O Homem Baile

Casou bem

Com arranjos preciosos junto com a Orquestra Sinfônica Brasileira, Sepultura resgata pérolas, refaz hits e reforça grande fase no Rock In Rio. Foto Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Renan Olivetti.

sepulturarir22Começar um show seja ele qual for pelo que deveria ser o arremate é um desafio dos mais interessantes. E por isso mesmo quando as primeiras notas, o acorde, o riff e a atmosfera “Roots Bloody Roots” ecoam pelo vale que se transforma a frente do Palco Mundo, a sensação é das melhores. É fato que os portões da Cidade do Rock já estavam abertos há um tempão, com a balbúrdia comendo solta, mas só agora (agora, sim!) é que a edição desse ano do Rock In Rio está oficialmente aberta. Uma edição com o sabor de superação do período mais crítico da pandemia, quem sabe o fim de um pesadelo, tema sobre o qual o metal em que o Sepultura se insere costuma discorrer. Não é, todavia, o maior hit da banda em uma versão qualquer, já que o show é nada mais nada menos do que com a Orquestra Sinfônica Brasileira.

Frequentemente chamada para abrir edições do festival, dessa vez a OSB se vê ante a um desafio diferente, o de se fundir com o thrash metal, subgênero do rock bastante mais complexo, o que, de outro lado sugere alguma identificação: é a complexidade de parte a parte – do metal e da música erudita – o ponto em comum em cima desse palcão superlotado. E o resultado é sensacional, em que pese a beleza dos arranjos e uma certa generosidade estampada no rosto do guitarrista Andreas Kisser, músico de mão cheia, que, em vez de colocar o repertório de hits do Sepultura para os eruditos tocarem, o que já teria um efeito espetacular, bola um verdadeiro show de encontros, daqueles que se promete no Palco Sunset e dificilmente se cumpre.

Assim, tem Vivaldi de um lado, Stravinsky de outro e, mesmo em músicas do Sepultura, há um resgate, por assim dizer, de faixas pouco conhecidas, ou ao menos “não hits”, identificadas com a música erudita, faceta que Kisser sempre mostrou, desde os tempos do protagonismo de Max Cavalera. O que é “Kaiowas”, por exemplo, senão aula de violão clássico incluindo ritmos regionais brasileiros? E a adaptação da “Nona Sinfonia”, de Beethoven, agora com a orquestra? Praticamente uma oportunidade única que a banda soube aproveitar, em uma atitude - e ainda tem mais essa - revestida de muita coragem, porque não é qualquer banda, em um festival desse porte, abrindo o palco principal, que tem estofo para renunciar ao repertório consagrado em nome de um projeto mais ousado, para dizer o mínimo.

O que de certo modo também quebra o ritmo do show em si, levando o público a se dividir entre: a) Mandar aquele o olhar contemplativo de quem está em estado de plena compreensão com o que se passa em cima do palco; b) Bater cabeça sem dó; e/ou c) Partir para o pula-pula em rodas de dança. As duas últimas opções são claras na sempre pedrada que é “Refuse/Resiste”, já na intro de bateria. Também não faltaram as músicas da fase mais recente, dos dois últimos álbuns, que recolocaram o Sepultura na rota dos grandes nomes do metal mundial, e que já têm arranjos com certa vocação erudita, como “Machine Messiah”, “Agony of Defeat” e “Guardians of Earth”, esta fechando o show que começara com a última, no modo “ao contrário”.

Set list completo:

1- Riot at the Rite
2- Roots Bloody Roots
3- Kairos
4- Machine Messiah
5- Ludwig Van
6- Kaiowas
7- Valtio
8- Agony of Defeat
9- Refuse/Resist
10- Largo (Winter)
11- Guardians of Earth

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