O Homem Baile

Evolução plena

Com mais rodagem, Winery Dogs assume a status de supergrupo de ponta em ótimo show no Rio. Fotos: Nem Queiroz.

O guitarrista e vocalista Richie Kotzen agora divide o protagonismo em partes iguais no Winery Dogs

O guitarrista e vocalista Richie Kotzen agora divide o protagonismo em partes iguais no Winery Dogs

Era para ser o show de um supergrupo, e foi! Cerca de três anos mais tarde, o Winery Dogs, que praticamente começou tocando ao vivo no Brasil, está de volta ao Rio como uma banda de verdade, não um projeto paralelo mal enjambrado ou um encontro eventual de cracaços da música pesada (relembre o show de 2013). Da esquerda para a direita: Billy Sheehan é o baixista com os dedos mais longos da música desde o blueseiro maldito Robert Johnson; o batera Mike Portnoy é formado em improviso e viradas pela Universidade de Rush e pós-graduado em malabares de sinal de trânsito; e Richie Kotzen é ótimo compositor, guitarrista precioso e ataca com um gogó privilegiado. Tá bom pra você?

Mas nada disso faria sentido não fosse o entrosamento entre os três, conseguido, constata-se agora, através de muito palco e do lançamento de um segundo – e ótimo – álbum, “Hot Streak”, no ano passado. O que encorpa o repertório a ser apresentado, sem a necessidade da inclusão de covers e de músicas deles mesmos, mas nem tão boas assim. Dessa vez, nada das bandas, digamos, principais (Poison, Mr. Big, Dream Theater, etc.) foi incluído no set, em decisão das mais acertadas. Assim, oito das 13 músicas do álbum são apresentadas, sendo duas delas, “Oblivion” e “Captain Love”, já em um começo destruidor. A primeira tem clipe, é opção óbvia e levanta o público como se hit fosse, e, a segunda, escorada em um riff cativante, aponta para um refrão chiclete e deságua em um solo fora do comum de Kotzen.

Em grande forma, Mike Portnoy exibe o kit de bateria mais completo em relação ao show de 2016

Em grande forma, Mike Portnoy exibe o kit de bateria mais completo em relação ao show de 2016

Sheehan e Portnoy, cada qual de seu lado, não esperam a vez de solar, desfilam virtuose e “improvisos ensaiados” bem no meio das músicas, com uma voracidade de quem vai atrás do único prato de comida do dia. Graças às boas canções criadas por Richie Kotzen, nada disso soa como enrolação ou exibicionismo gratuito, tudo se encaixa num intrincado cubo mágico que inclui cores como virtuose, bom gosto, preparo físico e uma ponta de picardia, sobretudo nos malabarismos de Mike Portnoy, que superam há muito tempo a giro da baqueta entre os dedos. O baterista reaparece com um kit mais completo em relação ao show de 2013, à altura de suas possibilidades, o que dá entender que está mais comprometido com os Dogs e contribui com a tese da consolidação do trio; agora é pra valer. Em seu momento solo repete a façanha de batucar pelo palco em tudo do que se pode tirar som, incluindo até os bumbos pelo lado de fora, monitores e as costas do baixo de Sheehan.

Outras das músicas novas que encantam o público são “Empire”, com direito a uma performance endiabrada de Kotzen, em estrega surreal; “Hot Streak”, de embalagem menos violenta, mas com condução inebriante; e ainda “How Long”, carregada com um insuspeito groove que revela uma amplitude das referências que fazem a cabeça de cada um dos pesos pesados, incluindo funk, soul e toda a música negra americana. O show, contudo, sofre com uma caída no meio, por tomadas de atitude erradas da banda. Ver Billy Sheehan e Mike Portnoy deixando o palco para Richie Kotzen tocar violão e cantar sozinho feito um Chris Cornell cover é de partir o coração. E a melancolia pós-hippie de “Think It Over”, sem guitarra, é totalmente despropositada, assim como o início do bis, com a baladaça “Regret”.

O baixista Billy Sheehan, em um relacionamento sério com seu instrumento: solos no meio das músicas

O baixista Billy Sheehan, em um relacionamento sério com seu instrumento: solos no meio das músicas

Mas é reles detalhe para um público que lota o Imperator em plena terça-feira chuvosa, motivo de orgulho para todos. Ele se divide basicamente em estudantes de música, músicos semiprofissionais e imbecis que erguem aparelhos emburrecedores na frente do palco; isso precisa acabar. Em comum, uma animação flagrante ante a um show cuja vocação é realmente cair no gosto do povaréu. Por isso até peças menos expressivas como “Ghost Town”, que retoma o rumo após o solo indigesto de Sheehan; o hit “Elevate”, moldado para pegar uma estrada sem fim rumo ao infinito; e “The Other Side”, com sotaque pop e final estendido para Kotzen exibir o tal gogó, se salientam. E tem gente cantando o refrão de “Desire”, epílogo de uma noite fantástica, até agora.

Clique aqui para ver como foi o show do Soto, na abertura.

Set list completo:

1- Oblivion
2- Captain Love
3- We Are One
4- Hot Streak
5- How Long
6- Time Machine
7- Empire
8- Fire
9- Think it Over
10- Drum Solo
11- The Other Side
12- Bass Solo
13- Ghost Town
14- I’m No Angel
15- Elevate
Bis
16- Regret
17- Desire

Sheehan e Portnoy atacam juntos: duplinha difícil de aturar no ótimo show do embalado Winery Dogs

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