O Homem Baile

Arisco

Com repertório já conhecido, Richie Kotzen mostra música do próximo disco e se consagra com boa participação do público no Rio. Fotos: Luciano Oliveira.

O sorridente Richie Kotzen mostrou repertório conhecido e apresentou três músicas novas para o público

O sorridente Richie Kotzen mostrou repertório conhecido e apresentou três músicas novas para o público

Poderia ser pela música de abertura da noite, “War Paint”, uma das duas novas de uma coletânea que saiu há pouco tempo. Ou pelo fato de a banda deixar para encarnar um power trio de raiz apenas em algumas músicas, entre elas a exuberante “Fooled Again”, o que faz desse trecho do show um momento de exceção quase dionisíaco. Ou ainda porque várias músicas, como “You Can’t Save Me”, são conhecidas e cantadas em um gogó afiado pela plateia que enfim lotou o Teatro Rival, ontem no Rio. Mas o que faz da apresentação de Richie Kotzen um showzaço não é nada disso. Ou, por outra, é tudo isso junto, é o conjunto da obra que coloca o trio como um dos grandes representantes do chamado classic rock contemporâneo.

A rigor, nem era para se esperar muito coisa. Kotzen esteve no Rio há pouco mais de dois anos (veja como foi), e nesse meio tempo só saiu a tal coletânea, “The Essential Richie Kotzen” (detalhes aqui), que forneceu as duas únicas novas dela à noite. Se “War Paint” abriu os trabalhos com boa pegada, uma bonita melodia e ótimas evoluções de guitarra, “Walk With Me” serviu mais para Kotzen exercitar o falsete e mostrar que não é só uma voz parecida com a de Chris Cornell, do Soundgarden (não dá para deixar de relacionar um e outro). A música, contudo, não pegou na hora em que o público foi chamado a acompanhá-lo. A joia da noite é “Cannibals”, que veio antes, anunciada pelo guitarrista como a faixa-título de um novo álbum que já estaria prontinho. A canção mistura uma interessante batida anos 80 dançante com o classic rock do trio e precisa ser averiguada.

O baixista Dylan Wilson e o baterista Mike Bennet: sem Kotzen, a jam session entre eles soa protocolar

O baixista Dylan Wilson e o baterista Mike Bennet: sem Kotzen, a jam session entre eles soa protocolar

Kotzen, a rigor, parece mais arisco no palco, se compararmos as duas performances, e não só nos momentos em que sola para valer, tocando com guitarra nas costas, debulhando as cordas ou deslizando para a beirada do palco. Sorridente na maior parte do tempo, o guitarrista chega a tocar bateria no início de “Help Me”, e depois junto com o dono do posto, Mike Bennett, que voltou sem as madeixas que sacudia da outra vez; teria o corte de cabelo relação com a batida anos 80 de “Cannibals”? Ele e o baixista Dylan Wilson são os protagonistas de um momento solo que soa protocolar e acaba tomando o tempo que seria de outras músicas no repertório. Convenhamos que 14 números não chega a ser muito, mesmo que alongados por grandes momentos solo. Wilson, diga-se de passagem, se sai muito melhor no meio das músicas, como na própria “Help Me”, um funk rock nervoso que cai muito bem.

Richie Kotzen tampouco precisa tocar “What Is” sozinho no palco. O momento intimista quebra um pouco o ritmo do show, assim como a concatenação das músicas, que não é das mais apuradas, sendo que nove das 14 foram tocadas nas duas ocasiões. “Fear”, espécie de hard rock de baixo impacto, e a potente “Bad Situation” são as que mais o público aplaude. Mas não é ao acaso que duas das melhores músicas da noite ficam na parte final, e ambas dignas do “selo de qualidade power trio”; não é qualquer trio que tem o “power”. É o caso da já citada “Fooled Again”, que só falta fazer Jimi Hendrix em pessoa aparecer em pleno palco; e “Go Faster”, um hit estradeiro arrasa quarteirão guardado para o bis e que faz a noite parecer curta, dada a intensidade da apresentação. Arisco, esse Kotzen.

O guitarrista disse que já tem um novo disco prontinho, do qual apresentou a faixa-título 'Cannibals'

O guitarrista disse que já tem um novo disco prontinho, do qual apresentou a faixa-título 'Cannibals'

Set list completo

1- War Paint
2- Love Is Blind
3- Bad Situation
4- Cannibals
5- Walk With Me
6- Fear
7- Doin’ What the Devil Says to Do
8- Peace Sign
9- Jam instrumental
10- Help Me
11- What Is
12- Fooled Again
13- You Can’t Save Me
Bis
14- Go Faster

Tags desse texto:

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Liz Minelli em outubro 16, 2014 às 0:44
    #1

    Gostei da review! Estava lá e apenas discordo quando diz que foi desnecessário o momento intimista de ‘What Is’. Eu achei formidável, encaixou perfeitamente no set list. :)
    Que venham mais shows em terras cariocas!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado