O Homem Baile

Peixe escaldado

Horda de fãs do Dead Fish seca estoque de cerveja na segunda noite do Festival Casarão, em Rondônia; Mr. Jungle, de Roraima, mostra boa aceitação na cidade. Foto: Reprodução/internet.

deadfishAs mesas, cadeiras e garrafas que estavam prostradas na frente do palco do Pioneiros Pub, ontem, em Porto Velho, tiveram que ser afastados às pressas. Não para que se desenrolasse uma dança de salão, mas para que os fãs do Dead Fish matassem três anos de saudade abrindo rodas, se empurrando uns aos outros ou flutuando em seguidos crowd surfing sobre a multidão. Antes, o Mr. Jungle, de Roraima (e você que pensou que Porto Velho fosse longe…), mostrou “status de banda gringa” ao ver o público vidrado no classic/hard rock pesadão do quarteto. Saldo da segunda noite do Festival Casarão: mais de 500 litros de cerveja de todos os rótulos e embalagens foram sugados por um público estimado em 400 pessoas, onde, oficialmente, deveriam caber umas 200.

Dá gosto de ver como o Dead Fish faz o show certinho como se estivesse tocando na esquina de casa, em Vitóri…, ops, São Paulo. O grupo tem uma precisão ao tocar o repertório impressionante, em que pese o som vacilante. O vocalista Rodrigo mostra um pique surpreendente para quem está há tanto tempo nesse vai-e-vem de banda rock no Brasil - antes do show, o último da noite, era ele o vendedor de CDs e outros materiais na banquinha da banda. O grupo hoje é uma espécie de elo perdido do hardcore nacional, segmento desvalorizado por conta da ascensão de bandas emo, pop e afins, inicialmente a ele associadas. Tente lembrar uma banda de hardcore surgida recentemente e sua cidade… Nenhuma, não é?

Em pouco mais de uma hora Dead Fish solta um repertório redondinho, com poucas paradas para um ou outro comentário de Rodrigo. A boa exposição na MTV deixa o grupo com um leque de músicas cantadas a plenos pulmões pelo público – não é só empurra-empurra, não – e ao mesmo tempo remete ao início da banda, tocando em tudo o que é buraco no underground até praticamente reiniciar a carreira rumo ao mainstream. Em “Bem-vindo ao Clube”, por exemplo, é impossível não lembrar dos show dos anos 90, em lugares menores e entupidos. Em “Contra Todos”, Rodrigo, em clima de Copa do Mundo, pede união de “torcidas sem a FIFA e sem a Globo”. No final, a velocidade em que as músicas foram tocadas se justificam por si só, mas também por conta de um vôo na madrugada que levaria o quarteto.

O classic/hard rock do Mr. Jungle foi a Porto Velho já pela sétima vez, e encontrou o público de braços abertos. Com hits conhecidos da plateia, como “Mr. Rock N’Roll” e “Rockstar”, ficou fácil mostrar músicas novas como “Teimoso”, enquanto o vocalista Manoel Vilas Boas anunciava que o segundo álbum do grupo vai ser produzido por Bruno Kayapy, guitarrista do Macaco Bong. O problema é que a banda é pouco inventiva nas composições, de modo que cada riff, cada evolução de guitarra, sempre parecem conhecidos porque remetem a standards do gênero. É AC/DC, aqui, Led Zeppelin acolá… não é mole tocar classic rock sem compor boas músicas; no fundo, soa sempre como banda cover de músicas próprias.

Duas bandas de Rondônia que tocaram na edição do ano passado voltaram este ano. A melhor delas é o Sub Pop, de Vilhena, interior do estado. O grupo voltou diferente, com a adição de um saxofonista (que praticamente fez figuração) e com o tecladista exibindo timidamente um handset, aquele teclado que se pendura no corpo, como se fosse guitarra. O grupo talvez tenha as melhores composições entre as que tocaram nessa segunda noite, com destaque para “Comes e Bebes”, um hit nato que faz todo mundo cantar logo de cara. Nem o jeito de cantar choroso e Rodrigo Amarante, do Los Hermanos, incorporado pelo vocalista/guitarrista Derek Ito atrapalha, mas ele precisa se livrar dessa herança maldita.

