O Homem Baile

Um lugar ao sol

Com power trio afiado, Richie Kotzen mostra virtuose e bom gosto e ‘reivindica’ uma vaga no panteão dos grandes guitarristas. Fotos: Luciano Oliveira.

Richie Kotzen, no comando de um ótimo power trio, canta para o tímido público no Teatro Rival, no Rio

Richie Kotzen, no comando de um ótimo power trio, canta para o tímido público no Teatro Rival, no Rio

A pergunta que não se cala depois de ver o guitarrista Richie Kotzen comandar um excelente power trio durante quase duas horas é: por que de ele não tem uma carreira de maior projeção? Seria o estigma de ter feito parte do Poison que o afasta do panteão dos grandes guitarristas? Seria Kotzen um daqueles artistas subestimados pela mídia que, por isso mesmo, é visto como decadente ao fazer turnê pelo Brasil, incluindo cidades interioranas? E por que só 300 pessoas estiveram ontem, no Teatro Rival no Rio, pra ver o show do guitarrista?

O correto e firme batera Mike Bennett em ação

O correto e firme batera Mike Bennett em ação

Questões que certamente não passam pela cabeça de Richie Kotzen quando, por exemplo, ele desanda a solar numa versão arrasa quarteirão de “Fooled Again”, deixando translúcida toda a sua veia hendrixiana. O que Kotzen faz hoje é o chamado classic rock contemporâneo, cheio de referências aos anos 60/70, mas com um “quê” de atualização, fruto de suas boas composições e de uma performance de power trio que é, antes de qualquer coisa, rock. As músicas do guitarrista não são um amontoado de solos, mas composições bem sacadas e que têm na sua voz – de tom parecidíssimo com a de Chris Cornell, do Soundgarden – o complemento ideal. Daí o show passear por riffs, fraseados e evoluções de guitarra e acompanhamentos de baixo e bateria que fazem do chamado conjunto da obra uma experiência e tanto.

De cara Kotzen manda três músicas do novo álbum, “24 Hours”, lançado no final do ano passado. A faixa-título é a melhor delas, com um bom refrão, mas “Help Me”, que flerta com o soul e com o funk, também salienta a influência da música negra que costuma acompanhar o guitarrista. Todas têm, em comum, uma força instrumental com a qual tem-se a impressão que os músicos vão descambar para a improvisação, o que realmente aconteceria mais tarde, durante a noite, não no começo, digamos, mais contido do trio. A reação do público é também fria, até que o início de “Shine”, dos tempos do Mr. Big, traz a participação de todos com palmas e uma cantoria tímida, em se tratando de um show de rock.

O trio improvisa no palco durante o show

O trio improvisa no palco durante o show

O repertório preso no piso é desafiado com a alteração da ordem das músicas e a inclusão de outras que aparentemente não entrariam no show; de 13 passa par 16. Uma delas, “Stand”, serve para o correto batera Mike Bennett marcar o coro e Kotzen pedir a participação da platéia. A música é uma baladaça chiclete que cresce com o forçar de voz do guitarrista, na parte final; as meninas adoram. Mas o bom da noite está nas músicas que têm mais peso, como a boa “Doin’ What The Devil Says To Do”, quando até o baixista Dylan Wilson faz das suas, solando durante toda a canção. Na parte final, o “devil’ do título encarna em Kotzen, que desanda a solar numa das melhores performances do show. São várias evoluções de guitarra em série, emendadas umas nas outras e torneadas por solos de empolgar até o sujeito que serve bebida atrás do balcão.

No bis, “Remember”, que vinha sendo pedida pelo público, é finalmente tocada e reserva outro belo solo no final, realçando toda a dramaticidade que uma boa balada pesada merece. No desfecho, com “Go Faster”, um Richie Kotzen possesso – aí, sim – engata uma sequência de solos de prova final de curso de guitarra, esbanjando técnica, velocidade e bom gosto. A música tem os dois pés nos anos 70, e a levada “estradeira” traz o arremate ideal para um belo show. Se Richie Kotzen não tem a projeção que lhe é merecida, pior para quem não vê nele a imagem de um grande guitarrista.

Richie Kotzen: classic rock contemporâneo

Richie Kotzen: classic rock contemporâneo

Set list (quase) completo:

1- Bad Situation
2- Help Me
3- 24 Hours
4- Shine
5- Everything Good
6- Fear
7- Fooled Again
8- Love is Blind
9- My Angel
10- Peace Sign
11- Doin’ What The Devil Says To Do
12- Stand
13- Paying Dues
Bis
14- Remember
15- Ramblin’ Gamblin Man
16- Go Faster

Tags desse texto:

Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Frederico em junho 8, 2012 às 15:57
    #1

    Marcos, a 15ª foi “Ramblin Man” (Allman Brothers).

  2. Marcos Bragatto em junho 8, 2012 às 17:53
    #2

    É “Ramblin’ Gamblin Man”, do Bob Seger, Fred.

  3. Carlitos em junho 12, 2012 às 14:04
    #3

    Com certeza foi o melhor show que o Kotzen já fez aqui no Rio!!!

  4. josue em junho 14, 2012 às 23:18
    #4

    Bom tomara que ele pare de imitar o Chris Cornelll hahahahahaahha

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado