O Homem Baile

Fanfarrões

Comandado por vocalista falastrão, The Hives não se intimida e coloca fogo na plateia que aguardava o show do Arctic Monkeys. Foto: Vinicius Pereira

thehives14-4O show do The Hives já acabou há tempos, o palco da HSBC Arena está vazio e os roadies começam a entrar para preparar as coisas para a atração principal, o Arctic Monkeys (veja como foi), e o vocalista Pelle Almqvist segue em cima de uma caixa de retorno agradecendo e pedindo declarações de amor para o grupo e – sobretudo – para ele próprio. Pelle é um fanfarrão e comanda um show de rock pouco levado a sério em que a diversão é a única coisa indispensável. Imagine que a música que abre os trabalhos é “Come On!”, cuja letra é basicamente as duas palavras do título, mas mais que suficiente para atropelar logo de início, muito embora o som ainda estivesse sendo ajeitado; por que tem que ser quase sempre assim, técnicos de som?

Já é um clássico a afirmação de que “não se deve chamar o Hives para abrir o show de sua banda”, porque eles superam qualquer performance em termos de animação e agitação de público. Não só por conta das intervenções do exagerado Pelle Almqvist, mas porque o som é contagiante e a banda tem repertório, ao menos para a horinha exata que dura o show, que se divide entre hits consagrados e músicas que mesmo não tão conhecidas foram feitar para fazer maluco dançar batendo palma. Quem resiste, por exemplo, a porradas como “Hate to Say I Told You So” e sua simplicidade rock’n’roll? O sujeito pode não saber, mas conhece a música de cor e salteado. E “Main Offender”, com seu alucinado riff de guitarra? Até os fãs mais jovens do Arctic Monkeys caíram no pula-pula no sabadão, dia 15.

São duas as novidades em relação ao show do Lollapalooza brasileiro do ano passado (relembre). A novíssima “I’m Alive”, que vem sendo incluída nos shows mais recentes, e “Two Kind Of Trouble”, no repertório há mais tempo, desde junho. A primeira, cadenciada, soa como uma marcha fúnebre antes de cair num refrão à Hives, e a segunda tem aquele “quê” de new wave/rockinho básico que permeia toda a trajetória do quinteto sueco. As duas não interferem no concatenamento do set list, que não permite muito descanso, a não ser pelas falas sem fim de Pelle. Além dele, o grupo, todo vestido com um mistura de terno branco com jaleco de cientista louco que remete ao manipulador de marionetes do fundo do palco, tem ao menos outros dois destaques. O potente baterista Chris Dangerous, que garante o pique do show sem arrefecer, e o guitarrista Nicholaus Arson, que se deixa possuir pelo rock como poucos.

Mesmo em “I’m Alive”, ele toca de joelhos no palco feito um adolescente que acaba de compor seu primeiro riff, e, na já citada “Hate to Say I Told You So”, aquela do verso “because I wanna”, desce no fosso que separa o público do palco junto com Pelle Almqvist sem parar de tocar uma nota - a essa altura o som tem ajuste perfeito. Intrigado com uma moça na grade que fala ao celular durante o show, na música “Tick Tick Boom”, o vocalista vai até ela, rouba-lhe o aparelho e segue conversando com o interlocutor do outro lado da linha, numa das passagens mais divertidas e autênticas entre as intervenções do exagerado cantor. Se ele não falasse tanto, seguramente outras três músicas poderiam entrar no set, e o atropelamento do Hives seria ainda maior. Por essas e outras, lembre-se: jamais chame o Hives para abrir o show de sua banda.

Clique aqui para ver como foi o show do Arctic Monkeys

Set list completo

1- Come On!
2- Take Back the Toys
3- Walk Idiot Walk
4- Two Kinds of Trouble
5- See Through Head
6- Main Offender
7- Won’t Be Long
8- Go Right Ahead
9- I’m Alive
10- Tick Tick Boom
11- My Time Is Coming
12- Hate to Say I Told You So

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