O Homem Baile

Do ramo

Com performance arrojada, Cassino Supernova surpreende como grata revelação do Festival Casarão. Foto: Douglas Diógenes/Divulgação.

cassinocasarao12Tinha tudo para dar errado. Em vez de ser a banda principal antes do Cachorro Grande (veja como foi), o Cassino Supernova foi o terceiro a subir no palco menor, por causa de uma determinação logística da companhia aérea que abreviou a estada do quinteto em Porto Velho, na segunda noite do Festival Casarão. O que poderia ser um problema, se converteu, como dizem os analistas de mercado, numa oportunidade. Como uma atitude rock’n’roll rara nos nossos tempos, o grupo de Brasília detonou um set contagiante, cheio de referências ao bom e velho rock de tempos passados - podem considerar as décadas de 50, 60, 70 e o escambau.

Primeiro que o vocalista Gorfo é do ramo. Já em “Sapatos e Vinis”, um roquinho anos 50 dos bons, à Cacaveletes, o sujeito parte para a beirada do acanhado palco como se estivesse se encarando a multidão do Rock in Rio. A empatia faz o público participar de imediato, como se a banda fosse um bando de rockstars na capital de Rondônia.

Depois, a dupla de guitarristas não deixa por menos, disparando solos e riffs sem dar trégua, com retorno – de novo – imediato; poucas vezes se viu, em 30 minutinhos, tamanha interatividade público/banda. Quem domina as ações é Raphael Valadares (o da esquerda, na foto). Em “Cinco” e “Flashes” ele se supera e tira vantagem do próprio rock para enlouquecer o público, solando como se não houvesse amanhã. Não fosse o show arrebatador do Cachorro Grande e o Cassino supernovas sairia facilmente com a pecha de ter “roubado a cena”. Olho vivo na candangada.

Outra boa surpresa foi o local Kali e os Kalhordas, apontando numa direção completamente diferente. Aqui bases cheias de suingue (funk de raiz, música negra e rock) citam referências à bossa nova e ao pop contemporâneo, mas distante da tragédia que resultou do encontro entre o indie e a mpb. Embora ainda iniciante, a cantora Kali Tourinho, mesmo com dificuldade para ser ouvida, mostrou grande intimidade musical/melodiosa, flutuando ao cantarolar sobre linhas de baixo e guitarras inventivas. Muitas descambaram para improvisações de dar gosto, até com boa participação do guitarrista Jeferson Almeida.

Curiosamente, é ele quem lidera, também como vocalista principal, o Theoria das Cordas, que se apresentou mais cedo, com uma peça messiânica-teatral-raulseixista-cabeção de dar dó. Além do conteúdo obtuso, Almeida é péssimo cantor, e, como guitarrista, é coadjuvado por Luciano Duarte, cujos solos parecem ter saído direto de uma banda de metal melódico, completamente não adaptados ao grupo. Apostem em Kali e sua turma que é mais jogo, rapazes.

O power trio Veludo Branco, de Roraima, tem o rock na veia, mas se perde justamente nisso: investe muito em covers de clássicos. Ou, por outra, em músicas próprias que são quase covers, de tanto que citam os clássicos do gênero. É pout pourri de Black Sabbath aqui, Stray Cats acolá, Clapton mais adiante, tudo no meio de composições ditas “próprias”. Melhor investir em compor novas músicas ou se assumir como banda cover. Preferimos o risco da primeira parte.

Com Os Últimos o problema é parecido, uma vez que o vocalista cismou de cantar igualzinho ao Rodrigo Amarante, do finado Los Hermanos. Mesmo assim o show poderia ter sido melhor, se as condições de palco não estivessem em teste – daí não se entender nada que saía do gogó do “amarantinho” – e o público fosse exíguo. Vamos chegar mais cedo, pessoal!

Marcos Bragatto viajou à Porto Velho à convite da produção do Festival Casarão.

Veja também: como foi a primeira noite

Veja também: como foi o show do Cachorro Grande, na quinta

O Festival Casarão segue hoje e vai até sábado. Saiba mais aqui.

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Amanda kuller em setembro 8, 2012 às 11:42
    #1

    Los hermanos extinto… rsrsrs. Você esta extinto, Los Hermanos esta de volta ainda melhor.

  2. Cesar em setembro 11, 2012 às 2:33
    #2

    Obrigado ao Rock em Geral por assistir e resenhar nosso show no Festival Casarão em RO. Tiraremos da crítica, com certeza, mais aprendizado para seguir em frente cada vez melhor. Aula gratuita de um grande mestre em música e rock em geral.

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