O Homem Baile

No lugar certo

Segunda opção para fechar o Monsters Of Rock, Aerosmith mostra grandeza em show marcado pela vitalidade da dupla Tyler/Perry. Fotos Divulgação XYZ: Stephen Solon.

Joe Perry e Steven Tyler: a dupla ambígua que comanda a farra rock'n'roll patrocinada pelo Aerosmith

Joe Perry e Steven Tyler: a dupla ambígua que comanda a farra rock'n'roll patrocinada pelo Aerosmith

Não é segredo que o Black Sabbath era a primeira opção para ser a atração principal para o encerramento da edição que marca a volta do Monsters Of Rock, mas o Aerosmith ocupou o posto com a grandeza que ele exige. Na noite deste domingo, apoiado no talento ambíguo da duplinha Steven Tyler e Joe Perry, o grupo voltou a encantar o público, como já havia feito na sexta, no Rio (veja como foi), com cerca de duas horas de velhos sucessos da década de 1970 e um apanhado de baladas que marcaram época 20 anos depois, na fase dos clipes super produzidos replicados pela MTV. Quem resiste?

Steven Tyler, não. O sujeito se entrega à apresentação como poucos frontman do rock fazem, seja por instinto profissional em repetir os trejeitos que o consagraram ou pelo simples prazer de estar se divertindo a valer, que é a impressão que passa para o público em diversas vezes. Em muitas delas o protagonista de determinado trecho do show é outro integrante, como Perry solando, por exemplo, e lá está Tyler, fora de cena, dançando sem parar, quando poderia simplesmente dar um tempo no canto do palco. E quando está sob os holofotes – tem sua própria câmera a segui-lo - é que ele brilha intensamente, seja pela indumentária que lhe é peculiar ou desfilando pela rampa que avança no meio do público, que é a cara dele. Mas, sobretudo, pela voz que resiste incrivelmente à ação do tempo. Sem ela, diga-se, todo o entorno não faria a mínima diferença.

Na frente do baterista Joey Kramer, Tyler e Perry se acabam, e o show está apenas começando

Na frente do baterista Joey Kramer, Tyler e Perry se acabam, e o show está apenas começando

O repertório do show é bem parecido com os apresentados em Curitiba (veja aqui) e no Rio, com mudanças pontuais que não comprometem, mas podem aborrecer. Como retirar, por exemplo, o mega hit “Janie’s Got a Gun”? Por que tocar “Pink”, do álbum “Nine Lives’, sendo que a grande música desse disco é “Falling in Love (Is Hard on the Knees)”? Se é para encher o set de baladas, por que limar justamente “Crazy”, uma das mais grudentas? Nada que dê para fazer parte de uma pauta de reivindicações, mesmo porque o repertório é amplo e abrangente. Mesmo assim, só lembra que o grupo tem um álbum novo no mercado, “Music For Another Dimension!”, no single “Oh Yeah”, com sotaque stoneado que faz jus ao passado do Aerosmith.

Num olhar menos amiúde, embora o público do show do Monsters tenha sido bem maior – 30 contra 20 mil, e sem a famigerada Pista Vip a coisa só melhora a favor do festival -, a banda se comporta da mesma forma, em um nível animação contagiante como o rock, aliás, deve ser. Seja na fase das antigas, que se torna algo para poucos no meio do povão, ou nas baladas de fazer marmanjo chorar, o show acaba grudando de cara e recebe uma resposta incrível. Nem precisava, em “Each The Rich”, que teve estreia avassaladora nesse giro no Brasil, a citação a “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin, mas o público adora. Assim como em “Come Together”, fornecendo peso aso Fab Four. Mas quem precisa de citações quando se tem na cartola um hit vocacional como “Love in na Elevator”, que já vem com o verso “oh, yeah” de fábrica para ser consagrado pelas multidões em todos os cantos? Não foi diferente no Monsters of Rock.

De volta ao mini palco montado bem no meio do público, Joe Perry e Steven Tyler mandam mais uma

De volta ao mini palco montado bem no meio do público, Joe Perry e Steven Tyler mandam mais uma

O inspirado Joe Perry do show do Rio está no palco por aqui também, e, embora repita uma performance que é puro feeling e atitude rock’n’roll, não se pode chamá-la de repetitiva. Aqui, vale o realce que Perry fornece a músicas como “Dude (Looks Like a Lady)”, com um final alongado; nos interstícios de “Crying’”, a balada que já começa com o esmerilhar de guitarras; e na porrada em que se transforma “Livin’ on The Edge”. No descanso de Tyler, Perry é quem canta “Boogie Man”, fazendo as vezes de um Keith Richards um pouco menos arruinado. E “Last Child” é feita para o vovô Brad Whitford mostrar que não é só um dos melhores guitarristas base do rock mundial; sabe solar, e muito bem.

O show tem ainda os momentos “de roteiro”, como o da fã que sobe ao palco para acompanhar Steven Tyler em “Walk This Way”, mas a moça aqui é do tipo modelo fabricada em série, mal consegue dançar e a cena é gelada. No início do bis, com “Dream On”, Tyler e Joe Perry se revezam sobre um piano branco no meio da plateia, que delira não só com a música – xodó de Tyler – mas com os jatos de fumaça estampidos para o alto. No final, “Sweet Emotion” ainda reserva um chuva de papel picado que se não é a tempestade feita pelo Kiss, dá lindos contornos finais a uma apresentação de gente grande que fez jus a de um headliner do Monsters Of Rock. Que o festival continue em 2014.

Vilsa geral do palco, com o telão de alta definição que só o Aerosmith teve em todo o Monsters Of Rock

Vilsa geral do palco, com o telão de alta definição que só o Aerosmith teve em todo o Monsters Of Rock

Set list completo:

1- Back In The Saddle
2- Love in an Elevator
3- Toys in the Attic
4- Oh Yeah
5- Pink
6- Dude (Looks Like a Lady)
7- Rag Doll
8- Cryin’
9- Last Child
10- Jaded
11- Boogie Man
12- Combination
13- Eat The Rich
14- What It Takes
15- Livin’ on the Edge
16- I Don’t Want to Miss a Thing
17- No More No More
18- Come Together
19- Mother Popcorn/Walk This Way
Bis
20- Dream On
21- Sweet Emotion

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. fabio em outubro 21, 2013 às 12:00
    #1

    Eu vi pela TV e foi excelente mesmo… nao vi no Rio porque ainda tenho na mente o show foda que eles fizeram na Apoteose em 94, e tava com medo desse show ser ruim, afinal nos últimos 19 anos eles não fizeram quase nada que valha a pena.
    Impressiona mesmo a vitalidade da banda. Alem dos Toxic Twins, Kramer e Whitford também tão muito bem, e o baixista substituto não fez feio. A voz do Tyler é um mistério… sempre parece que vai pifar, mas tá lá firme e forte.
    Eu tenho uma teoria… quando o mundo acabar, com a 3a Guerra Nuclear, só restarão as baratas, os Stones e o Aerosmith… e o Ozzy…

  2. Antonio Dias em outubro 21, 2013 às 19:59
    #2

    O show do Hollywood Rock foi MESMO inesquecível. Não fiu por falta de tempo$$$$$$. O de sampa foi maravilhoso.

  3. Fernando Pizoni em novembro 4, 2014 às 9:47
    #3

    Fui no show deles em Sampa em 2007, esse show foi fodido de bom! E no de Brasília foi muito mais foda ainda! Os caras são muito bons, quanto mais o tempo passa tão fazendo melhor! Que continue assim porque são bons demais e a estrutura do show é de arrepiar!

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