O Homem Baile

Torturante

Show denso, arrastado e pesado do Alice In Chains mina a plateia do Rock In Rio sem piedade. Fotos Divulgação: Raul Aragão (1 e 3) e Carlos Delagusta (2).

O novo vocalista, William DuVall, que também toca guitarra: adequação total ao modo Alice In Chains

O novo vocalista, William DuVall, que também toca guitarra: adequação total ao modo Alice In Chains

Que a formação que marca o retorno do Alice In Chains foi aprovada pelos fãs brasileiros todo mundo já sabia, depois da passagem da banda pela edição de 2011 do no SWU (veja como foi). Mas faltava a volta às plagas cariocas, onde o grupo, ainda liderado por Laney Staley, morto em 2002, fez show histórico no Hollywood Rock de 1993. Faltava até o Rock In Rio abrir as portas, ontem (19/9) para o grupo desfilar um coletivo de canções lentas, dramáticas e arrastadas que minam o público devagarinho, diferentemente do soco na cara que o Metallica daria mais tarde (veja como foi), encerrando a noite no Palco Mundo.

Jerry Cantrel: guitarra e boas vocalizações

Jerry Cantrel: guitarra e boas vocalizações

Quem conhece o grupo só do hit “Man In The Box”, que levanta a multidão de imediato, recebe o impacto do repertório do show sem saber como o processo de impregnação funciona. Para quem não se deu conta, o Alice In Chains é da ala sabbathiana do grunge, e usa dos riffs arrastados do grupo que inventou o heavy metal para esticar histórias dramáticas que se confundem com a da própria banda, que já perdeu dois integrantes em idade precoce. Por isso o guitarrista Jerry Cantrel dedica “Nutshell” ao guitarrista Layne Staley (34) e ao baixista Mike Star (44), cujas iniciais aparecem no bumbo da bateria de Sean Kinney. Cantrel é o responsável por reformar o grupo com o novo vocalista, William Duvall, um verdadeiro achado que resolve tudo o que é preciso na banda.

Não só pelos seus próprios méritos, mas porque a voz de Duvall - que ainda toca guitarra -, junto com a de Cantrel fecham um tom sonoro muito semelhante às vocalizações que a banda fazia desde os tempos de Staley. A abertura do show, com “Them Bones”, que teve certo sucesso, inclusive no Brasil, e “Dam That River”, cujo riff distorcido em volume altíssimo adere ao cérebro de imediato, deram uma amostra de que o quarteto não estava para brincadeira. Cantrel não se esquiva e desanda a mandar solo atrás de solo, além de evoluções de guitarra que faz parecer que há mais de um guitarrista no palco, em que pese a base consistente do baixista Mike Inez. Em “Stone”, uma das duas do disco novo, “Devil Put Dinosaurs Here”, a mudança de andamento imposta pelo guitarrista é de cativar até o ouvinte mais inóspito.

DuVall solta o vozeirão, com Cantrel ao fundo

DuVall solta o vozeirão, com Cantrel ao fundo

Na sombria até os ossos “Rain When I Die” é William Duvall que solta a voz enquanto um vídeo pra lá de viajante embala a multidão. A música prepara para a entrada de um hit lado B genial: “Die Young”. Seus riffs colantes e encardidos de tanto peso e distorção dão a ideia de onde a banda quer levar a plateia e como ela faz isso de forma quase a torturar um por um, cara a cara, individualmente. Seis das músicas do show são do álbum “Dirt”, de 1992, incluindo “Down In a Hole”, cujo título falaria por si só, não fosse o arranjo uma tentativa cruel de se chegar ao limite do peso arrastado cultivado com esmero pelo Alice In Chains em todas as suas formações.

Pena que o grupo, sabe-se lá o porquê, renunciou a cerca de 10 minutos de apresentação a que ainda tinha direito, terminando o show precocemente com “The Rooster”. No show do SWU foram 18 músicas, contra 13 tocadas ontem. O que não subtrai, de outro lado, a intensidade de um repertório raro e que se perpetua nesta nova encarnação. Por isso o público cansado que chegou cedo e participou de todos os shows, à espera do Metallica, caiu no transe imposto sem piedade pelo quarteto. Agora é a hora de voltar ao Brasil, enfim, para uma turnê solo como atração principal em casas fechadas.

Set list completo:

1- Them Bones
2- Dam That River
3- Hollow
4- Check My Brain
5- Again
6- Man in the Box
7- Nutshell
8- Rain When I Die
9- We Die Young
10- Stone
11- Down in a Hole
12- Would?
13- Rooster

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Marcos Pinheiro em setembro 20, 2013 às 23:24
    #1

    Descrição perfeita, xará! O show foi foda mesmo. Não estive no SWU 2011 e me senti ontem viajando no tempo há 20 anos, quando vi o Alice in Chains naquele Hollywood Rock. Muito provavelmente nos shows que eles farão em Porto Alegre e São Paulo na próxima semana o set será bem maior. Sorte de quem for. Eu já fiquei feliz por ontem.

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