O Homem Baile

Tomou conta

Ritchie Kozen faz do Winery Dogs sua banda solo e converte músicos virtuosos e consagrados em coadjuvantes de luxo. Fotos: Luciano de Oliveira.

Roubando a cena: o guitarrista Richie Kotzen tocando teclado em uma única vez durante todo o show

Roubando a cena: o guitarrista Richie Kotzen tocando teclado em uma única vez durante todo o show

Era para ser o show de um supergrupo. Um supertrio chamado Winery Dogs que tem na cozinha ninguém menos que o baixista Billy Sheehan e o baterista Mike Portnoy, cujos trabalhos nas bandas de origem nem precisam ser citados. Mas quem mostrou estar no comando na fria noite de ontem no Teatro Rival, no Rio, foi o mais discreto deles: o guitarrista Richie Kotzen, cujo trabalho pelas andanças do rock é ótimo e bastante reconhecido, mas está longe de ter a relevância dos demais. Nem por isso as 500 pessoas que esgotaram a nova lotação da casa, que por questões de segurança nunca mais vai receber as 700 que ali já couberam, deixaram de ter um bom show de hard rock, daqueles mais leves – diga-se.

Mike Portnoy atrás de um discreto kit de bateria

Mike Portnoy atrás de um discreto kit de bateria

Para se ter uma ideia, o pomposo Mike Portnoy, que já esteve no Brasil tocando em ao menos umas quatro bandas diferentes, usou uma bateria mínima, a la Ian Paice, do Deep Purple, instalada praticamente no chão. O solo que ameaçou fazer não chegou a começar, deixando na saudade aqueles que queriam vê-lo se virar com um kit tão enxuto. Billy Sheehan, por sua vez, não decepcionou: aproveitou os cerca seis minutos para esbanjar sua técnica apurada aliada ao bom gosto que lhe é característico. Ambos – ele e Portnoy -, de outro lado, mostraram a técnica e tal da virtuose que os fãs (muitos deles são músicos) adoram durante as canções, em passagens aqui e ali que acabaram marcando também o show.

É aí que entra Richie Kotzen. Autor de todas as músicas do único disco do Winery Dogs, que leva o mesmo título, embora prefira creditar aos três, o guitarrista é quem comanda o show, tocando guitarra na maior parte do tempo e cantando. Todas as 13 músicas do disco são incluídas na noite e o repertorio é completado por covers, incluindo os para “Shine” (Mr. Big) e Stand (Poison), que já fazem parte do set list do show solo de Kotzen (veja como foi no Rio há cerca de um ano), além de “You Can’t Save Me”, outra do próprio guitarrista. Não que fosse de se esperar algo do Dream Theater após a saída conturbada de Portnoy, mas o set list (confira no final do texto) só reforça a tese de que Richie Kotzen é que está no comando.

Billy Sheehan debulhando o baixo com bom gosto

Billy Sheehan debulhando o baixo com bom gosto

Curiosamente, uma das melhores músicas do show, que começa com a pegada forte e cativante de “Elevate”, é “Time Machine”, que só aparece como bônus em uma das versões do disco. A improvisação desencadeada da metade para o final faz a plateia bater palpa instantaneamente. No fundo, todos ali ficam de olho, esperando o início de fraseados, viradas e solos que não estejam no gibi. É o que também acontece em “Six Feet Deeper”, um belo hard rock no qual Kotzen desembesta a solar no final, gravando sua marca à ferro e fogo na frente do palco. Vale dizer que o som Winery Dogs é ligeiramente menos pesado que o do próprio Kotzen, o que garante a inclusão de muitas músicas de pouca pegada e baladas nem sempre bem sucedidas.

Já no final de show, “Regret”, por exemplo, começa como quem não quer nada, com Kotzen no piano, e revela uma evolução num crescente instrumental dos mais interessantes, levando o público a vibrar. Pena que justamente nessa parte derradeira da noite outras músicas sem pegada povoam o set (“The Dying” é uma delas), dando a impressão que o final da apresentação ainda não chegou. Nessas horas a terrível lembrança do Poison – e não só por contas de “Stand”, cantada em coro - é que povoa a memória do público. “I’m No Angel”, essa sim balada das boas, é ajudada pelo clipe que circula na web e também tem boa cantoria por parte da plateia. No bis, uma versão quase blues de “Fooled Around And Fell In Love”, consagrada no filme “Madrugada Muito Louca 2”, e a mais animada “Desire” fazem um arremate que é a síntese da noite: um bom show de rock, mas que poderia ter sido bem melhor, em se tratando do que acostumamos a chamar de superbanda.

Sheehan, Portnoy e Kotzen: o trio em ação na bela paisagem do palco do Teatro Rival ontem à noite

Sheehan, Portnoy e Kotzen: o trio em ação na bela paisagem do palco do Teatro Rival ontem à noite

Set list completo:

1- Elevate
2- We Are One
3- Criminal
4- One More Time
5- Time Machine
6- Damaged
7- Six Feet Deeper
8- The Other Side
9- Solo Billy Sheehan
10- You Saved Me
11- Not Hopeless
12- Stand
13- You Can’t Save Me
14- Shine
15- I’m No Angel
16- The Dying
17- Regret
Bis
18- Fooled Around And Fell In Love
19- Desire

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