O Homem Baile

Redenção

Após 18 anos longe do Brasil, Alice In Chains volta com novo vocalista, destrona a atração principal da última noite do SWU e sai como um dos melhores shows do festival. Fotos: Pedro Carrilho/Divulgação.

Aprovado: William DuVall superou as espectativas ao substituir o insubstituível

Aprovado: William DuVall superou as espectativas ao substituir o insubstituível

Se eles soubessem que um show no Brasil seria tão bom teriam voltado antes. “Mas voltaremos logo, definitivamente”, disse o guitarrista do Alice In Chains, Jerry Cantrell, entre uma música e outra, no show que acabou roubando a cena no headliner, ontem, na noite de encerramento do SWU. O grupo tocou pra possivelmente o maior público do dia – que teve lotação máxima de 70 ml pessoas, segundo os organizadores - debaixo de uma chuva que marcou presença o tempo todo, mas de forma mais intensa durante a apresentação do quarteto. O efeito contribuiu ainda mais pra o clima soturno, denso e pesado da maioria das músicas cravadas na história pelo Alice In Chains – que outra banda teria um nome como esse?

O baixista Mike Inez e Duvall sob a insistente chuva

O baixista Mike Inez e Duvall sob a insistente chuva

Ocorre que, nas duas noites de 1993, uma no Rio e outra em São Paulo, dentro do saudoso Hollywood Rock, há quem alegue que banda era outra, com o baixista Mike Star e (principalmente) o vocalista Layne Staley, responsável por boa parte das letras. Que era o auge do grunge e blábláblá. Mas, ontem, era fechar os olhos que a voz de Staley parecia estar lá, saindo a boca do novo vocalista, William DuVall. O sujeito com camiseta do Led Zeppelin e semblante de Jimi Hendrix é um achado para o grupo, que retornou em 2005 e hoje é liderado pelo fundador Jerry Cantrell. Staley e Star – que foram dessa para uma outra – receberam a justa homenagem de Cantrell, que lhes dedicou a tristíssima balada “Nutshell”, em cuja letra Staley diz “que se sentiria melhor morto”.

O show não é marcado pela tristeza, mas, também, não abre mão do drama. A abertura, ao contrário, é em alto astral, com a dupla de hits “Them Bones”/”Dam The River”, que serve para DuVall jogar por terra qualquer resquício de desconfiança que ainda pudesse pairar sobre a ingrata função de substituir oi insubstituível. Dúvida que, lá fora, já foi tirada com o único álbum com essa formação, “Black Gives Way to Blue”, lançado em 2009 e frequentador das paradas de sucesso. Dele, foram incluídas quatro músicas – só o clássico “Dirt”, de 1992, cedeu mais -, para acabar com resquícios de que a apresentação seria revivalista, como tantas, numa noite calcada em grupos noventistas. A primeira delas é “Check My Brain”, de refrão forte e pernicioso. Curiosamente, a canção não estava no set list inicialmente divulgado pela produção.

Jerry Cantrell: o cérebro do Alice In Chains

Jerry Cantrell: o cérebro do Alice In Chains

DuVall, que dá uma força nas guitarras em algumas músicas, fala com o púbico num bom português. “E aí São Paulo? Estamos muito felizes de estarmos aqui”, diz ele, antes de da oculta “Again”, a quarta da noite. A boa qualidade do som enfatiza o que o Alice In Chains tem de melhor: os andamentos arrastados à Black Sabbath, pesados e distorcidos até o limite, que ajuda a enfatizar o drama das canções. Clássicos como “We Die Young”, outra travessura de Staley; “Man In The Box”, cantada em uníssono por uma platéia ensopada; e “Down In a Hole” são as que mais encantam o público. Mas as novas “Acid Bubble”, cuja mudança de andamento brusca arrepia, e “Your Decision” não ficam atrás; já são parte do cancioneiro louco do Alice In Chains.

