O Homem Baile

O criador

Alice Cooper não economiza na produção e mostra toda sua teatralidade em performance devastadora do Rock In Rio. Fotos divulgação Rock In Rio: Fernando Schlaeepfer/I Hate Flash (1 e 4) e Diego Padilha/I Hate Flash (2 e 3).

Mestre do rock horror, Alice Cooper mostra plena forma em um show conhecido, mas surpreendente

Mestre do rock horror, Alice Cooper mostra plena forma em um show conhecido, mas surpreendente

Um varapau com uns dois metros de altura entra no palco com cara de cadáver e um par de chifres pegando fogo. Junto dele, um macabro senhor que, até o momento, já foi eletrocutado, decapitado e quase virou comida de Frankstein. O chifrudo em chamas canta a plenos pulmões uma música lançada há quase 50 anos, mas que cai como um desfecho mais que perfeito para uma noite literalmente arrepiante. Ele é Arthur Brown, recebido com pompa e circunstância por Alice Cooper, em pleno Palco Sunset, no Rock In Rio, nesta quinta (21/9). A música é justamente “Fire”, uma porrada ocultista das boas que conta com nada menos que quatro guitarristas, incluindo Joe Perry, que, mais tarde, iria comandar um atropelamento no Palco Mundo com o Aerosmith (veja como foi). Tá bom pra você esse cenário?

Quando Tia Alice foi anunciado como uma das atrações do Palco Sunset, a dúvida: traria ele, para uma apresentação secundária, toda a produção que lhe é peculiar desde os primórdios desse tal de rock’n’roll? E outra: se no ano passado, Cooper tocou no Palco Mundo uma pá de covers com os amigos do Hollywood Vampires (relembre), por que não tocar no principal esse ano? E mais: iria Alice Cooper tocar as músicas do novo álbum, “Paranormal”, lançado este ano, sendo só uma horinha reservada para um show dessa complexidade? Questões que se esclarecem logo no início, quando a cortina cai, a banda macabra aparece colada nos amplificadores, junto com o próprio Alice devidamente maquiado e com o cajado que desde sempre o acompanha. A partir daí, é pura teatralidade do sujeito precursor na mistura de rock e horror.

Alice Cooper em sua plataforma, entre o baixista Chuck Garric e a guitarrista Nita Strauss

Alice Cooper em sua plataforma, entre o baixista Chuck Garric e a guitarrista Nita Strauss

Assim, ele aparece vestido de médico from hell, trava batalha com uma boneca de brinquedo movida à corda; espanca outra e, em seguida, vai pra guilhotina; troca de indumentária mais que muda de música; é eletrocutado e vê o monstro gigante criado pelo Barão de Frankestein passear pelo palco tal qual um Eddie do Iron Maiden de raiz. Tudo funcionando como um grande entorno para uma banda com três guitarristas, incluindo Nita Strauss, conhecida pelo The Iron Maidens, que tem direito a um belo solo de guitarra. Apesar do curto tempo, entre uma mudança de cenário e outra, até o baixista Chuck Garric e o rodado baterista Glen Sobel fazem das suas, antes do enganche final a partir de “Feed My Frankstein”. Completam a banda os guitarristas Ryan Roxie, que já tocou com Slash, e Tommy Henriksen.

E o repertório, ainda mais em uma hora só de show, fala por si só. Ok, não deu mesmo tempo para Alice Cooper mostrar as novidades de “Paranormal”, mas ninguém ficou de cara feia quando clássicos como “No More Mr. Nice Guy”, ainda com uma equalização do som em andamento; “Poison”, uma das mais esperadas e bem recebidas pala multidão reunida no Palco Sunset; ou “Halo of Flies”, com as guitarras regidas pelo maestro Cooper, foram tocadas em uma pressão absurda. No final desta, a cena que se repete e arranca aplausos o tempo todo: todos os músicos ladeando Alice Cooper na plataforma posicionada na beirada do palco. Até um olê olê olê ameaça vingar, mas o som no talo se sobrepõe a qualquer outra coisa e os olhares da plateia seguem surpreendidos por cada mudança de palco.

O guitarrista Ryan Roxie, que já foi da banda de Slash, junto com Nita Strauss na beirada do palco

O guitarrista Ryan Roxie, que já foi da banda de Slash, junto com Nita Strauss na beirada do palco

É quando Arthur Brown, possivelmente um desconhecido para boa parte da plateia, surge no palco com os chifres em chamas, trazendo Joe Perry a reboque, para a surpresa ampla, geral e irrestrita. Inicialmente recolhido junto à bateria, Alice Cooper é o mais feliz de todos, observando a farra que há anos ajuda a criar. Nesse meio tempo, tem papel picado voando pelos ares, balões coloridos lançados sobre o público para – surpresa de verdade – um encerramento classe A com “School’s Out”, o hino oficial para cabular aula, emendado com um trecho de “Another Brick in the Wall Part 2”, aquela mesmo do Pink Floyd que pede para que se deixem os alunos livres. Em suma: um show devastador e surpreendente, mesmo para um veteraníssimo que vem fazendo as mesmas coisas há mais de 50 anos.

Set list completo:

1- Brutal Planet
2- No More Mr. Nice Guy
3- Under My Wheels
4- Solo de guitarra
5- Poison
6- Halo of Flies
7- Solo baixo e bateria
8- Feed My Frankenstein
9- Cold Ethyl
10- Only Women Bleed
11- Killer/I Love the Dead
12- Fire
13- School’s Out/Another Brick in the Wall Part 2

Alice Cooper agradece ao público no final, já com Joe Perry e Arthur Brown entre os músicos da banda

Alice Cooper agradece ao público no final, já com Joe Perry e Arthur Brown entre os músicos da banda

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado