O Homem Baile

Trio de ferro

Força dos grandes sucessos e crônica atual mantêm a boa performance de palco do esfacelado Titãs. Fotos: Nem Queiroz.

Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto: os três remanescentes da formação original dos Titãs

Sérgio Britto, Branco Mello e Tony Bellotto: os três remanescentes da formação original dos Titãs

“Os presos fogem do presídio, imagens na televisão; mais uma briga de torcidas, acaba tudo em confusão”. Poderia ser manchete do jornal de hoje, 2017, mas é o início de uma música que este ano completa 30 primaveras, no bis de mais um ótimo show do Titãs, em pleno palco do Circo Voador, na madrugada de sábado para domingo. A “Desordem” segue em frente, e o verso “O dia já vem raiando e ao polícia já está de pé”, de “Acorda Maria Bonita”, que antecede “Polícia”, expõe outro retrato preciso desses tempos estranhos em que o próprio Titãs, que se esfacela em praça pública, segue mostrando a relevância do ótimo álbum “Nheengatu”, lançado em 2014 (resenha aqui).

Esfacelado porque dos oito integrantes da formação original (eram muitos mesmo!) só restam três, e o grupo, que chegou a um tamanho perfeito ainda com Paulo Miklos, que se despediu nesse mesmo Circo Voador, no ano passado, agora parece ter – quem diria - robustez negativa. Não que o guitarrista Beto Lee, que não contribui a favor tampouco contra, dada a ampla inexpressividade que lhe é peculiar, atrapalhe. Ou que Mario Fabre, excelente baterista - diga-se – comprometa, mas sempre irá pairar sobre o público a dúvida: será que vale a pena um Titãs só com três sujeitos que fizeram tudo o que eles fizeram? Mas bandas que superam 20, 30 anos de carreira têm lá seus altos e baixos, então vamos fazer a limonada, isto é, um novo álbum de inéditas, para ver se funciona.

Branco Mello, que divide os vocais e o baixo com Sérgio Britto, cumprimentando o público no Circo

Branco Mello, que divide os vocais e o baixo com Sérgio Britto, cumprimentando o público no Circo

Enquanto isso não rola, os shows estão aí para a diversão ampla, geral e irrestrita. Então só falta colocar uma roupinha preta e despentear o cabelo lau lau de Lee e bola pra frente. Essa turnê deixa de lado de vez a ênfase no material recente (embora o cenário seja inspirado no encarte de “Nheengatu”, relembre) para enfatizar o bom punhado de sucessos que o Titãs coleciona com louvor. Assim, só “Fardado”, aquela das máscaras, que flagra os movimentos sociais de 2013, laboratório do golpe implantado no País, e a insossa “Chegada ao Brasil (Terra a Vista)” permanecem, na primeira parte do show. Novidade, novidade mesmo, são duas. A inclusão de uma versão torta para “Pro Dia Nascer Feliz”, do Barão Vermelho, com Sérgio Britto dando uma de Cazuza – e os fantasmas entranhados na lona do Circo estão vivinhos da Silva – e a estreia de Tony Bellotto como vocalista na jovemguardista “Pra Dizer Adeus”, dedicada a uma enrubescida Malu Mader, sentadinha nas arquibancadas.

A ajuda do guitarrista na cantoria não é ao acaso. Lembre-se que, no início, eram cinco os gogós disponíveis, e agora, grosso modo, são só Branco Melo e Britto, que se revezam no baixo, fazendo o mesmo trabalho. Por isso a castigada garganta de Sérgio Britto, cuja voz oscila entre a rouquidão, digamos, agradável e o desespero para alcançar o tempo certo, acende a luz amarela. Nada que, entretanto, e repita-se, estrague a noite. Porque sucessos são sucessos e não há quem resista ao grito/explosão/desabafo “vão se foder!”, de “Bichos Escrotos”, que tem Supla, que fez o show de abertura (veja como foi), como convidado. Ou a simplicidade gritante da duplinha “Sonífera Ilha”/“Televisão”. Muito menos a blockbusters de gosto duvidoso como “Marvin” e “Epitáfio”, duas das que o público mais participa, e sem apelação, só pela força das próprias canções.

Beto Lee, o novo guitarrista do Titãs, em momento duelo de guitarra com o motorzinho Tony Bellotto

Beto Lee, o novo guitarrista do Titãs, em momento duelo de guitarra com o motorzinho Tony Bellotto

Tudo isso pode fazer passar batido talvez o mais importante. É que, desde a turnê com a íntegra do clássico “Cabeça Dinossauro”, em 2012 (relembre), o Titãs vem tocando grande parte das músicas em uma velocidade descomunal, de banda de garagem em início de carreia. Graças à mão pesada de Fabre e ao motorzinho de um incansável Tony Bellotto. É assim que brilham músicas como “Lugar Nenhum”, talhada para fazer a cabeça do novo presidente americano; “Aluga-se”, ótima versão do gaiato Raul Seixas; a sempre boa “Flores”, com saxofone fantasma e tudo; e – prestem atenção - “Será Que é Isso Que Eu Necessito”. A música, da fase noventista/grunge, faz lembrar como os álbuns “Titanomaquia” (1993) e “Tudo Ao Mesmo Tempo Agora” (1991) estão congelados nos palcos, e como os fãs querem esse material de volta. Pelo sim, pelo não, repita-se, fica a dica.

Set list completo:

1- Cabeça Dinossauro
2- Diversão
3- AA UU
4- A Melhor Banda de Todos Os Tempos da Última Semana
5- O Pulso
6- Aluga-se
7- Será Que É Isso Que Eu Necessito
8- Nem Sempre Se Pode Ser Deus
9- Sonífera Ilha
10- Fardado
11- Chegada ao Brasil (Terra a Vista)
12- Televisão
13- Lugar Nenhum
14- Pra Dizer Adeus
15- Epitáfio
16- Pro dia Nascer Feliz
17- Go Back
18- Marvin
19- Homem Primata
20- Polícia
21- Flores
Bis
22- Desordem
23- Bichos Escrotos
24- Vossa Excelência

O quinteto em ação: Beto Lee, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Branco Mello e Mario Fabre, lá no fundo

O quinteto em ação: Beto Lee, Sérgio Britto, Tony Bellotto, Branco Mello e Mario Fabre, lá no fundo

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