O Homem Baile

Guitarras para as massas

Black Drawing Chalks lidera cruzada da guitarra distorcida no último dia do Festival Casarão, com shows gratuitos em praça pública. Fotos: Avener Prado (1, 2 e 4)/Divulgação e Douglas Diógenes/Divulgação (3).

Black Drawing Chalks: batendo cabeça com repertório consagrado pelo público na estrada

Black Drawing Chalks: batendo cabeça com repertório consagrado pelo público na estrada

Cada festival tem o seu formato, mas nada supera o palco grande, com boa estrutura de som e luz, montado em praça pública e com entrada franca. Foi o que aconteceu no último domingo, na noite de encerramento do Festival Casarão, em Porto Velho, capital de Rondônia. Para melhorar, foram escaladas bandas de rock pesado que sempre atraem bom público, tendo o Black Drawing Chalks como headliner, além do rapper Emicida, um dos bambambãs do cenário atual. Se o festival anda órfão de um formato, desde que perdeu a casa que lhe deu o nome, às margens do Rio Madeira, eis aí um bom caminho a ser seguido.

Beradelia: Planet Hemp da beirada do rio

Beradelia: Planet Hemp da beirada do rio

É fácil perceber que é o Black Drawing Chalks o próximo a tocar. De tanto fazer show em tudo o que é buraco, o grupo goiano se faz presente num único esbarrar nas cordas da guitarra. Dadas as circunstâncias, parece até banda internacional em turnê pelo Brasil. A novidade do show ficou por conta de “Famous”, a única inédita da noite. A música é uma típica porrada do BDC, curta, urgente e sem solo. O show foi um pouco curto em relação ao, digamos, “padrão da banda” – 10 músicas em cerca de 40 minutos – e o repertório ainda é o condensado no álbum ao vivo “Live In Goiânia”. Mesmo assim, o show foi de longe o melhor da noite (quiçá do festival), graças à precisão de quem – repita-se – vive na estrada. Destaques para o riff que introduz “My Radio”; a sempre contagiante “My Favorite Way”, com um final alucinante; e os solos de “Free From Desire”. Hora de gravar o terceiro disco, rapazes.

Enfiado nomeio de uma programação essencialmente dedicada ao rock pesado, Emicida tirou de letra a tarefa de evitar qualquer tipo de rejeição. Ao contrário, soube gastar do carisma já mostrado em outras oportunidades. É curioso como o rapper carrega todos os trejeitos batidos do gênero, mas consegue mostrar personalidade, só ele com um DJ lá atrás – muito embora sua equipe exceda a de uma numerosa banda. Emicida sabe improvisar, pede para o público fazer beat box durante uma das músicas e logo arranja um jeito de colocar Rondônia no meio da rima e ser aplaudido pela atenta platéia. Até quando acha um molho de chaves tira proveito: “deu azar duas vezes, uma ao perder a chave e a outra de eu ter achado”. Porto Velho gostou.

NEC: o vocalista baixinho e invocado mandou bem

NEC: o vocalista baixinho e invocado mandou bem

Das bandas locais o NEC foi a que mostrou estar num melhor estágio. O grupo faz uma avassaladora mistura de death metal com grindcore, e tem no vocalista Mario Henrique o grande trunfo. O baixinho de cabelo aparado usa vocais guturais sem cair no nonsense, vomitando as letras com a fúria inerente ao gênero, sem deixar de ser entendido. As outras duas que se dedicam ao metal estão em caminhos distintos. Enquanto o Hellfire Club é uma correta banda de metal tradicional e está numa ascendente, o Bedroyt fez uma apresentação revivalista de heavy metal/hard rock, abusando dos covers – a balada “À Tout Le Monde”, do Megadeth, para se ter uma idéia, foi a abertura. Já o Beradelia, escalado mais para “ter algo parecido com o Emicida”, é uma espécie de Planet Hemp/O Rappa da beirada do Rio Madeira. A banda, numerosa, agradou geral e até abusou da boa vontade do público ao fechar o show com um tecnobrega ruim de doer.

Placar Rock em Geral
Jam: 8
O Melda: 8
Zane: 6
Sub Pop: 7
Mr. Jungle: 6
Ultimato: 5
Dead Fish: 7
Expresso Imperial: 7
Versalle: 8
Djalma Lucio: 4
Di Marco: 5
Mezatrio: 4
Canastra: 8
Hellfire Club: 7
NEC: 8
Bedroyt: 4
Beradelia: 6
Black Drawing Chalks: 9
Emicida: 7

Povo delira na festa do rock, em plena praça pública, no centrão de Porto Velho, sem pagar ingresso

Povo delira na festa do rock, em plena praça pública, no centrão de Porto Velho, sem pagar ingresso

Marcos Bragatto viajou à Porto Velho à convite da produção do Festival Casarão, mas não pode ver o show completo do Emicida, por questões logísticas de retorno ao Rio.

Veja também
Cobertura da primeira noite
Cobertura da segunda noite
Cobertura da terceira noite
Mais fotos, de Avener Prado: www.flickr.com/photos/avenerprado
Mais fotos, de Douglas Diógenes: www.flickr.com/photos/dgsdio

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Comentários enviados

Existem 16 comentários nesse texto.
  1. Rafael Altomar em agosto 10, 2011 às 13:44
    #1

    Valeu, Marcos… as resenhas estão muito boas, mas o seu conhecimento sobre ritmos amazônidas estão ruim de doer também! Abraço

  2. Caio Neiva em agosto 10, 2011 às 15:37
    #2

    Ihh.. kkkk Tem gente que se doeu.

