O Homem Baile

Travadão

Hits globais não funcionam no Rock In Rio e Def Leppard perde chance de redenção do fiasco de 20 anos atrás. Fotos: Filipe Marques/I Hate Flash.

O vocalista do Def Leppard, Joe Elliott, que teve dificuldades de adaptação no início do show

O vocalista do Def Leppard, Joe Elliott, que teve dificuldades de adaptação no início do show

Era para ser um roteiro daqueles de volta por cima que a música e o esporte adoram, mas alguma coisa saiu errada e o Def Leppard perdeu a oportunidade de se redimir no Palco Mundo, no Rock In Rio, nesta quinta (21/9). Relembre-se que, na ocasião, em abril de 1997, o grupo estreou na cidade em uma triste performance para um público ínfimo, no espaçoso Metropolitan antes da reforma (fotos aqui e aqui). Agora, já como uma banda de classic rock – o tempo passa, o tempo voa – e na comemoração dos 30 anos do lançamento do blockbuster “Hysteria”, com um repertório mais do que caprichado, repleto de hits, e em um festival de proporções bíblicas e repercussão global, era o momento certo para uma redenção.

Era, mas não foi. Primeiro, porque a banda parecia engessada no palco, com cada integrante paradão em suas posições, salvo raras exceções. Se colocassem um GPS desses uados em jogadores de futebol no vocalista Joe Elliott e outro em Steven Tyler (veja como foi o show do Aerosmith), a diferença de quilometragem seria drástica. Depois, parece que os sucessos globais do quinteto – quase todos incluídos no show, veja o set list no final do texto -, não vingaram durante todos esses anos junto ao público brasileiro, e a reação da plateia, à exceção da turma do gargarejo, é congelante. E, por último, Elliott luta com a própria voz no início da noite e só consegue se adaptar depois do primeiro terço do show. Seria o ventinho frio de Curicica o vilão? Ou o entra e sai de aeroportos?

Elliott e o ótimo guitarrista e marombeiro Phil Collen, um dos destaques da noite no Palco Mundo

Elliott e o ótimo guitarrista e marombeiro Phil Collen, um dos destaques da noite no Palco Mundo

Para se ter uma ideia, nem “Love Bites”, famosa no Brasil por uma versão canhestra do Yahoo, de Robertinho de Recife, teve a adesão esperada para um sucesso desse tamanho. Tampouco a dupla de novidades, “Let’s Go”, péssima escolha para se começar um show, sem pressão e com Joe Elliott em apuros, e “Man Enough”, toda trabalhada no groove, com uma batida quase eletrônica, em que pese as adaptações na bateria de Rick Allen. Aquele mesmo que teve de amputar o braço esquerdo após um acidente de carro, em 1984. Antes, o Def Leppard já havia cancelado a vinda parar o primeiro Rock In Rio, em 1985, e foi substituído pelo Whitesnake. Allen é caso único no mundo do rock, e – honra seja feita – cumpre muito bem suas funções com um kit de bateria adaptado.

Mas, ainda que sem a tal interação púbico/banda em um tamanho considerável, há muitos bons momentos no show, quase todos passando pelos guitarristas Phil Collen e Vivian Campbell. São eles que descem a rampa que se projeta no meio do público para uma performance sensacional na dramática “Bringin’ on the Heartbreak” e na instrumental “Switch 625”, reproduzida com uma impecável destreza depois de tantos anos; ambas são do ótimo disco “High ‘n’ Dry”, de 1981, antes de o grupo atingir sucesso global via mercado americano. Em “Love Bites”, ainda que com certa discrição, ambos trocam solo de lugar, com Joe Elliott já adequando o gogó, em um dos momentos mais bonitos da noite.

O baterista Rick Allen com o kit adaptado para tocar com um braço; banda cancelou a vinda em 1985

O baterista Rick Allen com o kit adaptado para tocar com um braço; banda cancelou a vinda em 1985

Do “Hysteria”, o disco aniversariante, são nada menos sete das 12 faixas originais, tudo hit de primeira linha. Na própria “Hysteria”, imagens de época da banda são exibidas nos telões - o tradicional de fundo e adicionais, um de cada lado da bateria -, e a música deságua em momentos de grandes emoções e um pouco de cantoria na plateia. Em “Pour Some Sugar On Me”, Collen e Campbell sobrepõem solos sobre solos, numa daquelas performances que realmente valem a pena. E “Photograph”, uma das mais queridas do público mundo afora, é o arremate lindão, já em clima de despedida. O grupo teria direito a cerca de mais 10 minutinhos de show, mas acabou deixando o palco depois de 1h10 de palco. Ficou ou não ficou devendo?

Set list completo:

1- Let’s Go
2- Animal
3- Let It Go
4- Love Bites
5- Armageddon It
6- Man Enough
7- Rocket
8- Bringin’ on the Heartbreak
9- Switch 625
10- Hysteria
11- Let’s Get Rocked
12- Pour Some Sugar On Me
13- Rock of Ages
14- Photograph

O guitarrista Vivian Campbell, o baixista Rick Savage  e Joe Elliott: paradões demais no palco

O guitarrista Vivian Campbell, o baixista Rick Savage e Joe Elliott: paradões demais no palco

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Funky Grunge em setembro 23, 2017 às 11:51
    #1

    Ahhh nem foi tão ruim assim!!!

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