O Homem Baile

Bailão do Nilão

Em um dos shows mais esperados do Rock In Rio, Nile Rodgers entrega impecável arsenal da black music. Fotos Divulgação Rock In Rio: Ariel Martini/I Hate Flash (1, 2 e 3) e Filipe Marques/I Hate Flash (4) .

O guitarrista, produtor e gênio Nile Rodgers no comando do baile da pesada no Palco Sunset

O guitarrista, produtor e gênio Nile Rodgers no comando do baile da pesada no Palco Sunset

Não é qualquer artista que sobrevive a uma época demarcada dentro do mercado musical como o conhecíamos, sempre se mantendo relevante. Nile Rodgers é um desses, e, mais que isso, um gênio que não se prendeu no lugar comum da terrível era das discotecas, um tempo de criatividade zero e muita repetição, na qual o guitarrista e produtor jamais se apegou. Por isso show do Chic, neste domingo (17/9), no Palco Sunset, tem ares de tributo ao próprio Rodgers e às músicas que marcaram época globalmente, Brasil incluído, antes das supervias da comunicação se estabelecerem, além de se converter um bailão da pesada, muito provavelmente com o repertório mais conhecido entre todas as apresentações deste enviesado Rock In Rio.

O que de certo modo também representa uma vitória pessoal do músico, que se viu lutando contra um câncer de próstata durante três anos até se livrar da doença. “Ter sorte é estar aqui com vocês e estar livre do câncer”, brada um emocionado Nile Rodgers ao explicar a situação para a plateia, antes de mandar “Get Lucky”, a música caçula do show, gravada pelo Daft Punk com a participação de Pharrell Williams. Ao vivo, ela ganha os contornos fornecidos pela bandaça de Rodgers que estabelece espécie de sonoridade padrão remetendo ao groove e ao peso do funk de raiz, base de muito do que se ouve na música contemporânea. E realça o ótimo baixista Jerry Barnes, impondo um marcante groove em todas as músicas, com o apoio dos dois tecladistas.

Rodgers, entre as cantoras Kimberly Davis e Folami: Diana Ross e Madonna entre as homenageadas

Rodgers, entre as cantoras Kimberly Davis e Folami: Diana Ross e Madonna entre as homenageadas

Daí talvez venha o segredo do modo ímpar de tocar guitarra de Rodgers, que se envolve em espécie de cama de texturas para que o tal groove se saliente de modo incomparável, mas sem que as seis cordas deixem de ter importância. Procedimento que se nota já no início do show, com “Everybody Dance”, um dos clássicos atemporais do Chic que todo mundo conhece e canta mesmo sem saber o porquê, no momento em que o público, vindo de outras áreas da Cidade do Rock, começa a se avolumar. Em “I Want Your Love”, brilham as vocalistas Kimberly Davis e Folami, assim como em “I’m Coming Out”, de Diana Ross, que se transformou em um hino gay e cai no posto do público, em um dia em que a questão de gênero já havia sido abordada mais cedo, no show de Johnny Hooker.

Apesar da incrível vibe que paira na região do Palco Sunset, o show tem ao menos dois senões. Um é a invasão do palco, na última música, “Good Times”, outro clássico do Chic, por músicos, celebridades e bajuladores afins, que converte o show, que era de todos, em festa particular. Ora, palco invadido só vale à pena se for pelo público. Outro é quando o próprio Rodgers – e mais de uma vez – descreve a folha corrida de artistas com os quais trabalhou, em um desnecessário exercício de inflar o próprio ego. O que – diga-se – não subtrai a animação do público, que se vê participativo acendendo lanternas e em um incrível mar de braços lançado para cima de lado a outro, coisa bonita de ser ver. Em “Le Freak”, aquela mesma que em tempos idos já foi canalhamente traduzida como “Fricote”, a interação é total.

Kimberly, com típico figurino, banca a desafiante do peculiar modo de tocar guitarra de Nile Rodgers

Kimberly, com típico figurino, banca a desafiante do peculiar modo de tocar guitarra de Nile Rodgers

A infindável lista de Rogers inclui David Bowie, e o clássico oitentista “Let’s Dance”, do álbum homônimo produzido por ambos, é inserido com um peso/groove de arrebentar assoalho. Cantada pelo batera e dublê de MC Ralph Rolle, a versão traz a lembrança da jam com a música, feita pelo Maroon 5 nos dias anteriores (relembre aqui e aqui), com certa piedade. Um dos raros artistas que não se vale da lei de Lavoisier aplicada à música pop, Nile Rodgers mostrou, com sua bandaça, de onde vem uma série de bases e o modo de tocar e compor que aparece no mercado musical há anos. E que, graças aos céus, está em boa forma para seguir fazendo jorrar a criatividade impositiva de tendências que lhe é peculiar. Showzaço.

Set list completo:

1- Everybody Dance
2- Dance, Dance, Dance (Yowsah, Yowsah, Yowsah)
3- I Want Your Love
4- I’m Coming Out/Upside Down
5- He’s the Greatest Dancer/We Are Family
6- Like a Virgin
7- Get Lucky
8- Let’s Dance
9- Le Freak
10- Good Times

Imagem do espetáculo da plateia no show de Nile Rodgers, já com o palco invadido por bajuladores

Imagem do espetáculo da plateia no show de Nile Rodgers, já com o palco invadido por bajuladores

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Fabio em setembro 18, 2017 às 12:13
    #1

    Legal te encontrar por lá ontem antes desse show!
    Foi bom demais o Nilão…
    Essa turminha de VIPs tava o tempo todo ali na área dos fotógrafos só esperando o momento pra estragar o show.
    Deve ter o dedo da Roberta Medina nisso aí… misturando amizades com negócios.
    PS: O show da Alicia também foi ótimo. Já o tal Walk the Moon… deixa pra lá!

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