  3. Daniel Alberto em agosto 10, 2011 às 17:15
    #3

    Eheheh Infelizmente vou ter que concordar com os conhecimentos do Marcos Bragatto, hein? Amazônia? Deixa ela quietinha, Rafael!

  4. luiz eduardo em agosto 10, 2011 às 17:23
    #4

    Putz! Que comentário triunfal. Concordo plenamente!

  5. Rafael Altomar em agosto 11, 2011 às 0:59
    #5

    Haha! Será o nome do próximo EP da Beradelia: “Tecnobrega ruim de doer, mas agrada geral”. Eu não me doí, apenas expressei minha opinião. E acho muito bom que tenha cada vez mais jornalistas de fora mesmo em nossos eventos. As resenhas estão muito boas, mas eu, mesmo, nunca toquei tecnobrega!

  6. observador em agosto 11, 2011 às 10:22
    #6

    Alguns comentários:
    1. Tecnobrega é um ritmo nascido no Pará, uma mistura de música eletronica de baixíssimo custo operacional e que se proliferou devido à facilidade de uso dos meios eletônicos. Consta na revista Caros Amigos um artigo falando da democratização cultural propiciada pela mesma. E mais ainda, o quanto de resistência e revolução essa música trás. Para os dois, dêem uma olhada nisso, trata-se de um ritmo popular espontâneo e muito independente (mais até do que 90 do povo que se diz).
    2. Simples, rápido e prático (isso, como um miojo) é você colocar “regional” como subtítulo da sua banda, o público carente de identidade aceita, o escudo protege, pois os “xenófobos” são todos, todos mesmo, que não gostarem do som da banda. Já que são de Porto Velho, da bera do madeira, se você não gosta da minha banda não gosta da minha terra, logo é um escroto. Em expressões assim a retórica funciona mais que a própria música da banda, encobre a crítica e torna o público em quintal.
    3. É costume em Porto Velho, não gostou da minha banda, ou da banda que eu sou fã, você não gosta de mim, da minha família, do meu lugar, da minha história, se não gosta não crítica… como se pode ver. Sabe por que ninquém escreve sobre bandas em Porto Velho? Então, preciso explicar? Acho que não.
    4. A Ultimato levou 5, nota menor que outras bandas, e nem por isso ficaram nisso. Isso se chama classe, autoestima, maturidade, consciência… Não quer ouvir falar mal da sua banda, volta pro quintal (aqui não existe garagens) e toca pro seus amigos. Fácil, rápido e prático.

  7. Adelvan em agosto 11, 2011 às 12:12
    #7

    amazônidas ?

  8. Rafael Altomar em agosto 11, 2011 às 12:31
    #8

    Meu comentário foi pro Marcos Bragatto, jornalista, o qual respeito muito, e não para vocês. Se o Marcos deixa um espaço para comentários é porque ele quer ter um feedback. Inclusive agradeci pela resenha, porque no geral ela foi muito boa para a nossa banda. Nos colocou no patamar de Planet Hemp e O Rappa, bandas que gosto muito, e falou da reação da galera que foi bem massa. O público interagiu muito bem em nossa apresentação, cantando junto e pulando freneticamente! E nós tocamos para o público… Em nenhum momento faltei o respeito com alguém, nem fui bairrista, nem chamei ninguém de escroto nem de otário.

  9. Othon Pantoja em agosto 11, 2011 às 15:05
    #9

    Concordo integralmente com a resenha apresentada, há duas coisas distintas pela análise crítica. A qualidade das composições apresentadas pelas bandas e o quanto essas bandas agradaram ao público, no sentido de ter composições promissoras, alçando vôos mais altos, e dando uma longevidade à banda, ou seja, ser original e criativo ao mesmo tempo, outra coisa é tão somente agradar ao público do show tocando algo sem originalidade ou até mesmo já batido há muito tempo. Mas o que seria “ritmos amazônidas”? Temos algum ritmo de raízes puramente criado aqui? Não estou sendo irônico, é porque realmente não sei, moro em Porto Velho há 20 anos e não tenho conhecimento mesmo disso.

  10. Ramon Alves em agosto 11, 2011 às 17:17
    #10

    Respondendo, Othon: Não existe ritmo genuinamente ”de raiz” criado aqui em Porto Velho, ou mesmo em Rondônia.

  11. Troll em agosto 11, 2011 às 17:59
    #11

    Foda é ver Beradelia com nota 6 e Bedroyt, que detonou, mostrando um heavy metal de alta qualidade, levando nota 4.

  12. Douglas Diogenes em agosto 11, 2011 às 18:03
    #12

    Música regional - é música feita aqui, da cabeça de quem vive isso aqui, sem qualquer vinculo com ritmo nenhum. Pra mim.

  13. Tiago Matias em agosto 11, 2011 às 18:14
    #13

    Ah se aqui no MS tivesse um festival desses e o com resenha no Rock em Geral…

  14. Othon Pantoja em agosto 11, 2011 às 18:28
    #14

    Sobre a Bedoryt, ele avaliou a originalidade das músicas e entendeu que são clichês e datadas, por isso uma avaliação baixa.

  15. Othon Pantoja em agosto 11, 2011 às 18:30
    #15

    Ele falou algo parecido sobre a Mr. Jungle, de RR.

  16. Rafael altomar em agosto 12, 2011 às 2:34
    #16

    Então, eu falei de ritmos amazônidas, como o carimbó, marabaixo, o cirigandô com sua dança, e o próprio tecnobrega citado pelo Marcos, ritmo que a que a beradelia não toca… ainda.
    Concordo com a opinião do Douglas e acho esse espaço de discussão formado aqui válido para o processo de construções de identidade que estamos passando. Levanto a bandeira beradera…

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