O Homem Baile

Por pouco

Repertório consagrado e ex-integrantes salvam show de 30 anos dos Titãs no Rio, em noite marcada por produção desastrosa. Fotos: Patrick Magalhães/Divulgação Fundição Progresso.

Sergio Britto, Tony Bellotto e Paulo Miklos: os Titãs em pose típica de grandes shows de rock

Sergio Britto, Tony Bellotto e Paulo Miklos: os Titãs em pose típica de grandes shows de rock

Com cerca de uma hora de show a formação atual do Titãs se despede do público da Fundição Progresso e instaura a dúvida: será que é só isso? As cinco mil pessoas que encheram a casa, ontem, no Rio, mereciam mais. Afinal, superaram filas, aturaram um atraso cavalar e o som de qualidade sofrível para ver “só” umas 15 músicas do grupo? Muito pouco para um show comemorativo de 30 anos de carreira. Mas estava tudo no roteiro, e lá vêm os ex-Titãs Arnaldo Antunes e Charles Gavin abraçados com os perseverantes que resistem na banda, de volta ao palco. Foi mais uma hora e tanto de show, com sucesso vazando para tudo o que é lado.

Bellotto se diverte feito uma criança no show

Bellotto se diverte feito uma criança no show

Só mesmo um repertório especial como o do Titãs para salvar uma noite que se anunciava caótica. O som, que falhava já durante a discotecagem, começou abafado, embolado, baixo e mal equalizado, sem que os músicos, do palco, percebessem o problema. Tampouco o público, fãs embriagados com a trajetória do grupo. Até que em “Aluga-se”, a quarta música da noite, a aparelhagem pifou de vez. “Quem não pagou a conta?”, perguntou Paulo Miklos, com a piada obrigatória para ocasiões do tipo, numa referência ainda ao verso “Nós não vamos pagar nada!”, da música de Raul Seixas. O grupo teve que deixar o palco por cerca de dez minutos, e voltou com tudo resolvido. Menos o som, claro.

Segundo Sergio Britto, cuja voz ficou guardada no camarim, o roteiro do show teve que ser mudado para que o som fosse sendo acertado, mas, ali, não tinha mais volta. O grupo tocaria de um jeito ou de outro e empurrar logo os sucessões pareceu estratégia bem-sucedida. “Epitáfio” se encarregou de amenizar as coisas, revelando a diferença básica desse show de 30 anos e o outro, no qual o grupo tocou a íntegra do álbum “Cabeça Dinossauro” (veja como foi): saem as músicas mais porradas como “Será Que é Isso Que Eu Necessito?” e entram babas do naipe de “Marvin”. A mudança é sutil, mesmo porque foram tocadas 11 das 13 do “Cabeça”, e, a bem da verdade, o público não estava nem aí para essas frivolidades; o negócio era se acabar com a força dos Titãs no palco e seu punhado de blockbusters.

Charles Gavin voltou para comemorar os 30 anos

Charles Gavin voltou para comemorar os 30 anos

E é mesmo a força das músicas que põe a Fundição abaixo, com o público abrindo imensas rodas de pogo a todo o momento. O bicho pegou pra valer nas frenéticas “Bichos Escrotos”, “Polícia” e “Porrada”, e até em “Estado Violência”. Quem mais sofria com o som de caixa de fósforos da Fundição era Tony Bellotto. Animadíssimo como de hábito, ele só conseguiu se fazer ouvir na boa versão de “Flores”, solando no lugar do saxofone da gravação original, e no bis, com a remodelada “Sonífera Ilha”, carregada de peso. Parece que não, mas a presença de Arnaldo e de Charles mexe com a plateia. O primeiro, emprestando a voz em músicas que são sua cara, como “O Pulso” e “Comida”, e, o segundo, soltando a mão com voracidade de menino. Resta saber o porquê de “Televisão”, que marcou época com Arnaldo, ter ficado na primeira parte do show.

É a participação deles que justifica a repetição de músicas no bis. Não custava nada ter puxado outras do show do “Cabeça”, já ensaiadas, para o repertório, em vez de tocar de novo aquelas já apresentadas na mesma noite. Mas o bis improvisado, como parece ser mo caso de “O Que”, que realmente não vem sendo tocada nesse giro, tem lá seu valor e embevece ainda mais o público. Este, por sinal, não sabe mais que música pedir, muito embora se recuse a dar o fora antes e ter a certeza de que os caras não voltam mais. Podiam aproveitar a presença de Arnaldo Antunes para mandar a escatológica “Saia de Mim”. Serviria para exorcizar as mazelas da produção “como escarro, espirro, pus, porra, sarro, sangue, lágrima, catarro”.

Arnaldo Antunes, Branco Mello, Sergio Britto, Paulo Miklos, Charles Gavin e Tony Bellotto: alívio no final

Arnaldo Antunes, Branco Mello, Sergio Britto, Paulo Miklos, Charles Gavin e Tony Bellotto: alívio no final

Set list completo
1- Diversão
2- AA UU
3- Nem Sempre Se Pode Ser Deus
4- Aluga-se
5- Epitáfio
6- Televisão
7- Tô Cansado
8- Pra Dizer Adeus
9- Go Back
10- A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da Última Semana
11- Igreja
12- Amor Por Dinheiro
13- Vossa Excelência
14- Bichos Escrotos
Com Arnaldo Antunes e Charles Gavin
15- Comida
16- Porrada
17- Família
18- Polícia
19- Estado Violência
20- Cabeça Dinossauro
21- O Pulso
22- Lugar Nenhum
23- Marvin
24- Flores
Bis
25- Homem Primata
26- Sonífera Ilha
Bis
27- O Que
28- Bichos Escrotos
Bis
28- AA UU

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