O Homem Baile

Menos é mais

O Melda, banda de um homem só, e Jam, quarteto convertido em trio, brilham na abertura do Festival Casarão, em Rondônia. Fotos: Michele Saraiva/ Divulgação (1) e Avener Prado/Divulgação (2).

Figuraça, Claudão Pilha sacode a cabeça com o capacete percussivo no show do Melda

Figuraça, Claudão Pilha sacode a cabeça com o capacete percussivo no show do Melda

Poucas vezes um chavão batido em textos sobre música pôde se tão bem aplicado como na noite ontem no Festival Casarão, em Porto Velho. Na festa de abertura da 12ª edição do perene festival da capital rondoniense, as duas atrações reforçaram o batido (e controverso) conceito de que menos é mais. Primeiro com a pauleira comandada pela “banda de um homem só” O Melda, e, depois, com o grupo local Jam, um quarteto convertido em trio de última hora por conta da saída do vocalista que se apresentou com a banda no ano passado – veja como foi aqui.

O Melda é o projeto de Claudão Pilha, veterano músico e produtor de rock de Belo Horizonte que encheu o saco de aturar banda com muitos integrantes e partiu para fazer a coisa – literalmente – sozinho. Baterista de origem, Claudão toca guitarra sobre uma bateria pré-gravada e sacode a cabeça, que ostenta platinelas retiradas de um pandeiro. Funciona e é engraçado. Pendurado no pedestal do microfone, um tablet com todas as músicas em sequência, num único mp3, que obriga o músico – de propósito – a tocar tudo de uma vez só, com poucos segundo para um comentário “espontâneo” ou outro, tudo programadinho.

A descrição pode desapontar o leitor de primeira viagem, dando a entender que se trata de música eletrônica, quase sempre chata e enfadonha. Não é o caso. Escolado em bandas de surf music e adjacências, Claudão reúne um apanhado de referências retrô que inclui a garageira dos anos 60, psychobilly e o punk rock básico e cru, misturado com tudo isso. Embora cada riff de guitarra lembre uma referência dessas, as músicas têm, ao mesmo tempo, um sotaque particular, garantido por boas composições daquelas que cativam a gente de cara, e também por temas inusitados e bem próprios abordados nas letras. É o que ele chama de “musiquinha ruim, mas bem intencionada”

Jam: guitarrista Caio Leiva dá uma de cantor

Jam: guitarrista Caio Leiva dá uma de cantor

Caso da paixão pelo fusca original retratada em “Dois Fusquinha” (assim mesmo, sem plural). A buzina que aparece na música foi gravada in loco, num diálogo entre os dois carros do músico, como se os personagens do desenho animado “Carangos & Motocas” e de “Se Meu Fusca Falasse” ganhassem a vida fazendo baking vocals, juntos. Ou “Not My Foot”, a única cantada em inglês, que conta a história de um relacionamento encerrado depois que a moça descobriu que a marca do pé no vidro do carro do rapaz não era a dela. Como já esteve em outra edição do festival, o Melda, usando um traje de soldador que mais parece vestido de meretriz, teve boa recepção por parte do público, que até cantava as letras de algumas músicas. Mais é mais.

Com tanta banda se repetindo por aí, chega a ser oxigenante ver um grupo tão novo como o Jam fazendo um funk rock dos bons. Se apresentando como um trio, com o guitarrista Caio Leiva acumulando os vocais, a banda pode mostrar o porquê do nome Jam. Os três embarcaram por viagens instrumentais das mais interessantes, muitas vezes fruto de experimentação mesmo. Não por acaso o baixista Mikeias, fã de Flea, do Red Hot Chili Peppers, arrebentou uma corda de baixo(!), e o batera Agapon era obrigado a manter os olhos bem abertos para acompanhar as estripulias dos parceiros. Numa espécie de virtuose do bem, os melhores momentos do show ficaram por conta dos solos desembestados de Leiva, que nem precisa cantar bem – nem precisa cantar, aliás -, mas não dá para esquecer as excelentes levadas de baixo, muito bem casada no som do Jam. Mais é mais.

O Festival Casarão continua hoje e vai até domingo. Clique aqui para ver a programação completa.

Marcos Bragatto viajou à Porto Velho à convite da produção do Festival Casarão.

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