Domínio total
Veterano Aerosmith esbanja vitalidade na noite em que, enfim, o Rock In Rio começa pra valer. Fotos divulgação Rock In Rio: Fernando Schlaeepfer/I Hate Flash.
Dupla de parceiros que assina boa parte das músicas apresentadas durante a noite, canções que são grandes sucessos e nada devem a duplas clássicas como Lennon/McCartney e Jagger/Richards. São verdadeiro patrimônio e domínio público do hard rock mundial e reconhecidas a cada primeiro acorde percebido pelo público de lado a lado do Palco Mundo. A mais nova delas, inclusive, tem já 20 anos, e o público, repleto de jovens e adolescentes, realça a força de um repertório refinado que cobre sete dos 15 álbuns do Aerosmith e tem certas surpresas e algumas ausências que beiram o imperdoável. O início com a dobradinha “Let the Music Do the Talking”, pinçada de tempos idos e com Perry no efeito slide, e “Love in an Elevator”, aquela que já vem de fábrica com um “oh, yeah!” no final de cada verso, é totalmente arrasador.
Joe Perry, que já havia dado uma canja no show de Alice Cooper, mais cedo, no Palco Sunset, se desdobra em solos sobre solos e usa até uma lap steel guitar, em “Rag Doll”, sempre escorado por Brad Whitford, um dos melhores guitarristas base do hard rock, cuja discrição não lhe subtrai importância. Em “Dude (Looks Like a Lady)”, que encerra precocemente a primeira parte do show, desce junto ao público, assim como Tyler faz antes, na mesma “Rag Doll”. Perry ainda abusa dos improvisos, incluindo a desafinação do traste da guitarra no final de “Eat The Rich”. O público acompanha e canta quase todas as músicas de cor e salteado, sobretudo nas baladaças chicletudas como “Cryin’”, logo no começo, com Tyler tocando harmônica – e não seria a única vez - e “I Don’t Want to Miss a Thing”, nem tão boa assim, mas adorada pela massa de braços erguidos em coreografia ensaiada.
Uma novidade nessa turnê, que de certo modo foge do padrão “só sucesso” do repertório, é a inclusão de “Oh Well”, do Fleetwood Mac, que volta aos shows 10 anos depois como uma improvisação amalucada contagiante até para o menos acostumado com as pérolas que o Aerosmith é capaz de produzir. Colada em “Stop Messin’ Around”, também do grupo britânico, já totalmente apropriada, forma-se um apanhado musical extraordinário, como se fosse o quinteto uma turba de adolescentes aprendendo a viajar em cima de um clássico. Ao mesmo tempo, sintetiza com precisão as origens blueseiras da banda e serve como ato libertador em meio à tantos hits, e uma forma de fazer cair o queixo de odo mundo na Cidade do Rock. É o que, seguramente, mantém o grupo com o frescor necessário para seguir em frente depois de tantos anos.Mas também serve para lamentar a diminuição do tamanho do set list – até 21 para 16 músicas, seria por causa do festival? – o que acarreta em ausências como as de “Back In The Saddle”, “Mama Kim” e, sobretudo, “Janie’s Got a Gun”, hit número um por essas plagas. Mas como a banda tem tocado bastante por aqui (2106, 13, 11, 10, relembre nos links), não custa variar o repertório. O que também não tira o mérito da entrega dos músicos em toda a performance, ainda mais com todos ali beirando a casa das 70 primaveras. E também não reduz em nada a incrível performance aeróbica de Steven Tyler, o segundo maior manipulador de pedestal de microfone do mundo (David Coverdale em primeiro), do parceiro Steven Tyler e da banda como um todo. Por isso aquela imagem do piano branco com a guitarra empunhada em “Dream On “, a tal música do bis, não vai sair do inconsciente coletivo do público de jeito nenhum.
Set list completo:
1- Let the Music Do the Talking
2- Love in an Elevator
3- Cryin’
4- Livin’ on the Edge
5- Rag Doll
6- Falling in Love (Is Hard on the Knees)
7- Stop Messin’ Around
8- Oh Well
9- Crazy
10- I Don’t Want to Miss a Thing
11- Eat the Rich
12- Come Together
13- Sweet Emotion
14- Dude (Looks Like a Lady)
Bis
15- Dream On
16- Walk This Way
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