Agora, sim
Sem “Garota de Ipanema”, Maroon 5 reencontra seu público depois de tapar buraco na programação do Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio: Diego Padilha/I Hate Flash.
Diferença sutil que só é percebida em um olhar mais cirúrgico não só na quantidade de pessoas, mas na intensidade em que elas cantam cada uma das músicas, já que parece que essas canções são realmente íntimas de todos, os da sexta e os do sábado, há anos, tendo se convertido em uma praga pop das boas, muito embora haja virtudes a se salientar. A primeira é que o grupo segue o roteiro do show tintim por tintim, incluindo os trejeitos do vocalista Adam Levine, a hora em que ele arrasta o pedestal do microfone ou saca o casaco, com poucas diferenças. Ou o momento em que o guitarrista James Valentine e sua inseparável camiseta listrada à Ramones desce no fosso que separa o público do palco. Ou na apresentação dos integrantes da banda, sob um cover malandreado de “Let’s Dance”, de David Bowie, que Levine, esperto, prefere não cantar. Ou ainda no início de “Payphone”, quando os cinco maroons cantam o início à capela, abraçados.
Mas, de acordo com a cartilha do vocalista do Iron Maiden, Bruce Dickinson, um os maiores frontman que o mundo da música já produziu, o importante é que a mensagem seja levada a cada um dos presentes individualmente, para que todos se incluam no imenso coletivo. E é o que realmente acontece, basta olhar ao redor. Do ponto de vista do repertório, o Maroon 5 lima a canhestra homenagem à Cidade Maravilhosa com “Garota de Ipanema” - ótima ideia! - e coloca “Lost Stars” em seu lugar. A música faz parte da carreira solo de Adam Levine, foi gravada para a trilha sonora do filme “Mesmo Se Nada Der Certo”, no qual o próprio Levine atua como ator, e volta e meia entra nos shows. O grupo mantém quase todo o trecho acústico, um tiro no pé no bis que retira a força do show justamente quando lhe deveria oferecer maior pressão.
Novidade mesmo é a inclusão de uma música, ao que parece, inédita, anunciada como “nova” pelo vocalista. É “What Lovers Do”, um pop com um pé na soul music, quase sem guitarras e com o falsete de Levine fora do controle. Ou seja, uma típica canção do Maroon 5, tão facinha que, mesmo com cheiro de fábrica, dá para ter um ou outro trecho já cantarolado de antemão. As guitarras seguem com bom realce de Valentine, o cara por trás do Maroon 5, em músicas como “Daylight”, que traz a reboque um ôôô marcial colossal, no encerramento da primeira parte, com as cordas miando fundo; “Lucky Strike”, a tal em que ele vai pra cima da plateia; e na enjoada “Animals”, na qual os gritinhos de Levine se convertem em um pé no saco. “Maps”, não pelo peso, mas pelo grude vivo, também é mais notada nesta segunda noite.Menos lascivo na sexta, por assim dizer, desta feita Adam Levine extrai os arrepios das moças ao retirar a camiseta e exibir o catálogo de tatuagens no final do show. É fato que o vocalista guarda semelhança – física inclusive - com Dinho, do Capital Inicial, mas o Maroon 5 é seguramente – repita-se – espécie de versão extramuros/globalizada do Jota Quest. As referências são boas, há a música negra da Motown, o soul, o reggae, o pop com guitarras. Mas as músicas que salvam, de tão grudentas, podem trazer a sensação de asco só de ouvir as vozes de Rogério Flausino e de Levine e seu perene falsete. Uma avalição que passa longe da Cidade do Rock, embevecida por um alto astral que retira um parafusinho do cérebro. Sim, música também serve pra isso.
Set list completo:
1- Moves Like Jagger
2- This Love
3- Harder to Breathe
4- Locked Away/One More Night
5- Misery
6- What Lovers Do
7- Love Somebody
8- Animals
9- Maps
10- Lucky Strike
11- Sunday Morning
12- Let’s Dance
13- Makes Me Wonder
14- Payphone
15- Daylight
Bis
16- Lost Stars
17- She Will Be Loved
18- Don’t Wanna Know
19- Sugar
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