O Homem Baile

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Mais pilhado e com repertório ajustado, Red Hot Chili Peppers desfaz impressão ruim do último Rock In Rio no Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: MRossi/MRossi.

O vocalista do Red Hot Chili Peppers, Anthony Kiedis, em ação no modo 'animação total': muito melhor;

O vocalista do Red Hot Chili Peppers, Anthony Kiedis, em ação no modo 'animação total': muito melhor

Não é preciso muita coisa para uma banda que coleciona um punhado de hits radiofônicos fazer um grande show, mas nem sempre é fácil explicar como o Red Hot Chili Peppers consegue brilhar na irregularidade. Depois de uma passagem raquítica no encerramento do Rock In Rio, há seis meses (relembre), eis que a banda ressurge com uma bela apresentação nesta sexta (23/3), fazendo jus à pecha de headliner na primeira noite da edição desse ano do Lollapalooza. O formato do show, o palco e a estrutura são os mesmos, mas um ajuste no repertório, com mais e melhores músicas, e, sobretudo, uma maior entrega dos músicos em cima o palco, por assim dizer, fazem toda a diferença. Em comum aos shows das duas pontas da Dutra a lotação total, com fãs de tudo o que é canto jorrando pelo ladrão.

Repete-se o formato do show porque a turnê que segue, em tese, ainda é a mesma do álbum “The Getaway”, que saiu em 2016, e porque segue a linha de improvisos no palco não só no meio das músicas, mas também no início, e já antes de o show começar. É quando se destacam o baixista figuraça Flea – que até planta bananeira na volta para o bis – e o baterista Chad Smith, músicos muito talentosos e responsáveis em grande parte pela fase mais inventiva da banda. É baixo estalado e virada de bateria pra tudo o que é lado. O palco, na linha quase personalizada de banda de grande porte, é também próprio, com um telão em formato circular no centro e quatro outros satélites em círculos menores, em tese um para cada integrante, resultando em efeitos parecidos com os de luz de um palco.

O baixista Flea, o baterista Chad Smith, o guitarrista Josh Klinghoffer e as improvisações dessa turnê

O baixista Flea, o baterista Chad Smith, o guitarrista Josh Klinghoffer e as improvisações dessa turnê

Para fechar a investigação de o porquê de o show do Lolla ter sido melhor, talvez o item principal seja o repertório, ligeiramente ampliado, como banda que encerra noite de festival precisa fazer, e um refinamento que acontece no desenrolar de turnês de bandas preocupadas com sua performance, o que parece ser o caso do Red Hot. A inclusão de músicas como “Aeroplane” e “Higher Ground”, o cover de Stevie Wonder e ícone do funk o’metal noventista que tanto fez sucesso por aqui, é fator fundamental para a dinâmica do show. Assim como a saída de cena de “Did I Let You Konow”, aquela inspirada na música paraense, do bom álbum “I’m With You”, de 2011, e de “I Wanna Be Your Dog”, excelente releitura dos Stooges, mas que não rebate bem em meio a fãs de absolutamente todas as origens, em se tratando de Red Hot Chili Peppers.

Explicações dadas, o negócio é relaxar e… se divertir pra cacete! É o que acontece com a massa fluida e saltitante que superlota a região do palco principal do Lolla, que é como se fosse uma gigantesca bacia com as laterais mais altas, o que garante contornos muito próprios quando uma banda grande bota pra quebrar de verdade. Acontece logo de cara em “Can’t Stop”, enganando o público ao começar depois da improvisação que inaugura o show, dando ares de promissora à noite; no blockbuster “Californication”, com refrão explodindo em um uníssono e ótimo solo de Josh Klinghoffer, para desalento das viúvas de baba bovina de John Frusciante; e na cantoria imperiosa de “Under the Bridge”, que, colada em “By the Way” – imagine isso –, em um padrão balada de almanaque, fecha a primeira parte do show.

As quatro pimentas em ação, reduzindo o palco principal do Lollapalooza a um ambiente de garagem

As quatro pimentas em ação, reduzindo o palco principal do Lollapalooza a um ambiente de garagem

O momento “homenagem a música brasileira que faz muito sucesso lá fora” fica por conta de Klinghoffer, que canta sozinho, em português mesmo, a menos óbvia “Menina Mulher da Pele Preta”, do mais óbvio Jorge Ben; óbvio – de novo – que ninguém se sensibiliza com a troça. Em muitas das músicas, o início é um duelo do tipo face to face entre Josh e Flea e em “Higher Ground”, a improvisação é tanta que inclui o impetuoso baterista Chad Smith e faz o atlético vocalista Anthony Kiedis sentar em cima de um amplificador para assistir à apresentação sem pagar ingresso. Cabe menções honrosas para desenterros como os de “Hump de Bump” e “Blood Sugar Sex Magik”, mas o que aquela turba vai mesmo guardar na caixola é a inefável “Give It Away” no arremate final. Dá ou não dá pra melhorar sempre?

Set list completo:

1- Intro Jam
2- Can’t Stop
3- Snow (Hey Oh)
4- Otherside
5- Dark Necessities
6- Menina Mulher da Pele Preta
7- Sick Love
8- Nevermind
9- Californication
10- Aeroplane
11- Blood Sugar Sex Magik
12- Hump De Bump
13- The Adventures of Rain Dance Maggie
14- Higher Ground
15- Under the Bridge
16- By the Way
Bis
17- Goodbye Angels
18- Give It Away

Chad Smith e Flea: a inigualável cozinha do Red Hot Chili Peppers que todo muito respeita

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