O Homem Baile

Bom humor

Canastra supera dificuldades e se diverte no palco da terceira noite do Festival Casarão. Fotos: Douglas Diógenes/Divulgação (1, 2 e 3) e Avener Prado/Divulgação (4).

Canastra: Edu Vilamaior, Rodrigo Barba, Renato Martins e Fernando Oliveira se divertem

Canastra: Edu Vilamaior, Rodrigo Barba, Renato Martins e Fernando Oliveira se divertem

O fim de semana não era dos melhores para o Canastra. Na noite de sexta, um chofer ruim de roda derrubou um poste em Palmas, no PMW Festival, a energia caiu e o show quase não aconteceu. Ontem, no Festival Casarão, em Porto Velho, um atraso nos horários espremeu o repertório dos rapazes de camisa florida por conta de um vôo – sempre ele – marcado para a alta madrugada, e, para piorar, o vocalista/guitarrista ainda mostrava, no olhar, sinais de uma inesperada conjuntivite, ainda em fase de cura. Um cenário quase desesperador, não fosse o bom humor há anos perpetrado pela banda em cima do palco, enfatizado ontem na terceira noite do festival, a segunda no Pioneiros Pub.

Versalle: bem melhor que o show de 2010

Versalle: bem melhor que o show de 2010

O disco que o grupo carioca anda gravando, com o Titã Charles Gavin como produtor, está guardado à sete chaves, mas “Ensimesmado”, uma das músicas novas, foi tocada para o público rondoniense. Espécie de encontro de big band de New Orleans com marchinha carnavalesca da década de 20, serviu para tornar o salão ainda mais dançante, além de mostrar influência do Brasov, banda que tem em comum o saxofonista Daniel Vasquez. Outro destaque foi a impagável versão de Edmundo (“In The Mood”, de Judy Garland), famosa com João Penca e os Miquinhos Amestrados na década de 80. A essa altura era de impressionar como os integrantes do grupo se divertiam no palco, o que contagiava o público.

A lotação não foi a esgotada de sexta, mas a animação nada ficou a dever. Ainda que não tenha um novo lançamento desde 2007, o Canastra detém um repertório raríssimo, de bom gosto e que cativa o mais desavisado dos sujeitos. E olha que as versões ao vivo nem sempre são fiéis às registradas em disco. “Meu Capuccino”, por exemplo, ganhou um trecho cantarolado. Outras que se destacaram foram “Motivo de Chacota”, quando o público dedica a canção a alguém; “Miss Simpatia”; “Diabo Apaixonado” (seria o mesmo que anda circulando em Porto Velho nos últimos dias?) e o final acrobático com “Royal Sraight Flush”. Com bom humor, o Canastra fez todo mundo dançar como nenhuma banda na noite de sábado.

Expresso Imperial: apostando em novas sonoridades

Expresso Imperial: apostando em novas sonoridades

O Di Marco quase chegou lá. O grupo, que é de Ji-Paraná, tem um bom fã clube na capital graças às boas composições e à mistura de guitarras e silêncio muito bem sacada. O problema é que, em relação ao show do ano passado, no mesmo Casarão, dois terços do trio foi trocado, restando só o vocalista/guitarrista Raphel Amorim. Talvez por isso, eles fizeram praticamente um show cover, tocado/citando umas seis músicas de outros artistas, numa apresentação que durou pouco mais de meia hora. Um desperdício para uma banda tão promissora, que precisa retornar ao seu próprio curso. Oxalá seja o mais rápido possível.

As outras duas bandas de Rondônia da noite aproveitaram melhor suas oportunidades. O Versalle, por exemplo, desfez a má impressão de 2010, quando a estrutura de palco pouco ajudou – ok, que a energia do Pioneiros caiu bem no meio do show dos rapazes. O vocalista Criston mostrou mais desenvoltura e novas referências se evidenciaram, no som e nas letras, muitas delas de uma tristeza de dar dó. Carga dramática semelhante a de bandas recentes do cenário global, como White Lies e Killers, mas que ganha contornos próprio no Versalle. A outra foi o Expresso Imperial, aditivado pela entrada de um percussionista “tocador de tudo”. O som da banda, instrumental, também encorpou, realçando dessa vez referências à mpb, jazz e samba jazz, com uma pegada contemporânea. Tudo bem que era o primeiro show como quarteto e o novo integrante por vezes não era ouvido, mas a tendência é melhorar.

O baixista prodígio de São Luís quase rouba a cena

O baixista prodígio de São Luís quase rouba a cena

Com pompa de compositor, Djalma Lúcio, de São Luís, levou ao Casarão um trio cuja intenção parecia projetar o próprio Djalma. Tanto que, numa das músicas, o vocalista/guitarrista ficou sozinho no palco, como se fora um Lou Reed bossanovista de gosto duvidoso. O repertório não chega a ser ruim – uma das músicas, ao menos, tem refrão colante -, mas a flagrante falta de intimidade de Djalma com o palco joga tudo por água a baixo. Salva a performance do baixista prodígio e seus dedos ágeis. Com três guitarras, o Mezatrio, de Manaus, manda um rock pauleira experimental à anos 70, mas peca pela falta de boas composições. Se as guitarras dão potência ao som, na maior parte do tempo tocam as mesmas coisas. Ainda assim, as evoluções instrumentais, pesadíssimas, foram a melhor parte do show, marcado pela irregularidade.

O Festival Casarão continua hoje. Clique aqui para ver a programação completa.

Marcos Bragatto viajou à Porto Velho à convite da produção do Festival Casarão

Veja também:
Cobertura da primeira noite
Cobertura da segunda noite

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