Loucura que parece em vídeos projetados no telão no fundo de palco, compondo com as músicas o clima que só o quarteto tem, ainda mais ao vivo. As 18 músicas, essenciais para qualquer fã de rock, superaram os 90 minutos a que o Alice In Chains tem direito, colocando o grupo como a verdadeira atração principal da noite. Sem apelação, o novo Alice In Chains mostrou que está em grande fase, sob olhares de incrédulos brasileiros que comprovaram que, ao menos no rock, é, sim, possível a vida após a morte. Ou, por outra, o encontro com a eternidade.

DuVall e sua boa performance de palco

DuVall e sua boa performance de palco

Set list completo:

1- Them Bones
2- Dam That River
3- Rain When I Die
4- Again
5- Check My Brain
6- It Ain’t Like That
7- Your Decision
8- Got Me Wrong
9- We Die Young
10- Last of My Kind
11- Down in a Hole
12- Nutshell
13- Acid Bubble
14- Angry Chair
15- Man in the Box
16- Rooster
17- No Excuses
18- Would?

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Comentários enviados

Existem 7 comentários nesse texto.
  1. Gustavo em novembro 15, 2011 às 16:14
    #1

    O show foi bom mesmo. Mas discordo com o subtítulo. O Faith No More fez o melhor show do festival. Ao contrário do Alice In Chains, Patton foi o dono da noite. Fui para ver o Megadeth, mas a performance do FNM (principalmente do vocalista) me surpreendeu. E o show do Megadeth também foi melhor que o do Alice in Chains.

  2. Marcos Bragatto em novembro 15, 2011 às 16:44
    #2

    Eu disse ‘um dos melhores’, Gustavo, não ‘o melhor’. Um abraço!

  3. Marco a. Augusto em novembro 15, 2011 às 21:00
    #3

    Também discordo. Usar a palavra “destrona” foi exagero.
    Aliás, o O DuVall é ótimo. Canta, sola e é performático; usa até camiseta do Led! Mas como o rock, por origem, não é perfeição, e sim transgressão, fico com a apresentação do FNM, e o vocalista, que, sem cartilhas, nos surpreende constantemente.

  4. Jonass em novembro 16, 2011 às 9:39
    #4

    Aqui no Brasil o pessoal tem uma certa “devoção cega” em cima do Faith No More., putz, como tem paga pau dessa banda aqui.

  5. Fabo em novembro 16, 2011 às 11:12
    #5

    Eu vi os quatro últimos shows pela TV.
    Megadeth, STP, Alice e FNM fizeram grandes shows…
    STP e FNM tiveram aqui no Rio não tem muito tempo, e já sabia que seria bom. Scott Weiland até fez lembrar os bons tempos dançando bastante, coisa que nao fez no Circo (talvez pela falta de espaço no palco).
    Mike Patton nem precisa de comentários. Tirando algumas bizarrices de projetos solo, quando tá à frente do FNM faz sempre shows vicerais. Eu diria que é disparado o melhor vocalista dos ultimos 20 anos. A banda segue afiada.
    Sobre o Alice, vale muito pelas músicas e pelo Cantrell, mas a magia não tá mais no palco, apesar do cara novo dar conta dos trabalhos.
    Megadeth já tá com um pouco mais cara de Megadeth com a volta do Elefson… e Mustaine faz sempre um show competente.

    E sobre o dia anterior, Lynyrd Skynyrd fez um show emocionante. Me impressionou ver uma galera bem nova chorando e cantando junto.

  6. Andre Lima em novembro 16, 2011 às 13:34
    #6

    “As 18 músicas, essenciais para qualquer fã de rock”? Hahahaha. Menos, né? O AIC fez exatamente o mesmo show que fizeram aqui em 1993: começaram (bem) na paulada, depois fizeram um espetáculo de marasmo (que, somado com a infeliz chuva, fez um monte de gente debandar para o palco do FNM ou simplesmente vazar do festival), voltando só a animar a plateia nas três últimas músicas. A banda foi simpática e empolgada, mas continua fazendo um show formulaico e totalmente inadequeado para um público sofrendo com a chuva. Deviam ter invertido a escalação deles com o STP, que foi bem mais animado no palco.

  7. FF em novembro 17, 2011 às 11:27
    #7

    Foi ótimo pra dormir meia horinha na arquibancada. Esse vocalista se sairia muito bem numa churrascaria.

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