Som na Caixa

Arctic Monkeys

Humbug
(EMI)

arcticmonkeyshumburgÉ praticamente um consenso na crônica musical que o segundo disco de uma banda nova é um grande desafio, para que se ratifiquem as qualidades que aparecem na estreia. Mas muitas vezes ocorre que é no terceiro que um artista coloca as manguinhas de fora. É o caso do Arctic Monkeys, mesmo porque os dois primeiros álbuns do grupo – “Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not” (2006) e “Favourite Worst Nightmare” (2007) – pouco diferiam entre si, como se fosse uma tentativa do quarteto inglês de consolidar o jeito específico de compor e – principalmente – tocar. Agora, não.

Com a ajuda substancial de Josh Homme, do Queens Of The Stone Age e uma série de outros projetos bacanas, que produziu sete das 10 faixas, o quarteto londrino, antes identificado com o hype inglês desses anos 00, saiu dos trilhos, pirou e mergulhou fundo na psicodelia setentista. Não é que Homme tenha ido a Londres trabalhar com os rapazes; eles é que foram para um estúdio num deserto californiano dar vazão a essa nova fase. E também não é que Homme tenha se apossado da sonoridade dos Monkeys de supetão; eles é que queriam trilhar esse caminho, inspirados pela referência universal no mundo do rock, o Black Sabbath, que já aparecia de forma sutil nos shows.

Não é difícil identificar, nesse disco de nome e capa esquisitos, o dedo do produtor. A guitarra semiminimalista de “Potion Approaching”, por exemplo, tem a sonoridade usada por Josh Homme no QOTSA, assim como a inicialmente sinistra “My Propeller”, embora produzida por James Ford (amigo de longa data e que tomou conta de outras duas no disco), abre o álbum com os dois pés na poeira americana. O single “Crying Lightning” é outra faixa que ganhar contornos espetaculares, pela composição rara e o tratamento adequando que reflete bem esse passo rumo à desconstrução proposital dado pelo quarteto britânico. A soletrada de “Dangerous Animals”, assim como a pegada à Sabbath do baixo e guitarra, é sensacional, e olha que ainda estamos no lado A – com menos de 40 minutos o disco tem vocação para o vinil.

Já “Cornerstone”, outra do rol das do produtor James Ford, redireciona os olhares para o pós punk que tanto marcou a tal geração 00, e emula sutilmente Morrissey e os Smiths. O vocalista Alex Turner, por sinal, exercita bem essa faceta também em “Secret Door”, revelando uma tonalidade dramática que antes passava despercebida - se é que existia. “Dance Little Liar”, associada à surf music e à malemolência preguiçosa de uma cadeira de balanço à beira mar, realça uma contemporaneidade que tira de vez o Arctic Monkeys do gueto do indie rock inglês e o coloca no habitat universal do rock. O resultado é um grupo em sintonia com a volatilidade de seu tempo, mas preocupado em fixar raízes e que sabe escolher – e muito bem – suas companhias. “Humbug” é, enfim, sério candidato a disco do ano.

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