Ficou pra próxima
Prejudicado por som mal equalizado, Living Colour perde a oportunidade de se redimir no Rock In Rio. Foto: Adriana Vieira.
Era para ser uma daquelas noites fadadas à redenção para uma banda que comeu o pão que o diabo amassou há nove anos, mas não foi. Explica-se que, em 2013, em uma das escalações mais equivocadas que se tem notícia, o Living Colour fechou este mesmo Palco Sunset para um reduzido público em meio a transeuntes sem rumo na Cidade do Rock (relembre). Agora, em pleno 2022, na noite de abertura do Rock In Rio, nesta sexta (2/9), a banda tocou praticamente sem que a guitarra fosse ouvida pela maior parte do público, na maior parte do tempo. E pensar que o convidado de honra, em um palco em que o artifício chega a ser regulamento a ser cumprido, é ninguém menos que o guitarrista Steve Vai.
Cogitava-se nos arredores que, sabe-se lá, a falta de som justamente na guitarra de Vernon Reid seria uma forma de fazer realçar a de Vai em sua entrada, na parte final do show. Ocorre que, com a chegada do convidado, eles até se faziam ouvir melhor, mas sem o mínimo de pegada e potência sonora que uma dupla desse cabedal merece. Ressalte-se que Reid é excelente guitarrista e nada fica a dever a Steve Vai, e que ambos tocando juntos há tempos é uma das atrações mais esperadas dessa edição, em que pese os atrasos causados pelos adiamentos em função da pandemia do Covid 19. Na cerca de uma hora que o show durou, o problema sequer foi resolvido, resumindo-se a apresentação em espécie de aula de baixo de Doug Wimbish, o instrumento mais ouvido do palco, e bateria.
Ali no palco, contudo, parece que tudo funciona perfeitamente, e há relatos de que perto da grade que separa o público da banda a coisa flui. Por isso que o groove dançante de “Middle Man” já realça a técnica cativante dos músicos logo de cara, mesmo não sendo um dos grandes hits deles. Outra tarefa que a banda se vê desafiada a cumprir é a de agradar aos fãs do Bullet For My Valentine – estamos no dia do metal - que já se aglomeravam na região à espera do show de encerramento do Sunset, mas essa eles encaram desde sempre. Se tem uma banda difícil de classificar ou enquadrar entre um ou outro subgênero do rock, essa banda é o Living Colour; e isso e ótimo. Mas como empolgar um público que mal consegue ouvir o que sai do principal instrumento em uma banda de rock?
Fazendo uma limonada das boas que inclui hits do naipe de “Type” e “Time’s Up”, tocadas em sequência, na segunda parte, ou ainda o arremate, com a indefectível “Cult of Personality”, essa com Steve Vai à tiracolo. O show teve também homenagem à Marielle Franco, assim como aconteceu em 19 no Circo Voador, no Rio (relembre), já na segunda música; solo percussivo do batera Will Calhoun – pra que, em uma horinha de show? e um incentivo por escrito, em placa erguida pelo vocalista Core Glover, reforçando os valores democráticos e pedido que as pessoas votem, em “Wall”. O tal encontro ficou para as quatro músicas finais, com – claro – covers, desta feita para Led Zeppelin e Jimi Hendrix, com performances ordinárias de parte a parte. Uma pena.
Set list completo:
1- Middle Man
2- Desperate People
3- Ignorance Is Bliss
4- Wall
5- This Little Pig
6- Type
7- Time’s Up
8- Rock and Roll
9- This is the Life
10- Crosstown Traffic
11- Cult of Personality
Tags desse texto: Living Colour, Rock In Rio, Steve Vai