é o começo nem o bis, mas sim a quase que calculadamente com certeira precisão metade de uma apresentação que vai além desse momento. Há uma espécie de paradinha, uma pausa quase tensa - não dramática - que vem dos integrantes da banda, no palco, e chega ao público em uns segundinhos que parecem a eternidade em sua mais clara tradução. Parece óbvio, mas não é; parece óbvio, e é. Parece próximo e distante o momento que consagrou essa turma, talvez não pelos motivos corretos, mas assim a história está escrita. É esse climão que antecede o êxtase de ver, ao vivo, o Stone Temple Pilots tocando “Plush”, o maior (único?) hit deles em todas as épocas, ontem (27/4), no Vivo Rio.

Não que chega a ser uma novidade, já que a banda circula com certa frequência por essas plagas nos últimos tempos, e reparem que, em 2019 (relembre), um ano antes do início da treva pandêmica, o repertório foi basicamente o mesmo, e com as músicas quase que em idêntica ordem. Músicas majoritariamente da fase clássica da banda, com destaque para “Core”, o álbum de 1992 que tem “Plush” como carro chefe e o vocalista Scott Weiland, principal compositor dessa fase e performer dos bons, falecido em 2015. A boa notícia é que o atual vocalista, Jeff Gutt, antes dono de uma performance meio caricata, de tão decalcada de Weiland, agora exibe certa identidade e - melhor ainda – uma interação com o público pouco intensa em um passado recente. A imagem dele passeado sobre o público sem parar de cantar, em “Down”, já na parte inicial, é um bom símbolo disso.

O guitarrista Dean DeLeo: performance arrojada, quilinhos a mais e citação ao maestro Tom Jobim

O guitarrista Dean DeLeo: performance arrojada, quilinhos a mais e citação ao maestro Tom Jobim

Explica-se ainda que “Plush” arrolou o STP ao grunge, sem que houvesse semelhança alguma com o movimento que dominou o globo na primeira metade dos anos 1990, seja sonora, estética, de underground, tampouco geográfica. Mas serviu para mostrar uma singular identidade, muito a custa do talento e do emblema de Scott Weiland, espécie de rock pesado, a ponto de emular riffs sabbathicos, mas ao mesmo tempo com melodias e ótimos refrães, com sotaque que flerta com o pop radiofônico; lembram dessa? Que o digam pedradas como “Wicked Garden”, logo a primeira; “Trippin’ on a Hole in a Paper Heart”, na cota de refrão colante, mais bota colante nisso; “Sex Type Thing”, talvez o segundo maior hit da banda, na cola de “Plush”; e a adorada pelo público “Big Bang Baby”, de sotaque retrô e chamuscada por aquele peso a mais que marca a carreia da banda.

Público bem abaixo do esperado, aliás, a ponto de a produção providenciar aquelas cortinas pretas no fundo da casa, de modo a diminuir a profundidade do espaço e causar melhor impressão para quem está no palco. Mas ainda assim bem participativo e aparentemente maior que o da banda de abertura, a incrível Winery Dogs. Os gritos de “essetipi” não chegam a ser algo brilhante, mas dá pra entender. Afora a estabilidade de Gutt, o trio instrumental segue imbatível. Os irmãos Robet e Dean DeLeo, respectivamente baixo e guitarra, demostram a classe habitual, o primeiro com uma pegada grooveada espessa, e o segundo, ainda que com uns quilinhos a mais, se reinventado a cada riff, cada música, todo trabalhado na steel guitar em vários números. E o batera Eric Kretz tem performance quase artística de tão apurada, embora simples ao mesmo tempo.

Robet DeLeo e o habitual manejo do contrabaixo, quase na vertical: muito groove e pegada pesada

Robet DeLeo e o habitual manejo do contrabaixo, quase na vertical: muito groove e pegada pesada

Das músicas da fase com Jeff Gutt – são dois álbuns de inéditas com ele, sendo um acústico/semiacústico -, entra apenas o single “Meadow”, que quase passa despercebido pelo público. A bem da verdade, se falta alguma coisa, seguramente é da época das antigas ou de um tempo maior de show, em que pese a duração de hora e meia da apresentação com um set list – repita-se – deveras representativo. Vale ainda o destaque para a homenagem a Scott Weiland em “Still Remains”; a inesperada citação a Tom Jobim pelo guitarrista Dean DeLeo (“apenas uma palavra: Jobim”); e dobradinha fatal “Piece of Pie”/“Sex Type Thing”, que fecha uma noite de afirmação dessa formação e de um repertório sem riscos, mas essencial. Sobretudo para quem é do ramo, mas não só para esses.

Set list completo:

1- Wicked Garden
2- Vasoline
3- Big Bang Baby
4- Down
5- Meadow
6- Silvergun Superman
7- Still Remains
8- Big Empty
9- Plush
10- Interstate Love Song
11- Sin
12- Crackerman
13- Dead & Bloated
14- Trippin’ on a Hole in a Paper Heart
Bis
15- Piece of Pie
16- Sex Type Thing

Jeff Gutt surge passeando sobre a plateia sem parar de cantar, ainda no início do show

Jeff Gutt surge passeando sobre a plateia sem parar de cantar, ainda no início do show

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