A outra que tocou no ano passado é a Ultimato, de Porto Velho, que tem boa recepção do público. Vindo de um recesso de oito meses, a banda mostrou até duas músicas novas, mas parece presa ao nu-metal que há mais de uma década trancafia bandas em limites óbvios por todo o mundo. Na abertura, a novata Zane teve a mais completa definição dada pelo próprio vocalista: “diferente”. Ocorre que a banda, formada há pouco tempo, mostra claras referências a diversos artistas, sem, no entanto, mostrar como está digerindo todos eles, a fim de criar certa identidade. Um caminho que eles precisam definir e que certamente o tempo vai ajudar a mostrar.

O Festival Casarão continua hoje e vai até domingo. Clique aqui para ver a programação completa.

Marcos Bragatto viajou à Porto Velho à convite da produção do Festival Casarão

Veja também:
Cobertura da primeira noite

Tags desse texto:

Comentários enviados

Existem 10 comentários nesse texto.
  1. JOSÉ GUSTAVO PEREIRA CLOSS em agosto 7, 2011 às 21:42
    #1

    Bom, obrigado pelas críticas, acredito que você conheça muito bem o som do sax e - claro - possa defini-lo dentre outros sons produzidos dentro de uma banda, seja ela qual for. Porém, acredito que ser crítico não é uma tarefa fácil, tão quanto definir sons dentro de uma apresentação cheia de contratempos no quesito infraestrutura (coisa normal quando se sobe ao palco abruptamente sem uma passagem de som), agora defina figuração? Como assim? Em breve editaremos e postaremos a gravação da apresentação da banda Subpop no youtube. O sax não apareceu? Ou os ouvidos deixaram de captar o som do meu sax? Enfim, se for criticar alguma coisa, o faça com mais clareza e perspicácia! Obrigado! Vale ressaltar que a maioria das músicas da banda Subpop vem com arranjos de sax, principalmente o sax tenor fazendo vários solos e terças com a voz, e, ainda, na música “Pronto Fala Alguma Coisa Agora”, o início é feito com um solo marcante, assim como as terças e quintas que faço baseado na melodia da voz. Este é um exemplo bem claro de que o sax não fez “só figuração”. Quero deixar bem claro, também, que o nosso tecladista também desempenha grande participação nos arranjos, porém, por problemas técnicos da mesa de som, o seu volume ficou baixo. Sem mais, fico muito grato quanto às críticas e sempre acredito que elas vem para engrandecer nosso trabalho!

  2. Éder Roberto em agosto 8, 2011 às 10:31
    #2

    Não concordo que o saxofonista da Sub Pop tenha sido apenas figuração. Ele esteve em cima do palco o tempo todo em atividade, tocando sax ou fazendo back vocal. Você assistiu mesmo ao show deles?

  3. Manoel vilas boas em agosto 8, 2011 às 19:34
    #3

    Marcos, poxa, infelizmente não pude me apresentar. Fui muito rápido a PVH e nem pude te dar nosso disco. É muito bom ser criticado por quem conhece. No fundo, consigo (a banda) tirar coisas boas dessas críticas. Esperamos de verdade, soarmos mais Mr. Jungle e menos nossas referências no 2º disco, mas convenhamos, quantas bandas são realmente originais e incentivar sem serem chatas? No mundo? Se criarmos um som “a” LED, Purple e afins e soarmos originais, vamos ficar ricos, hehe. Queremos fazer bem feito e cada vez melhor. Espero que vc possa nos ver em breve e que possamos lhe impressionar mais.

  4. Marcos Bragatto em agosto 8, 2011 às 20:23
    #4

    Sua banda é boa, Manoel, se vocês conseguirem fazer melhores músicas, vão se dar bem de verdade. Boa sorte!

  5. flavio em agosto 9, 2011 às 20:00
    #5

    Acho que a banda Zane tem algumas coisas a melhorar, mas o som dos garotos é um som bem legal de se ouvir, não tem vínculos com nem uma banda por isso a torna uma banda única, parabéns…

