O Homem Baile

Pérolas aos poucos

Living Colour sofre com falta de público e faz show apenas razoável, com a boa participação da cantora Anjélique Kidjo no Rock In Rio. Fotos: Léo Corrêa.

O guitarrista Vernon Reid e o vocalista Corey Glover lado a lado no show do Living Colour

O guitarrista Vernon Reid e o vocalista Corey Glover lado a lado no show do Living Colour

Se havia dúvida quanto a escalação do Living Colour numa noite repleta de atrações de gosto duvidoso no Rock In Rio, a prática resolveu a parada. O consagrado grupo, que faz peculiar mistura de hard rock com música negra, calcada na virtuose, atraiu o menor público em um show já realizado por ele no Brasil. Das 85 mil pessoas que compraram ingressos para a noite de estreia da edição desse ano do festival, nesta sexta, 13, menos de mil prestigiaram o quarteto, que acabou tocando menos tempo que podia – era horário nobre, o encerramento do Palco Sunset, o secundário.

Secundário e reservado aos chamados encontros que dificilmente funcionam. Curiosamente, a cantora do Benin Anjélique Kidjo acrescentou – e muito – ao show do Living Colour, o que significa que eles ao menos ensaiaram juntos para a coisa dar certo. A cantora e sua exótica forma de se vestir e dançar deu uma levantada num show que, de certa forma, parecia condenado pelo desprezo do público a passar despercebido. É claro que o grupo não arregou e tocou com a perfeição de sempre, mas faltou a pegada que vem da interação com o público.

Glover e Anjélique Kidjo: cantora melhorou o show

Glover e Anjélique Kidjo: cantora melhorou o show

Tanto que o vocalista Corey Glover empenhou vários esforços para melhorar as coisas, incluindo a descida até a grade – essa, sim, lotada – por mais de meia música, em “Glamour Boys”, um dos grandes hits do Living Colour, quando ele desafia a gravidade num saculejo engraçadíssimo. Vernon Reid, o único guitarrista vivo que usa um laptop para o bem, de outro lado, não estava nem aí. Esmerilhou sua guitarra sem dó, realçando mais seus engendrados solos que o paletó hiper xadrez. Em “Cult Of Personality”, a primeira da noite, suas evoluções já chamaram atenção. E olha que, sabe-se lá o motivo, as luzes de frente do palco não foram usadas, ao menos até a entrada de Anjélique. Até nisso a moça contribuiu.

Das 10 músicas tocadas no curto set de menos de uma hora, Anjélique cantou em quatro, sendo que em “Afrika” e “Malaika”, de seu repertório, o show deu uma guinada para a world music, com incrível habilidade do emagrecido baixista Doug Wimbish e – de novo – de Reid, cuja guitarra citou a juju music com uma naturalidade ímpar. Na primeira, a cantora chamou a atenção pela empatia e por se comunicar com o público em bom português (é habitué no Brasil), além da dança típica de países africanos. Pena que, no final do set, praticamente não houve quem pedisse bis, já que o deslocamento para o Palco Mundo era a máxima.

Vale a ressalva que, no Rock In Rio, não há praticamente a simultaneidade de horários dos shows, exceto por pouco minutos, quando há atrasos. Ou seja, era possível, antes de partir para o Palco Mundo atrás de atrações folclóricas, checar ao menos uma meia horinha do show do Living Colour. Ocorre que a aridez da plateia é abundante. Boa parte é formada por gente que não gosta de música, só da farra; não compreende o segmento, só o global; não percebe o viés cultural, só comercial. Uma lástima que fez do show do Living Colour algo apenas razoável.

Corey Glover vai para o meio do 'povão' em busca de animação e acaba se divertindo do jeito que dá

Corey Glover vai para o meio do 'povão' em busca de animação e acaba se divertindo do jeito que dá

Set list completo:

1- Cult Of Personality
2- Middle Man
3- Desperate People
4- Open Letter (To a Landlord)
5- Glamour Boys Funny Vibe
6- Afrika
7- Malaika
8- Love Rears Its Ugly Head
9- Voodoo Child (Slight Return)
10- Solace Of You

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Rodrigo James em setembro 14, 2013 às 12:13
    #1

    Mestre, este não foi o show do LC com o menor público no Brasil. Eles se apresentaram em BH em 2009 (acho) no Music Hall para um público que não passava das 200 pessoas. Mas o show foi inacreditável de bom….

  2. Freq em setembro 16, 2013 às 17:08
    #2

    Living Colour on pop night night was the wrong combination. Living Colour put on one of the best live sets this weekend. Too bad you like horrible pop music.

  3. Fabio em setembro 27, 2013 às 16:42
    #3

    Eu ja vi uns 4 ou 5 shows deles, todos excelentes. No Circo Voador já vi 2 vezes, tocaram mais de 2 horas.
    Era a única banda que me faria chegar cedo para ver um show no Sunset, mas botaram os caras no dia da Bionça, aí num dá!

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