Bem interpretado
Entre a caricatura e a eficiência, Stone Temple Pilots mostra sobrevida sem Scott Weiland, na abertura para o Bush. Fotos: Nem Queiroz.
Curioso porque há pouco mais de um ano o STP vem tocando com um novo vocalista, Jeff Gutt, conhecido por participar de programas de calouro na TV americana, cujo comportamento é tão semelhante ao de Scott Weiland (membro vital para a estética da banda, morto em 2015, já fora dela), que beira a caricatura. Não é que o sujeito apenas cante bem, e com tom de voz e entonação parecidos com os de Scott, ele simplesmente decalca os trejeitos dele, se veste como ele, e chega e se parecer fisicamente, incluindo semblante e expressões afins. Se de um lado a condição é próxima da ideal, de outro soa exagerado, patético, ao fornecer a pecha de cover que os três remanescentes da formação original positivamente não merecem. Mesmo porque com Gutt, um novo – e nada mal – álbum foi lançado no ano passado.
Disco que leva o nome da banda, assim como o de 2010, o último com Scott Weiland, e que fornece duas músicas ao repertório, tocadas espertamente na meiúca de mudança de direção da parábola anímica do show. A primeira é o single “Meadow”, um rock dos bons recebido como se fosse um clássico e cantado a plenos pulmões pelo público. Na segunda, “Roll Me Under”, Scott, digo, Jeff Gutt desce do palco e vai de encontro no povaréu na pista comum – artifício que o Bush usaria com mais afinco mais tarde – em generosa contribuição para o clima de interação entre público e banda. No palco, os irmãos DeLeo (Dean na guitarra e Robert no baixo) e o técnico baterista Eric Kretz seguram a onda e seguem tocando bem pra cacete. A curta fase com Chester Bennington (do Linkin Park, morto em 2017) nos vocais, é sabiamente omitida.Se a boa vontade da plateia – com muita gente jovem, diga-se – com o disco novo é farta, imagine na hora dos clássicos e hits dos dois primeiros e mais baldados álbuns (“Core”, de 1992, e “Purple”, de 1994), que, para a alegria e felicidade geral, dominam o set list. É assim que “Vasoline”, uma das melhores ao vivo desde sempre com o enfático riff mais saliente ainda; “Creep” e sua insustentável leveza, mezzo acústica mezzo elétrica; e “Crackerman”, outra de apoio em pesados fraseados de guitarra, têm adesão ampla, geral e irrestrita. Tem também “Big Bang Baby”, dívida paga do show de 2010, quando um Circo Voador lotado exigia a música, ainda com Scott Weiland (relembre). O quarteto também segue com ótima presença de palco, revalidando a máxima de que um integrante novo, mais jovem, sempre desacomoda eventuais aquietados.
Um senão – e dos grandes – é a versão chocha, lenta, nem pesada nem acústica para “Plush”. A música, disparado o maior hit do Stone Temple Pilots, maior do que a própria banda, diga-se de passagem, aparece auto avacalhada e atrapalha aquilo que os fãs mais gostam de fazer: cantar cada verso no ritmo da música. Em um show tão curto – uns 70 minutos – tal atitude poderia ser evitada. O que nada atrapalha a sequência matadora que arremata o show com aquela tal sensação. Além de “Sex Type Thing”, “Dead & Blood”, sem o megafone de Scott, mas com efeito semelhante na voz de Gutt, e “Trippin’ on a Hole in a Paper Heart”, cujo refrão grudento e pesado segue impregnado nas paredes do Metropolitan até agora. Um show curto, rápido, urgente e bem arredondado para ninguém esquecer.Set list completo:
1- Wicked Garden
2- Crackerman
3- Vasoline
4- Silvergun Superman
5- Big Bang Baby
6- Big Empty
7- Creep
8- Plush
9- Meadow
10- Interstate Love Song
11- Roll Me Under
12- Dead & Bloated
13- Trippin’ on a Hole in a Paper Heart
14- Sex Type Thing
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