  6. Rogério Schmitt em agosto 9, 2011 às 20:54
    #6

    Olá Marcos. Sou baterista da SubPop e li seu artigo.
    Primeiramente, agradeço pelas críticas construtivas direcionadas a banda e pelos elogios também.
    Mas algo que realmente não ficou bem colocado em seu artigo foi ter mencionado o nosso saxofonista como “figurante”. O senhor é jornalista e tem todo direito de escrever o que quiser, mas eu gostaria de frisar que o tal “figurante” citado é formado no conservatório musical do Rio de Janeiro e tem vasta experiência pelo Brasil como músico. Ele não só toca sax, toca violão, guitarra, piano, faz vocais, etc… Ou seja, é um tremendo de um músico e todos da banda o temos como referência. Ao citá-lo como figurante, o senhor, como jornalista, deve saber que isso é uma ofensa pessoal para um músico e, de certa forma, uma ignorância de sua parte, afinal, ninguém o qualificou de tal grosseira maneira, a não ser o senhor. Não estou aqui para ficar “pagando pau” para o nosso saxofonista, apenas não achei justo sua qualificação a ele. Faço da pergunta do Éder Roberto a minha: o senhor assistiu a nossa apresentação? (Breve terão todas as músicas apresentadas no Casarão postadas no youtube). Ser jornalista é fácil (sequer exige diploma), ser crítico musical exige conhecimento na área e saber criticar com inteligência. Se sua opinião sobre ele é essa, sugiro ao senhor conhecer mais sobre música em geral, conhecer os enquadramentos de cada instrumento dentro de cada banda. Música não é apenas hardcore. Procure analisar as bandas em um aspecto geral. Seja maleável, educado. Bata com luvas. Use palavras polidas. Analise cada banda dentro do seu estilo.
    Percebi que o senhor gosta muito de comparar as bandas e não as classifica com uma opinião própria. Comparações podem ser muito infelizes. Enfim, todos temos muito a aprender. Nossa banda ainda é primária e sabemos de nosso lugar. Abraço.

  7. Daniel Alberto em agosto 10, 2011 às 17:06
    #7

    Bom, quando vi a Sub Pop eu gostei bastante, não sei se concordo com o comentário do Marcos. Porém, ele tem mais experiência que eu, ou seja, sabe o que fala! Sobre a Ultimato tenho que admitir que os caras estao saturados e ultrapassados, porém a banda é muito boa, e, por fim, a banda Zane me agradou demais, bem diferente mesmo. O que me chamou a atenção foi que eles realmente não soam óbvio nos seus arranjos. Zane, Sub Pop, Jam w Mezatrio foram as mais originais pra mim!

  8. luiz eduardo em agosto 10, 2011 às 17:27
    #8

    Amigo Rogério, me desculpe, mas formação musical não faz o cara criar feeling, não, hehee, isso vem de berço amigo! Se você for ler o que o Marcos escreveu e analisar direitinho, você vai perceber que ele queria falar sobre isso! Feeling e energia, e isso faltou mesmo!

  9. JOSÉ GUSTAVO PEREIRA CLOSS em agosto 10, 2011 às 19:01
    #9

    Amigo Luiz Eduardo, por favor, saiba separar quesitos! Outro comentário infeliz! Figuração é uma coisa e “feeling” é outra! Por favor, seja sensato. O som do sax não saiu? Eu não toquei? Minha qualificação não importa, o que importa é se as pessoas ouviram o meu sax, isso sim me satisfaz. A minha presença de palco é aquela mesmo, não toco para agradar massas. Se conseguir transmitir minha mensagem com a minha música já me faço por satisfeito! Obrigado e pense um pouco sobre o que dizer! Mui grato!

  10. Rogério Schmitt em agosto 10, 2011 às 19:13
    #10

    Obrigado, Daniel Alberto, pelo comentário.
    E, ao Luiz Eduardo, concordo que possa ter faltado feeling e energia, mas não é de berço não, amigo. Feeling e energia se adquiri com o tempo, ao se sentir a vontade em cima do palco. Existem raríssimos artistas que nascem com feeling e energia cativantes, e esses, sim, são os fodas. Somos uma banda iniciante e posso te garantir que ter um músico com formação musical ajuda e muito os amadores como nós, a ter feeling. Eu me arrependi do comentário petulante e arrogante que fiz por que eu fiquei irritado quando li e não é fácil pra ninguém lidar com críticas. O Marcos realmente é um bom crítico e analisou banda por banda, assistiu a todos os shows, e isso é raro.
    O parênteses aberto por ele sobre a figuração do saxofonista deixou os ânimos exaltados, mas depois que li o que eu escrevi aqui pensei: “Porra, foi só um parênteses. Vamos mostrar pra ele nos próximos festivais que o sax não é só figuração.” Essa é a maneira certa de se responder a um crítico. Cabe a nós, criticados, apenas respeitar a opinião do crítico, absorver as críticas e tentar melhorar sobre elas e não julgar e tacar pedras em cima de quem está trabalhando. Parabéns pelas resenhas.
    Desculpe se lhe interpretei mal, Marcos.
    Abraços.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Guitarras para as massas

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado