O Homem Baile

Sem rumo

Show curto e repertório irregular mostram que Arctic Monkeys não pode ser headliner de eventos de grandes proporções como o Lollapalooza. Fotos: Agência Foto Site/Divulgação.

arcticmonkeyslollaA noite de domingo prometia ter um desfecho dos mais interessantes, na primeira edição do Lollapalooza brasileiro, que aconteceu nesse final de semana. Mesmo a chuva, eterna freguesa de eventos à céu aberto, numa cidade cuja fama é de ser “da garoa”, não atrapalhou; ao contrário, serviu para refrescar. Só faltava o Arctic Monkeys fazer uma apresentação consagradora, com um repertório em cima da fase mais recente, acrescido de alguns dos hits do início e a festa estaria completa. Não foi, entretanto, o que aconteceu. Em pouco mais de uma hora, o grupo fez um set conciso de grande apelo ante ao público, mas hesitante e pouco representativo do próprio Arctic Monkeys.

Não que fosse novidade. O set list foi basicamente o mesmo que o grupo tem feito nos últimos tempos, e idêntico ao de toda a turnê pela América Latina. Mas uma coisa é ver as músicas enumeradas na tela do comutador, outra é perceber como elas funcionam quando executadas em cima do palco. E não é que elas não tenham obtido eco ante às expectativas do público; o grupo levantou a massa em várias passagens. Mas não é possível um álbum determinante como “Humbug” ceder apenas duas músicas ao show. Trata-se de um desperdício que só se justifica pela preguiça de tocar por mais tempo ou pela percepção equivocada segundo a qual países onde o grupo se apresenta de modo bissexto merecem é coletânea de hits. E, convenhamos, ainda é cedo para o Arctic Monkeys fazer turnê com a íntegra de um disco clássico, como quase aconteceu ontem, com a inclusão de nada menos que sete faixas do bom “Favourite Worst Nightmare”.

Mas há, também, os méritos. Alex Turner, por exemplo, se mostrou muito mais à vontade no palco do que da última vez em que esteve no Brasil, no Tim Festival de 2007 (veja como foi no Rio). Sob um visual à Teddy Boy usado no filme “Vidas Sem Rumo”, de Coppola, com um topete cuidadosamente torneado, mas parecia um modelo reduzido de Johnny Cash. Turner mostra expressões faciais inéditas no passado e até se arrisca a desfilar na passarela que leva ao meio do povão – quem diria – debaixo e chuva, em “Pretty Visitors”. O grupo também mostra uma precisão instrumental resultante um entrosamento que impressiona em algumas músicas, caso de “This Houde Is a Circus”, com um desfecho excepcional, e da caprichada “Crying Lightning”, uma das mais representativas de “Humbug”. Não há como deixar perceber que a banda toca redondinho, o que só reforça a pergunta: por que não tocar mais uma meia horinha? Repertório não falta.

A explicação pode estar no fato de os meninos estarem optando por um caminho oposto ao que lhes foi apresentado por Josh Homme (o cara por trás do Queens Of The Stone Age) em “Humbug”. É o que explica a mudança de rumo não tão bem sucedida de “Suck It And See”, o que já serve para especular sobre o que irá acontecer no próximo disco. Uma pista traiçoeira está em “R U Mine?”, hit instantâneo que fechou o show com exatos 60 com desenvoltura. O bis foi uma festa só, com o público enlouquecido na dobradinha “When the Sun Goes Down”/”Fluorescent Adolescent”. Antes, na meiúca, “Still Take You Home”, à priori discreta, ganhou uma intensidade nervosa de uma surf music daquelas; “Pretty Visors” – a tal da rampa - reafirmou o apreço do quarteto pelo Black Sabbath; e em “Brianstorm” Alex Turner deixou os vocais para o público e não se arrependeu. No computo geral fica aquela sensação incômoda de que foi bom, sim, mas poderia ter sido bem melhor. Ficou para a próxima.

Set list completo

1- Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
2- Teddy Picker
3- Crying Lightning
4- The Hellcat Spangled Shalalala
5- Library Pictures
6- Brianstorm
7- The View From the Afternoon
8- I Bet You Look Good on the Dancefloor
9- Brick by Brick
10- This House Is a Circus
11- Still Take You Home
12- Evil Twin
13- Pretty Visitors
14- If You Were There, Beware
15- Suck It and See
16- Do Me a Favour
17- R U Mine?
Bis
18- When the Sun Goes Down
19- Fluorescent Adolescent
20- 505

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Comentários enviados

Existem 6 comentários nesse texto.
  1. Dan em abril 9, 2012 às 13:10
    #1

    Bragatto e sua mania de ir contra à apresentações de bandas headliner que fecham grandes festivais (como por exemplo a do Faith no More no SWU, fodona, que todos gostaram, até o Régis Tadeu!, menos um crítico que tem uma antipatia pessoal e perseguidora com Mike Patton). O problema é que tem gente que acha que, por uma banda fechar um evento desse porte, precisa da incrível responsabilidade de fazer uma apresentação megalomaníaca, longa até dizer chega e exagerada, cheia de clichês. Aí, chega uma banda como o Arctic Monkeys, e do seu modo (e que modo) só fazem o que tem de fazer: um show de rock. Ei, não é questão de “duração”, é “intensidade”. Eles não deixaram nada de fora, nem da fase antiga, nem das mais recentes. Priorizaram os hits sim, mas pera aê: se tocam as músicas que querem tocar (como o Faith no More no SWU) reclamam, dizendo que deixaram de fora grandes hits; se tocam o que todo mundo quer ouvir, reclamam também. Assim fica difícil, né? Os caras não estão sem rumo, muito pelo contrário… sabem muito bem o que estão fazendo.

  2. Taise em abril 9, 2012 às 18:18
    #2

    Não vi problema nenhuma no setlist, 20 músicas está de bom tamanho! E ainda bem que tocaram várias do primeiro álbum, se tivessem deixado alguma de fora das que foram tocadas aí sim seria um problema…

  3. Tati em abril 12, 2012 às 10:19
    #3

    Sem rumo? Dizer que o Arctic Monkeys só faltava fazer uma apresentação consagradora, foi tão absurdo quanto.

  4. Dan em abril 12, 2012 às 13:30
    #4

    Os Foo Fighters tocaram 26 músicas em quase três horas. Os Arctic Monkeys tocaram 20 em menos de uma hora e meia! Existe alguma grande diferença nisso? Estamos falando de enrolação pra ganhar mais tempo de show ou de música? FF focou em todos os hits, Arctic Monkeys também; FF fez uma puta apresentação, Arctic Monkeys também! Cada um do seu jeito, mas os FF só ficaram quase 3 horas em palco pelos improvisos, solos, e enrolações também (obs: sou fã de Foo Fighters), e tudo bem, afinal isso faz parte da banda. Assim como o jeito mais direto e focado somente nas músicas faz parte do AM. Mas, cara, realmente a coisa do “sem rumo” pegou muito mal… Além do sonzaço, eu nunca vi o Arctic Monkeys tão direto no que interessa, seguro e confiante como agora, totalmente à vontade. Deixar de lado a puta presença de palco que o Alex teve, com um espírito mais rocker do que nunca, é cruel…

  5. Dan em abril 12, 2012 às 13:48
    #5

    Bragatto, por favor, gostaria que excluísse o meu comentário anterior (esse de agora + o anterior, #4 comentário). Li de novo e vi que basicamente escrevi a mesma coisa que queria dizer no #1. Valeu, obrigado!

  6. Marcos Bragatto em abril 12, 2012 às 14:28
    #6

    Vou manter, Dan, achei que acrescentou.

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