Bem consolidado
Gojira faz o show mais pesado da noite de estreia do Rock In Rio e confirma ter sido a melhor opção para a vaga do Megadeth. Fotos: Vinícius Pereira.
No começo não parecia que seria assim. Se as passagens instrumentais de “Born for One Thing”, que abre a noite, deixa a atmosfera ainda mais tensa, quando ela descamba para o trecho cheio de grooves, os braços erguidos da plateia traduzem um momento de certa cadência, que não dura muito. Impressiona como Mario acelera o andamento com o duplo bumbo estourado no peito de cada um ali na frente, fazendo com que os demais integrantes se virem para segui-lo. E é assim em quase toda a horinha de show a que a banda tem direito, resultando em todo um élan de brutalidade em torno do Gojira, que parece assim ter uma nova cara, com maturidade e consolidação de um estilo próprio. Não é mais só aquela coisa de groove metal com referências tribais à Sepultura.
O resultado não podia ser outro senão a abertura de várias rodas de dança na frente do palco, com a plateia se estapeando como se não houvesse amanhã. A disposição do palco é simples, com a banda espremida na frente por causa do cenário do Iron Maiden, que tocaria em seguida (veja como foi), o telão atrás com imagens nervosas em sincronia com a música e a iluminação, e eventuais labaredas e/ou jatos de fumaça disparados na frente do palco; nada exclusivo da banda. O Gojira é outra banda que comparece nessa edição do Rock In Rio com um disco novo debaixo do braço para mostrar, o criativo e diversificado “Fortitude”, que cede cinco faixas ao repertório do show.As duas mais conhecidas são “Another World” e “Amazonia”, estrategicamente posicionas na parte final. A primeira, uma paulada mais lenta e arrastada, tem o clipe de animação exibido nos telões contando a história do Planeta Terra destruído sendo redescoberto, e, a segunda, no encerramento, chama a atenção para causa ambiental e indígena no Brasil, tendo inclusive a participação de duas índias brasileiras no palco. O vocalista e guitarrista Joe Duplantier, que se apresentou com o rosto pintado de urucum, chamou a atenção do público para a música, e recebeu de volta um coro de protesto contra o atual Presidente da República, artifício comum na Cidade do Rock. Ativista, ele já esteve no Brasil anteriormente para apoiar a causa indígena.
Outros destaques dessa apresentação brutal são a nervosa “The Cell”; a já citada “Grind”, outra das novas, com ótimas passagens melódicas e um lindo solo de Joe na beirada do palco; a não menos tensa “Silvera”, já conhecida, do álbum anterior, “Magma”, de 2016; e “The Chant”, cujas vocalizações causam grande efeito no acompanhamento do público, que cantarola tudo certinho mesmo depois de música acabar. Se na noite em que inicialmente teria o Megadeth, que acabou cancelando a vinda, a escolha do Gojira como substituto parecia correta, depois dessa apresentação bombástica tudo se confirmou.Set list completo:
1-Born for One Thing
2-Backbone
3-Stranded
4-Flying Whales
5-The Cell
6-Grind
7-Silvera
8-Another World
9-L’enfant sauvage
10-The Chant
11-Amazonia
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