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Considerado grupo de porte médio no exterior, Sodom é destaque maior na noite pesada do Abril Pro Rock; hardcore do DFC atropela sem prestar socorro e Krisiun faz do festival terra devastada. Fotos: Rafael Passos/ Divulgação.
Entre os brasileiros, coube ao DFC, mais cedo, iniciar a porradaria. “Vamos meter o pau no cu do capitalismo em posições obscenas”, avisada logo de cara o vocalista Túlio, citando o título de uma das músicas. O que vem depois são sequências e mais sequências de hardcores ultra rápidos, sempre com a afiada verve politicamente incorreta. Com o DFC, sobra pra todo mundo: políticos, papas, pastores, polícia e por ai vai. No púbico, o que se vê é aquela que seria a maior roda de pogo da noite. No Recife, ela se parece com uma roda de ciranda, com todos correndo uns atrás dos outros, sem muito confronto individual. Coisa linda de se ver de cima, imagina de participar. É incrível, mas o DFC estava há 18 anos sem pisar na capital pernambucana, sendo que a maioria no público nunca tinha visto a banda ao vivo. O grupo mandou mais de 30 músicas, com destaque para o clássico “Molecada 666”, que fechou o show; “Cidade de Merda”, singela homenagem a Brasília; e “Petróleo Maldito”. Numa palavra? Matador.
A coisa ficou difícil para o local Devotos (ex-do Ódio), que curiosamente estava há 12 anos sem tocar no Abril Pro Rock, por conta de uma lamentável pendenga com a produção. Por isso o vocalista/baixista Canibal, embora não pudesse esconder a satisfação de voltar àquele palco, citou Paulo André, idealizador do APR, como uma das tantas coisas a se odiar na música que deu o nome à banda. Ironia? Vai saber. O show teve grande produção, com um telão enorme no fundo do palco, além dos outros dois da casa. Mesmo sem atingir o nível de loucura do DFC, o Devotos colocou o povão pra pular quase o tempo todo, muito embora a inserção de reggaes e dubs (uma onda meio The Clash, coisa nova para eles) entre algumas das 22 músicas tenham tirado o pique do show. Também, é preciso respirar um pouco né? O trio matou a pau com “Tenho Pressa”, “Tem de Tudo”, “Futuro Inseguro” e “Roda Punk”, quando Canibal incentiva todos a conjugar o verbo arrudiar. Mais Recife impossível.Espremido entre Dead Kennedys e Sodom, coube ao Krisiun não deixar pedra sobre pedra, uma das especialidades do trio, diga-se de passagem. A ótima abertura é com “Ominous”, cujo instrumental nervoso permite, sim, a cantoria, enquanto o pescoço se quebra. Era só a senha do que iria acontecer na próxima quase hora de show, e o grupo privilegiou um repertório clássico, mesmo porque não lança disco desde o ótimo “The Great Execution”, de 2011. O baixista/vocalista Alex Camargo não deixa de falar em “união do metal nacional” em nenhum dos intervalos, o que incita ainda mais o público. Além do cover pra a clássica “No Class”, do Motörhead, realçaram a noite “Sentenced Morning”, na qual o batera Max Kolesne se supera ainda mais e a “das antigas” “Vengeances Revelation”, quando Camargo saúda o Sodom.
A ligação direta com o Krisiun se deu antes, quando o Kataphero baixou no palco do festival. Não que o grupo de Natal seja “from hell”, ele é a personificação do mal em forma de metal extremo. Ajudado por uma boa produção de palco que inclui um figurino caótico de pós guerra e boa iluminação, o quarteto se vale de levadas sombrias o tempo todo, misturando as guitarras com sons pré gravados que – agora sim -, dão resultado. Destaque para a sinistra “Landschap” e o final com “Thanatolatria”, que ergueu os braços da plateia pela primeira vez no sabadão. Assim como no Rock In Rio, no APR também tem banda que vem de contrapeso, no caso o Fang, que veio “casada” com o contemporâneo Dead Kennedys. O grupo faz um som tipicamente hardcore da Califórnia década de 80, até com referências ao punk de raiz dos Sex Pistols. Nada que acrescentasse ao line up da noite, muito embora o vocalista Sam MacBride, que por anos viu o sol nascer quadrado, tenha boa presença de palco.Preocupado em fechar a noite já na alta madrugada, Andre Matos ajustou o set de sua banda solo de modo a privilegiar o repertório do álbum “Angels Cry”, que ele gravou com o Angra, há 20 anos. É o único momento em que se vê a mudança no público, com a reunião de fãs mais contemplativos, mas que participam pra valer, sobretudo nos clássicos, batendo cabeça e aplaudindo. E, quase às duas da madruga, Andre Matos conseguiu reunir muita gente, em que pese a debandada dos punks e thrashers, maioria absoluta na noite. No set, as quatro primeiras são da carreira solo de Andre, sendo duas (“Liberty” e “Course Of Life”), do bom álbum “The Turn Of The Lights”, lançado no ano passado. Andre mostra boa forma, mesmo nas músicas mais antigas, que exigem alcances vocais mais altos, e interage bem, sobretudo em “Living For The Night”, hino do Viper, na bela “Time” e na própria “Angles Cry”. Um bom encerramento para o APR 2013.
Na abertura, duas bandas locais tiveram a incumbência de entreter os camisas pretas mais afobados que chegaram cedo. A primeira é a Vocífera, composta só por meninas e que investe em um death metal com vocais rasgados à Angela Gossow. O grupo é muito novo – a baixista seguramente é menor de idade – e mostra músicas que revelam falta de foco, transitando por várias outras subdivisões do metal. Um pouco mais de velocidade também vai contribuir. Mais rodado, o Kriver também tem lá suas variações ao thrash de raiz e até ao prog metal, mas se vale de um bom entrosamento e do ótimo vocalista para seguir em frente. O grupo está num estágio mais avançado e tem tudo para crescer no metal nacional.Set list completo Sodom:
1- In War And Pieces
2- Sodomy And Lust
3- M-16
4- Outbreak Of Evil
5- Surfing Bird
6- The Saw is The Law
7- Bust Command ’till War
8- Proselytism Real
9- Agent Orange
10- Ausgebombt
11- City Of God
12- Blasphemer
13- Remember The Fallen
Veja também:
Marcos Bragatto viajou ao Recife à convite do festival.
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