Trio de ferro
Força dos grandes sucessos e crônica atual mantêm a boa performance de palco do esfacelado Titãs. Fotos: Nem Queiroz.
Esfacelado porque dos oito integrantes da formação original (eram muitos mesmo!) só restam três, e o grupo, que chegou a um tamanho perfeito ainda com Paulo Miklos, que se despediu nesse mesmo Circo Voador, no ano passado, agora parece ter – quem diria - robustez negativa. Não que o guitarrista Beto Lee, que não contribui a favor tampouco contra, dada a ampla inexpressividade que lhe é peculiar, atrapalhe. Ou que Mario Fabre, excelente baterista - diga-se – comprometa, mas sempre irá pairar sobre o público a dúvida: será que vale a pena um Titãs só com três sujeitos que fizeram tudo o que eles fizeram? Mas bandas que superam 20, 30 anos de carreira têm lá seus altos e baixos, então vamos fazer a limonada, isto é, um novo álbum de inéditas, para ver se funciona.
Enquanto isso não rola, os shows estão aí para a diversão ampla, geral e irrestrita. Então só falta colocar uma roupinha preta e despentear o cabelo lau lau de Lee e bola pra frente. Essa turnê deixa de lado de vez a ênfase no material recente (embora o cenário seja inspirado no encarte de “Nheengatu”, relembre) para enfatizar o bom punhado de sucessos que o Titãs coleciona com louvor. Assim, só “Fardado”, aquela das máscaras, que flagra os movimentos sociais de 2013, laboratório do golpe implantado no País, e a insossa “Chegada ao Brasil (Terra a Vista)” permanecem, na primeira parte do show. Novidade, novidade mesmo, são duas. A inclusão de uma versão torta para “Pro Dia Nascer Feliz”, do Barão Vermelho, com Sérgio Britto dando uma de Cazuza – e os fantasmas entranhados na lona do Circo estão vivinhos da Silva – e a estreia de Tony Bellotto como vocalista na jovemguardista “Pra Dizer Adeus”, dedicada a uma enrubescida Malu Mader, sentadinha nas arquibancadas.A ajuda do guitarrista na cantoria não é ao acaso. Lembre-se que, no início, eram cinco os gogós disponíveis, e agora, grosso modo, são só Branco Melo e Britto, que se revezam no baixo, fazendo o mesmo trabalho. Por isso a castigada garganta de Sérgio Britto, cuja voz oscila entre a rouquidão, digamos, agradável e o desespero para alcançar o tempo certo, acende a luz amarela. Nada que, entretanto, e repita-se, estrague a noite. Porque sucessos são sucessos e não há quem resista ao grito/explosão/desabafo “vão se foder!”, de “Bichos Escrotos”, que tem Supla, que fez o show de abertura (veja como foi), como convidado. Ou a simplicidade gritante da duplinha “Sonífera Ilha”/“Televisão”. Muito menos a blockbusters de gosto duvidoso como “Marvin” e “Epitáfio”, duas das que o público mais participa, e sem apelação, só pela força das próprias canções.
Tudo isso pode fazer passar batido talvez o mais importante. É que, desde a turnê com a íntegra do clássico “Cabeça Dinossauro”, em 2012 (relembre), o Titãs vem tocando grande parte das músicas em uma velocidade descomunal, de banda de garagem em início de carreia. Graças à mão pesada de Fabre e ao motorzinho de um incansável Tony Bellotto. É assim que brilham músicas como “Lugar Nenhum”, talhada para fazer a cabeça do novo presidente americano; “Aluga-se”, ótima versão do gaiato Raul Seixas; a sempre boa “Flores”, com saxofone fantasma e tudo; e – prestem atenção - “Será Que é Isso Que Eu Necessito”. A música, da fase noventista/grunge, faz lembrar como os álbuns “Titanomaquia” (1993) e “Tudo Ao Mesmo Tempo Agora” (1991) estão congelados nos palcos, e como os fãs querem esse material de volta. Pelo sim, pelo não, repita-se, fica a dica.Set list completo:
1- Cabeça Dinossauro
2- Diversão
3- AA UU
4- A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana
5- O Pulso
6- Aluga-se
7- Será Que É Isso Que Eu Necessito
8- Nem Sempre Se Pode Ser Deus
9- Sonífera Ilha
10- Fardado
11- Chegada ao Brasil (Terra a Vista)
12- Televisão
13- Lugar Nenhum
14- Pra Dizer Adeus
15- Epitáfio
16- Pro dia Nascer Feliz
17- Go Back
18- Marvin
19- Homem Primata
20- Polícia
21- Flores
Bis
22- Desordem
23- Bichos Escrotos
24- Vossa Excelência
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