O Homem Baile

Dia de festa

Escalação diversificada e discurso local dão o tom na noite de encerramento do Festival Casarão, em Porto Velho. Fotos: Douglas Diógenes.

wadocasarao12No último dia, o Casarão deixa o ambiente fechado e se transforma naquele festival que todo mundo sonha: palcão montado em praça pública, no centrão de Porto Velho, com entrada franca para quem quisesse chegar. E, talvez por isso mesmo, uma escalação tão variada a ponto de quase não permitir a interação entre as tribos envolvidas. Basicamente, uma matinê heavy metal/punk foi programada para mais cedo, e bandas de outros segmentos se encarregaram de dar continuidade. O problema é que tudo atrasou um pouco – diferentemente de outras edições – e os shows se estenderam até muito tarde, afugentando boa parte do público.

Quando Wado (foto), por exemplo, tido como headliner, subiu no palco, o fã de metal já tinham colocado a guitarra no saco e os engajados beradeiros ou voltaram para a beirada do Rio para fazer nada ou se encaminharam para um show de reggae numa tal Bat Caverna. O cantor alagoano, com uma banda enxuta formada por tecladista e baterista, acabou saltado músicas do repertório que tinha planejado tocar, resultando numa apresentação, no mínimo, irregular. Wado acerta em ritmos bem sacados como o de “Tarja Preta” e se sai bem na guitarra com “Esqueleto”, mas ao enveredar pelo batidão do funk de morro do Rio ou pelo axé, soa mais apelativo do que inventivo. Uma pena que a estreia dele em Porto Velho tenha acontecido sob essas condições.

Talvez fosse melhor o Beradelia ter fechado a noite, uma vez que foi a banda que reuniu mais público. Espécie de Planet Hemp/O Rappa da beirada do Rio Madeira, o grupo substitui a temática da maconha do primeiro e das comunidades cariocas do segundo, pela apologia do que eles chamam da cultura da beira do Rio, dos beradeiros. Dessa vez, além das letras direcionadas para o tema, a banda recebeu no palco ícones da tal cultura, incluindo o vistoso “Folião Beirute Porto Velho”, trajado com um general da banda/mestre sala da local, e ainda o canto que pareceu ser o hino da cidade, puxado da plateia por outra integrante dos “beradeiros”. Afora o tom político/regional ensimesmado, o show animou a plateia, que, no final abriu uma roda de ciranda, num dos momentos mais participativos da noite.

No meio do caminho estavam os curitibanos do Tangerines And Elephants e o mineiro Transmissor. O segundo investe num rock suave fortemente influenciado pelo Clube da Esquina – até uma cover de “Nada Será Como Antes”, de Milton Nascimento entrou no repertório. O problema é que o grupo promove aquele troca-troca de músicos e instrumentos, e ainda não decidiu quem canta melhor, já que a função é repartida por uns três integrantes, sem que muita coisa mude. Também é preciso tomar cuidado para o grupo não cair no lugar sem volta da tragédia que é o encontro do indie rock com a mpb. Com tantos senões, agradaram ao púbico pela simpatia dos integrantes, velhacos da cena mineira.

O Tangerines And Elephants, segundo consta, fez o primeiro show fora de Curitiba e mostrou um pop rock escalafobético de difícil compreensão. Sejam os vocais alterados de modo esquisito por efeitos de pedais, ou pela falta de sequencia melódica nas músicas propriamente ditas, o trio viaja mais do que se organiza no palco. Tal situação o coloca num patamar ambíguo que reúne indie rock, progressivo e eletrônica, entre outros subgêneros, sem o mínimo de comprometimento com nada disso. Pense em Jesus And Mary Chain meets King Crimson.

A matinê do esporro marcou a estreia do Illusion Death, a nova aposta do bom vocalista Mario Henrique, que no ano passado brilhou com o NEC. Dessa vez a ênfase foi no death metal, mas o grupo ainda deve melhorar com novas apresentações. O Bedroyt também tocou no ano passado – a repetição de bandas locais é comum no Casarão – e não mostrou algo tão diferente. Dessa vez, o ícone local Gustavão, que faz as vezes de galã canastrão, optou por cover de Iron Maiden, no lugar de Megadeth, mas também tocou seus próprios hits locais, como “Far Away From You”, sempre identificados com o metal tradicional, pretexto ideal para Gustavão mostrar a sua virtuose.

Depois de furar no ano passado, o veterano Coveiros deu as caras e teve a maior participação de público na matinê no esporro. O grupo mistura metal com hardcore e cita as mais diversas referências, incluindo Ratos de Porão, Sepultura e Pantera. Com poucas músicas próprias, no entanto, soa mais como banda de baile que anima tocando standards. Ao Malcriados coube o nariz de palhaço do festival. Integrantes de meia idade e fora de forma fazendo punk adolescente, assim como o Beradelia, recheado de críticas às mazelas locais. Pelo visto, eles não subiam num palco há um bom tempo. Nem precisavam.

Placar Rock em Geral
Expresso Imperial: 7
Medialunas: 8
Os Últimos: 4
Theoria das Cordas: 4
Cassino Supernova: 9
Veludo Branco: 6
Kali e os Kalhordas: 8
Cachorro Grande: 9
Jam: 7
Sub Pop: 5
Os Descordantes: 8
Versalle: 8
Pouca Vogal: 7
Illusion Death: 6
Malcriados: 4
Coveiros: 5
Bedroyt: 4
Transmissor: 6
Tangerines and Elephants: 5
Beradelia: 8
Wado: 6

Marcos Bragatto viajou à Porto Velho à convite da produção do Festival Casarão.

Veja também
Cobertura da primeira noite
Cobertura da segunda noite
Cobertura Cachorro Grande
Cobertura da terceira noite

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