Teatralizado
David Byrne segue inquieto e, com clássicos do Talking Heads e novidades, faz o show que nunca mais se verá em outro Lollapalooza da vida. Fotos Divulgação Lollapalooza: Camila Cara/MRossi (1, 2 e 3) e Denis Ono/MRossi (4).
Mas ninguém precisa conhecer nada desse material para se divertir com o musical, e explica-se de antemão que o palco é reduzido a uma espécie de cômodo central limitados por cortinas, em um ambiente onde entram e saem os músicos, todos com os instrumentos acoplados ao próprio corpo, cantores e dançarinos, dependendo de cada número, que compõem a encenação. O modelo, contudo, não é de banda de quermesse abraçado pelo mundinho indie pós-Arcade Fire, com seus inefáveis taróis, mas reproduz o som de uma banda tocando ao vivo perfeitamente. No início, um enigmático Byrne aparece sentado atrás de uma mesa com um terno de bom corte cinza e um chinelo de dedo que logo seria dispensado, praticamente declamando “Here”, a música que fecha o disco novo.
Dá-se a largada e começa o entra e sai dos 11 integrantes da trupe, além de Byrne, que toca uma rara guitarra, incluindo os percussionistas brasileiros Davi Vieira e Mauro Refosco, que na véspera tocou com o Red Hot Chili Peppers no palco principal do Lolla (veja como foi). Vieira ainda canta os versos gravados originalmente pelo rapper britânico Dizzie Rascal, em “Toe Jam”, cheia de referências à música latina e à tal da world music que permeia toda a trajetória de tiro pra tudo o que é lado – e por isso mesmo interessante - de David Byrne. Em cada música, coreografias bem ensaiadas dão o tom; em uma delas, Byrne e asseclas aparecem deitados no chão. Com isso, a reação da plateia é menos do tipo que se vê em um show e mais contemplativa, com ênfase do aplauso final em alguns trechos, caso de “Once In a Life Time”, uma das mais conhecidas do Talking Heads, mas com arranjos bem diferentes da versão original.Do bom “American Utopia”, realçam a cínica “Every Day is a Miracle” (justamente quando Perry Farrel, idealizador do Lolla, chega no vão entre o palco e a grade, e depois ele tocaria om o Pearl Jam, veja), e a festiva “Everybody’s Coming to My House”, uma das que a maior quantidade de integrantes participa. Se “Psycho Killer”, talvez o maior sucesso do Talking Heads, em geral não entra no set – e não entrou de novo -, teve, entre outras, “Blind”, inspirada em um funk de raiz de cair o queixo, pra sacolejar os incautos de rosto decorado com purpurina, e o desfecho com “Burning Down The House”, quase uma unanimidade, mesmo em um lugar no mínimo inóspito. No fim, não sobra motivo para reclamação alguma. Porque é muito fácil gostar de David Byrne.
Set list completo:1- Here
2- I Zimbra
3- Slippery People
4- Everybody’s Coming to My House
5- This Must Be the Place (Naive Melody)
6- Once in a Lifetime
7- Toe Jam
8- I Dance Like This
9- Every Day Is a Miracle
10- Blind
11- Dancing Together
12- The Great Curve
13- Burning Down the House
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