Abrandado
Sem pegada, Red Hot Chili Peppers mantém a sina de altos e baixos no Rock In Rio. Fotos divulgação Rock In Rio: Marcelo Paixão/I Hate Flash (1 e 2) e Wesley Allen/I Hate Flash (3).
Incrível como, em seis anos, uma banda boa de palco, com pegada e musicalmente inventiva cai em uma calmaria de Pedro Alvares Cabral. Ou, por outra, vem de bem mais longe a abrandada sonora do grupo, sobretudo nos palcos, onde costumava arrebatar a participação do público na raça. Agora, vive de um hit aqui e outro acolá, tocados com certa displicência, para dizer o mínimo, e inevitáveis baladinhas, comandadas por um Anthony Kiedis cada vez mais canastrão. Só que se espera bem mais para uma banda escalada para o encerramento não de uma das noites do Rock In Rio, mas de todo o festival. De modo que, numa hora dessas, ganha ares de inaceitável entrarem apenas 16 números em menos de hora e meia de show. Ok, não é preciso seguir a trilha mastodôntica do Guns N’Roses, na véspera (veja como foi), cada coisa no seu lugar, mas são 35 anos de carreira para mostrar.
De certo modo, o paralelo entre os dois shows procede. Assim como Slash e sua turma, o Red Hot também turbina muitas das músicas com citações e introduções instrumentais. E, vamos e venhamos, quem tem o baixista figuraça Flea, agradecido por tocar em um festival que tem no cast o Sepultura, que diz amar, e o baterista monstro Chad Smith, tem tudo para fazer esse artifício dar certo. Só precisa combinar com o público, que, nesse caso, salvo os chamados die hard fãs, é o mais genérico entre os genéricos, portanto pouco acostumado a raciocínios e compreensões um pouquinho mais elaborados, ainda mais por dois monstros como esses. Por isso, a junção de “I Wanna Be You Dog”, dos Stooges, com “Right on Time”, um dos grandes momentos da noite, passa despercebida e, se a primeira parte durasse mais, seguramente seria motivo de reclamação.
A tendência, no desenrolar do raciocínio, é apontar o dedo para o guitarrista Josh Klinghoffer como o responsável por esse estágio xoxo do RHCP, mas esse exercício de covardia só é praticado pelas inefáveis viúvas de John Frusciante. Josh participa muito bem dos álbuns recentes da banda, já estava no bom show de 2011, e, se não se salienta entre Flea e Chad, também não compromete, e os motivos estão mais na gênese e no desenrolar da carreira da banda do que nessa formação que dura já oito anos e não permite cultivo ao luto. Formação que, ao menos nessa noite, envolveu o repertório em uma bela embalagem “funk de raiz atualizado”, por assim dizer. Como se vê na dobradinha “Sir Psycho Sexy”/“The Power of Equality”, duas das quatro pinçadas de “Blood Sugar Sex Magik”, álbum número um deles, e também em “Tell Me Baby”, onde até Josh Klinghoffer se diverte.Entre as músicas do novo álbum, “The Getaway”, lançado no ano passado, que bem poderia ser uma desculpa para que o show se alongasse, apenas três foram apresentadas. A melhor é “Go Robot”, com ótimo desempenho instrumental, sendo que “Dark Necessities”, canção apenas razoável que salienta o solo de Josh, e a sem graça “Goodbye Angels”, já no bis, passaram como ilustres desconhecidas pela plateia. O que faz o público dançar mesmo é, curiosamente, “Did I Let You Know”, inspirada na guitarra paraense, para dizer o mínimo, e sucessos globais do naipe de “Can’t Stop”, a primeira a afiar cantoria; as babas “Under the Bridge” e “By the Way”, com Flea estalando as cordas do baixo de maneira impressionante; e o arremate precoce com “Give It Away”. Pena que a música, composição extraordinária, aparece incrivelmente sem pegada e acaba por sintetizar a fraqueza de um show que tinha tudo para ser pedrada pura.
Set list completo:
1- Intro
2- Can’t Stop
3- Snow (Hey Oh)
4- The Zephyr Song
5- Dark Necessities
6- Did I Let You Know
7- I Wanna Be Your Dog/Right on Time
8- Go Robot
9- Californication
10- Tell Me Baby
11- Sir Psycho Sexy
12- The Power of Equality
13- Under the Bridge
14- By the Way
Bis
15- Goodbye Angels
16- Give It Away

Fofo: o baixista Flea, agradecido por tocar em um festival que tem no cast o Sepultura, que diz amar
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