O Homem Baile

Rapidinha

Discreto, porém eficiente, Television mostra beleza das guitarras límpidas para público desatento em curta apresentação no Abril Pro Rock. Fotos: Rafael Passos/Divulgação.

Virtuose: os guitarristas Tom Verlaine e Jimmy Rip duelam em frente ao baterista Billy Ficca

Virtuose: os guitarristas Tom Verlaine e Jimmy Rip duelam em frente ao baterista Billy Ficca

Eles eram a atração principal da noite, mas acabaram tocando na meiúca da programação, num flagrante de total descrição. Quando subiu o palco do Abril Pro Rock, no Recife, na noite desta sexta (19/4), o Television viu um misto da neófitos curiosos e de fãs oitentistas vibrarem com as guitarras precisas fincadas pelo grupo em um canto perdido da história. Era o início do punk e da new wave americana e Tom Verlaine e Richard Lloyd entrando numas de virtuose das guitarra… O resultado foi o atropelamento da história e a tardia conversão do quarteto em artigo cult. Tanto que a banda voltou na década de 90 e faz volta e meia quase que o mesmo show, baseado nos dois únicos álbuns, “Marquee Moon” (1977) e “Adventure” (1978); leia crítica aqui.

O concentrado baixista Fred Smith

O concentrado baixista Fred Smith

Quase o mesmo porque na noite de ontem a apresentação foi curta, não bateu uma horinha e ficou aquém do que se espera quando o assunto é guitarras e virtuose, mesmo que seja uma virtuose pouco escalafobética como se vê em guitarristas solo por aí, e muito mais refinada. Richard Lloyd não está mais na banda, mas Jimmy Rip se sai muito bem como coadjuvante do mestre - e esquisitão - Tom Verlaine. Rip chamou a atenção ao ser alvo de uma lata de cerveja lançada do meio da plateia. Ele esboçou uma reação mais agressiva ao erguer o dedo do meio com os demais dobrados para o público, mas, soube-se depois, o objeto veio das mãos de uma senhora catadora muito louca que desde cedo dançava no meio do povão. Que azar, hein, Jimmy?

Quando voltou da beirada do palco, o guitarrista parecia mais ligado para a jam final de “Breaking In My Heart”. As músicas tocadas pelo Television em geral são assim: começam meio como quem não quer nada e desaguam em improvisações - por vezes nem tão espontâneas, diga-se - que esticam as canções anda mais que nas versões originais. Parece chato, mas não é, porque a sonoridade tirada por Verlaine e Rip é realmente única, limpa, clara, e as melodias sacadas pela dupla são de um bom gosto excepcional. A idas e vinda de “Marquee Moon”, turbinada com uns 14 minutos de duração, são de arrepiar e conquistam mesmo quem nunca ouviu um tiquinho que seja da canção. Em “Little Johnny Jewel”, espécie de sobra de “Marquee Moon” (o álbum), é o baixista Fred Smith quem marca um riff dos mais colantes que marca a solidez das música.

Jimmy Rip bateu boca com a catadora muito louca

Jimmy Rip bateu boca com a catadora muito louca

É uma pena quem diante dessa paisagem sonora única, boa parte do público tenha aproveitado para colocar a conversa em dia, prejudicando - e muito - as partes mais intimistas do show. Fez lembrar o famoso episódio da “plateia apática” detectada há cerca de um ano por um grande jornal de São Paulo que veio ao Recife cobrir os shows de Paul McCartney, o que deu o maior bafafá. Os que conversaram perderam a pegada jazzística do baterista Billy Ficca, sobretudo na já citada “Breaking In My Heart”, convertida numa espécie de jazz-new wave de última hora; mas tiveram que falar mais alto ou calaram a boca para contemplar os solos de Tom Verlaine em “Glory” ou mesmo os duelos dele com Jimmy Rip em “Venus”, com um onda minimalista que fez subirem os aplausos. O grande desfecho se deu mesmo com “Marquee Moon”, onde os músicos, veteranos, se reconhecem no palco e percebem o que fizeram. Pena ter ficado “só” nisso.

Set list completo:

1- Prove It
2- Little Johnny Jewel
3- Glory
4- Breaking In My Heart
5- Persia
6- Venus
7- Marquee Moon

O Abril Pro Rock continua hoje, com Sodom, Dead Kennedys, Krisiun e Devotos como destaques. Clique aqui para ver a programação completa do festival e acompanhe a nossa cobertura exclusiva.

Marcos Bragatto viajou ao Recife à convite do festival.

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. David em abril 20, 2013 às 11:08
    #1

    A banda tem outro disco lançado, o “Television” de 1992.

  2. Betto Skin em abril 22, 2013 às 11:51
    #2

    Cara, como você pode esquecer do disco de 1992?
    É nesse disco homônimo, que Richard Lloyd faz o último trabalho com a banda. Também consta na discografia oficial da banda, um duplo ao vivo chamado Blow-up (lançado no Brasil pela Trama). Foram jogados objetos por 3 vezes. A primeira em Verlaine e as 2 seguintes em Jimmy, que não se chateou com o primeiro objeto, mas no segundo ele estourou de raiva. Lamentável o fato ocorrido. Acho que isso fez com que o show fosse tão curto. Fiquei com a impressão de um coito interrompido.

  3. Adelvan em abril 22, 2013 às 15:20
    #3

    Coito interrompido, boa definição. Mal pra mim, que, acredito, provavelmente nunca mais terei a oportunidade de ver a banda que já era pós punk antes do punk.

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