O Homem Baile

Condecorações aos veteranos

Em apresentação visceral, Titãs volta a ser banda de rock, revive ‘Cabeça Dinossauro’ e apresenta música nova para Circo Voador lotado. Fotos: Luciano Oliveira.

Paulo Miklos aponta para o público participativo; no fundo do palco, a capa de 'Cabeça Dinossauro'

Paulo Miklos aponta para o público participativo; no fundo do palco, a capa de 'Cabeça Dinossauro'

Era de certo uma noite fadada a recordações. Afinal, o Titãs iria tocar nada menos que a íntegra de “Cabeça Dinossauro”, seu álbum mais emblemático, lançado em 1986. Mas a entrega veio muito melhor do que a encomenda. Reduzidos a um quinteto, o grupo presenteou o público com um show de rock de verdade: pesado, forte, pulsante, visceral. Com os integrantes tocando instrumentos o tempo todo, o grupo mandou 14 porradas na cara do público, fora as 13 do ‘Cabeça’, tocadas num pique só, do início ao fim. E o repertório foi selecionado, nada daquelas babas radiofônicas (“Marvin”, “Epitáfio” e afins) que encheram o saco dos fãs e bolso deles por tanto tempo. De quebra, uma música nova ainda foi apresentada.

O mascarado Tony Bellotto esmerilhou a guitarra

O mascarado Tony Bellotto esmerilhou a guitarra

A ideia de tocar a íntegra de um disco de sucesso parece fácil, mas nem sempre as músicas, na ordem em que aparecem gravadas, antes de serem conhecidas pelo público, resultam num empolgante repertório para uma apresentação ao vivo. Só que “Cabeça Dinossauro” é um disco só de hits, de cabo a rabo, e é nessas horas, com a banda tocando tudo no talo, sem dar tempo para respirar, que se descobre como se trata de um álbum de verdade, homogêneo, com conceito, inicio, meio e fim. Não há, entre as 13 músicas, uma sequer que o público não se sinta envolvido. Mesmo “Família” – um reggaezinho borocoxô – mantém o nível, até pelas frases cotidianas com as quais todos se identificam. E mesmo “O Que”, na qual Arnaldo Antunes realmente faz falta, com bateria eletrônica e distante da moldura punk do disco, segura muito bem a onda.

O destaque maior é para “Polícia”, talvez a música símbolo da época – regravada até pelo Sepultura -, na qual uma roda de pogo gigante mostra que, se em cima do palco a forma física dos veteranos é boa, no salão também. É comovente ver Tony Bellotto, com lenço servindo de máscara e tudo, esmerilhando a guitarra sem dó, perseguido por um inesperado Paulo Miklos, mais guitarrista que nunca. Em músicas em que Liminha – produtor do “Cabeça”, considerado na época como o nono Titã – participa, são três guitarras enlouquecidas num sistema de ida e volta com a plateia que – diga-se de passagem– só o Circo Voador pode proporcionar. Sim, os fantasmas do rock estavam todos lá, mantendo aquela aura mais viva do que nunca. Outros destaques são “Bichos Escrotos” e o grito de “vão se fuder” mais forte de que se tem notícia; “Porrada”, com outro show particular de Bellotto; e “Homem Primata”, que reforça o rouco Sergio Britto como - talvez - o melhor vocalista da banda.

O tecladista Sergio Britto: melhor vocalista?

O tecladista Sergio Britto: melhor vocalista?

Aproveitando a queda para o rock do show, o repertório dos outros 50 minutos é composto por músicas que são uma porrada só. Como esquecer que a colante “Será Que é Isso Que Eu Necessito” é de “Titanomaquia”, o disco grunge dos Titãs, gravado em Seattle e produzido por Jack Endino, produtor do Nirvana? E da imensa roda de pogo que tomou conta da Praça da Apoteose, no Hollywood Rock de 1988, ao som de “Lugar Nenhum”? As duas têm grande participação do público, sendo que, a segunda, acaba com guitarras solando como se não houvesse amanhã. O repertório é mais ou menos o mesmo das inacreditáveis sete noites que a banda fez no mês passado, em São Paulo, e tem espaço para a nova “Fala Renata”, repleta de guitarras melódicas, com um groove colante e pesado. “Comida” e “Saia de Mim” bem que poderiam ter entrado, mas nem tudo é perfeito mesmo.

Há quem reclamasse que essa formação, com apenas metade dos integrantes da que se tornou clássica, desabonasse um espetáculo de tom revivalista. Mas não é que o grupo, como banda de rock de verdade, ficou bem melhor? Até a popérrima “Sonífera Ilha”, anterior à fase “Cabeça”, ganhou uma introdução com um belo e pesado riff de Bellotto. E, à exceção do figuraça Arnaldo Antunes, os demais desertores, ao menos nesse show, não fazem a mínima falta. O baterista Mario Fabre segura muito bem a onda, Nando Reis hoje se sai melhor como integrante eventual do Jota Quest, e Marcelo Fromer certamente ou estava encarnado em Paulo Miklos, ou se sacudia junto com os tais espíritos do rock que habitam o Circo. Numa palavra? Imperdível.

Branco Mello, Liminha e Tony Bellotto em coreografia rock'n'roll

Branco Mello, Liminha e Tony Bellotto em coreografia rock'n'roll

Set list completo:

1- Cabeça Dinossauro
2- AA UU
3- Igreja
4- Polícia
5- Estado Violência
6- A Face do Destruidor
7- Porrada
8- Tô Cansado
9- Bichos Escrotos
10- Família
11- Homem Primata
12- Dívidas
13- O Que
Intervalo
14- A Verdadeira Mary Poppins
15- Amor por dinheiro
16- Nem Sempre Se Pode Ser Deus
17- Aluga-se
18- Diversão
19- Vossa Excelência
20- Televisão
21- A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da Última Semana
22- O Pulso
23- Fala Renata
24- Será Que é Isso Que Eu Necessito?
25- Lugar Nenhum
26- Flores
Bis
27- Sonífera Ilha

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Ricardo em maio 5, 2012 às 16:08
    #1

    Pô, acho mancada falar de Nando Reis, Charles Gavin dessa forma.
    Sem dúvida, os caras fazem falta. Trilharam outros caminhos, longe de lembrarem Titãs, mas, se voltassem ao grupo, seria maneiro.

    Mas as dribladas, as inovações dos Titãs atual, sem dúvida, são muito competentes. Grande Sergio Britto, Branco Mello, Paulo Miklos e Tony Bellotto!

  2. ADRIANA PATARO em maio 5, 2012 às 16:13
    #2

    Show imperdível. Fiquei maravilhada com o que assisti. Sempre fui louca pelos Titãs e eles não poderiam dar presente melhor para os seus fãs que um show baseado no Cabeça Dinossauro.
    Amei e ficou com gostinho de bis. Dia 9 de junho está chegando, quem vai perder?

  3. loquillo panama em maio 6, 2012 às 18:24
    #3

    Titanomaquia faz 20 anos e ali estao 3 dessa fase no setlist!

  4. Marcos Bischoff em maio 7, 2012 às 7:58
    #4

    Nando Reis é chato pra caralho. Tanto na música quanto a pessoa!!

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