Home DestaqueO Homem Baile

Domínio completo

Com repertório de novidades e poucos ‘hits’, Dream Theater encerra a movimentada noite do metal no Rock In Rio e tem boa participação do público. Fotos: Vinicius Pereira.

O vocalista do Dream Theater, James LaBrie, com a boa performance que lhe é peculiar

O vocalista do Dream Theater, James LaBrie, com a boa performance que lhe é peculiar

É a primeira música da noite e como manda o manual do bom show de rock no inconsciente coletivo do ramo, trata-se do single do disco mais recente, a música de trabalho escolhida para dar cara ao novo álbum do artista, com clipe, rádios e - vá lá - playlist disponíveis. Só que, nesse caso, a tal canção circula pelos 10 minutos de duração e os integrantes, sem a menor cerimônia, desandam a tocar, logo de cara, espécie de mini solos entre uma ou outra passagem e/ou mudança de andamento, em um pique de rachar o côco de quem passou o dia correndo atrás de palco em festival, e vê a madrugada chegar sorridente. É o Dream Theater no início da derradeira apresentação do Palco Mundo, no Rock In Rio, nesta sexta (2/9), mostrando que não está para brincadeira.

A tal música é “The Alien”, uma pedrada das boas e que atende à tradição de começar os trabalhos, seja em disco ou no show, no gás, em um subgênero do rock, o progressivo, que tem lá seus interlúdios, mas que não pode perder a pegada, ainda mais na atualização prog metal. Lá atrás, o batera Mike Mangini, com um kit diferente do que vinha usando – a banda esteve no Rio em 19, relembre – é quem impinge o andamento bem ritmado e cheio de viradas ao mesmo tempo, com o guitarrista John Petrucci bastante insinuante desde o início. A paisagem do palco parece pequena, ainda mais depois da saída da parafernália do Iron Maiden, que tocou antes (veja como foi), e é um telão gigante, que ocupa todo o fundo do palco, de altíssima definição, que enriquece o cenário, cujas imagens dão diferenciado movimento aos músicos e plateia.

O guitarrista John Petrucci comanda o Dream Theater no Palco Mundo, mas também se diverte

O guitarrista John Petrucci comanda o Dream Theater no Palco Mundo, mas também se diverte

A turnê é a do álbum mais recente, o bom “A View From The Top Of The World”, lançado no ano passado, e o repertório, sem mistério, é o mesmo quem vem sendo apresentado desde o início, em fevereiro. Ou, por outra, é a versão mais enxuta dele, adaptada para festivais, cujo tempo é de cerca de 1h15, em contrapartida às mais de duas da versão inteira do giro. Além de “The Alien”, das novas é apresentada “Invisible Monster”, de refrão poderoso, espécie de prog metal pop sofisticado, mas deixa de fora justamente a música mais acessível e colante do disco, por assim dizer, a ótima “Transcending Time”. Também é omitida a faixa-título do álbum, uma peça (ou suíte, como queiram), de mais de 20 minutos de duração.

Dentre as desse porte, quem brilha na noite é “The Count of Tuscany”, do álbum “Black Clouds & Silver Linings”, de 2009, que há mais de uma década não entrava em uma turnê, o que confere ao show um sotaque de lado B. Conhecida dos brasileiros desde 2010 (relembre) a música tem a proeza de conviver com as longas passagens instrumentais e as mudanças de andamento que os fãs de progressivo adoram, e ainda assim ter versos cantados repetidamente em matadoras sequências de ponte e refrão. Ao vivo, o efeito é extraordinário, e o público sabe muito bem disso, cantando e cantarolando tudo a plenos pulmões. Outra das antigas é “Endless Sacrifice”, que traz o tecladista Jordan Ruddes de posse daquele keytar preto para a beirada de palco, junto com John Petrucci. O guitarrista também desafia o baixista John Myung em várias ocasiões, mas é aqui, no trecho mais pesado, que os três dominam o público com o poder da música, sem ter que mandar ninguém fazer nada.

O baterista Mike Mangini e seu novo kit, sem as peças montadas acima da própria cabeça

O baterista Mike Mangini e seu novo kit, sem as peças montadas acima da própria cabeça

A impressão que fica é a de que, depois de mais de 10 anos da traumática saída (superada?) do batera Mike Portnoy, que curiosamente tocou no Palco Sunset mais cedo, com o Metal Alegiance, e de investidas em álbuns por vezes mais seguras (“Dream Theater”, 2013), em outras mais arriscadas (“The Astonishing”, 2016), essa formação, comandada por Petrucci, parece mais à vontade em se assumir como uma banda de classic rock, do ponto de vista histórico, no fim das contas, e que pode pinçar essa ou aquela faixa esquecida ou pouco explorada de um ou outro álbum lançado no passado. O que só enriquece o currículo dos fãs, ainda mais em locais em que as turnês passam com certa frequência, como o Brasil.

Mas o prêmio maior para o público acaba sendo o bis (sem sair do palco, mas bis mesmo assim) com “Pull Me Under”, o maior sucesso da história da banda, que nem sempre é tocada, e foi incluída apenas pela segunda vez esse ano. O que realça a performance impecável do vocalista James LaBrie, em uma música que sozinha tem mais de 30 anos de partes altas e difíceis de alcançar, mas também durante todo o show. Por óbvio, é o momento de maior participação por parte da plateia, que, se contemplativa aqui e acolá, sabe participar dos refrães o tempo todo. Para quem achou que não ia sobrar gente madrugada adentro depois do headliner Iron Maiden, o carimbo de um dos melhores shows da noite lhe cai muito bem.

Petrucci, o baixista John Myung, o tecladista Jordan Rudes e Mangini sofrem os efeitos do super telão

Petrucci, o baixista John Myung, o tecladista Jordan Rudes e Mangini sofrem os efeitos do super telão

Set list completo:

1-The Alien
2-6:00
3-Endless Sacrifice
4-Bridges in the Sky
5-Invisible Monster
6-The Count of Tuscany
Bis
7-Pull Me Under

Tags desse texto: ,

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado