O Homem Baile

O Rio é deles

Arctic Monkeys mostra amadurecimento e mais intimidade com o palco no encontro com plateia renovada depois de sete anos ausente na cidade. Fotos: Felipe Panfili/AgNews/Divulgação Midiorama.

De volta ao Rio, Alex Turner e o Arctic Monkeys melhoram um bocado no quesito performance de palco

De volta ao Rio, Alex Turner e o Arctic Monkeys melhoram um bocado no quesito performance de palco

“Vocês são nossos?” É a pergunta feita já na madrugada deste domingo pelo vocalista do Arctic Monkeys, diante de uma plateia de cerca de 14 mil pessoas, na HSBC Arena, no Rio. A questão é a deixa óbvia para Alex Turner mandar “R U Mine?”, o derradeiro número da noite que parecia a melhor de todas para um público jovem e subitamente renovado que não deixou de acompanhar um suspiro do vocalista, quiçá as 20 músicas convertidas em cantoria coletiva como se assim fossem ensaiadas. A apresentação, embora intensa, é curta para quem tem cinco discos e para quem virou banda grande sem ter exatamente a consciência de como o agir como tal. É o que falta ao AM: ter a noção exata de sua própria relevância.

Porque o Arctic Monkeys não é mais – e já faz tempo – o hype dos porões ingleses trazido para o Brasil em 2007 no modernoso Tim Festival (relembre). O grupo tem um público do tipo “garotinhas gritando” como se fosse o Maroon 5 sem que Alex Turner precise tirar a camisa para mostrar o bom preparo físico e as tatuagens como faz Adam Levine. E que esgota os ingressos em questão de horas até numa cidade como o Rio, onde tudo se decide em cima da hora, quando se decide. E aí é que a coisa pega. Porque é notória a falta de intimidade do quarteto com o palco e – imagina-se – com o sucesso. Mesmo assim, o show foi muito mais agitado do que o aquele que fechou o Lollapalooza brasileiro de 2012 (veja como foi), com o próprio Alex se movimentando mais, chegando a travar vários duelos de guitarra com o parceiro Jamie Cook. Mas, também, do lado de cá do computador, é preciso ter a clareza de que o Arctic Monkeys não é o Kiss, Turner não é Freddie Mercury e carisma não se compra em farmácia; ou o sujeito tem ou não tem.

Sem a guitarra, Alex Turner gesticula tal qual um John Travolta em 'Os Embalos de Sábado a Noite'

Sem a guitarra, Alex Turner gesticula tal qual um John Travolta em 'Os Embalos de Sábado a Noite'

O hit “R U Mine?” praticamente salva o bis do show, com ao menos três encerramentos, porque as duas músicas anteriores são por si só contemplativas. Não que sejam ruins, mas a sombria “I Wanna Be Yours”, reforçada por um belíssimo efeito de 18 canhões de luz projetados em duas esferas de espelhos picado, é de fazer Joy Division parecer feliz. E “One For The Road” só se justifica ali na volta ao palco para abrir caminho para uma empolgação final, o que não chega positivamente a acontecer. Só uma amostra de como o grupo peca na hora de montar o repertório de um show. Outra é o início da apresentação em si, que, vamos e venhamos, não pode ser com “Do I Wanna Know?” e “Snap Out of It”. Também não são canções de segunda, mas não têm o poder de explosão necessário para abrir um show; taí o tipo de noção que o grupo precisa ter. Tanto que “Arabella” e a resgatada “Brianstorm” e sua malfadada batida oitentista revivida nos anos 00, do segundo disco, soam como alívio logo em seguida. E o show, enfim, começa.

Não que isso faça muita diferença para o público, cuja animação cega não permite maiores reflexões – é um show de rock, ora bolas - e a condição de fã com pouco tempo de casa leva à adoração pela inclusão de nada menos que 10 das 12 músicas do álbum mais recente, “AM”, no repertório. Mas dá para entender o enganche de um bloco mais calmo na meiúca do show, com “No. 1 Party Anthem” (a plateia reage lindamente usando celulares como isqueiros), “Knee Socks” e “Fireside”, dedicada ao Hives, que tocou antes (veja como foi), com um efusivo crescente no final, para depois o quarteto sentar o cacete antes do bis mal ajambrado. Mas as melhores partes aparecem em “Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair”, ainda com ecos dos tempos de Josh Homme, quando Turner e Cook vão bem nas guitarras; no vigor de “I Bet You Look Good on the Dancefloor”; e na ponte + refrão às avessas de “All My Own Stunts”, acrescida de um ótimo desfecho instrumental; aí sim, o palco faz diferença.

O baixista Nick O'Malley, que usaria uma calça zebrada no bis, e Alex Turner esmerilhando a guitarra

O baixista Nick O'Malley, que usaria uma calça zebrada no bis, e AlexTurner esmerilhando a guitarra

Os efeitos visuais são simples, mas eficientes. A senóide irregular que ilustra a capa de “AM” aparece gigante no fundo do palco iluminada e destaca, de tempos em tempos, a própria sigla AM. O resto é luz sobre o público que deixa a banda muitas vezes na penumbra, mas o suficiente para ver a silhueta de Alex Turner, tal qual Zé Bonitinho, sacar um pente do bolso para ajeitar o topete mal aparado. E também para vê-lo se jogar no chão, como se a noite fosse a última. E era mesmo, já que o show encerrou a turnê de “AM”, que contabiliza mais de 150 shows em cerca de um ano e meio. Depois disso tudo, resta saber qual será o caminho desse dividido Arctic Monkeys. Volta às raízes dos dois primeiros álbuns? Reencontro com Josh Homme para a retomada do caminho perdido em “Humbug”? Sequência dos dois últimos discos? Um queda apara o hard rock, a julgar pela caça zebrada usada pelo baixista Nick O’Malley no bis? Qualquer que seja a trilha, quem venha a noção de que a banda é grande e precisa se assumir como tal. E se serve de incentivo, sim, Alex, o Rio é de vocês.

Clique aqui e veja como foi o show do The Hives na abertura

Set list completo

1- Do I Wanna Know?
2- Snap Out of It
3- Arabella
4- Brianstorm
5- Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
6- Dancing Shoes
7- Teddy Picker
8- Crying Lightning
9- No. 1 Party Anthem
10- Knee Socks
11- Fireside
12- All My Own Stunts
13- I Bet You Look Good on the Dancefloor
14- Library Pictures
15- Why’d You Only Call Me When You’re High?
16- Fluorescent Adolescent
17- 505
Bis
18- One for the Road
19- I Wanna Be Yours
20- R U Mine?

Alex Turner se joga no chão como se não houvesse amanhã; e não havia, foi o último show da turnê

Alex Turner se joga no chão como se não houvesse amanhã; e não havia, foi o último show da turnê

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Nelson Motta em novembro 16, 2014 às 13:01
    #1

    Parabéns pelo excelente trabalho!
    Abraços

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