Guitarras para as massas
Black Drawing Chalks lidera cruzada da guitarra distorcida no último dia do Festival Casarão, com shows gratuitos em praça pública. Fotos: Avener Prado (1, 2 e 4)/Divulgação e Douglas Diógenes/Divulgação (3).
Enfiado nomeio de uma programação essencialmente dedicada ao rock pesado, Emicida tirou de letra a tarefa de evitar qualquer tipo de rejeição. Ao contrário, soube gastar do carisma já mostrado em outras oportunidades. É curioso como o rapper carrega todos os trejeitos batidos do gênero, mas consegue mostrar personalidade, só ele com um DJ lá atrás – muito embora sua equipe exceda a de uma numerosa banda. Emicida sabe improvisar, pede para o público fazer beat box durante uma das músicas e logo arranja um jeito de colocar Rondônia no meio da rima e ser aplaudido pela atenta platéia. Até quando acha um molho de chaves tira proveito: “deu azar duas vezes, uma ao perder a chave e a outra de eu ter achado”. Porto Velho gostou.
Das bandas locais o NEC foi a que mostrou estar num melhor estágio. O grupo faz uma avassaladora mistura de death metal com grindcore, e tem no vocalista Mario Henrique o grande trunfo. O baixinho de cabelo aparado usa vocais guturais sem cair no nonsense, vomitando as letras com a fúria inerente ao gênero, sem deixar de ser entendido. As outras duas que se dedicam ao metal estão em caminhos distintos. Enquanto o Hellfire Club é uma correta banda de metal tradicional e está numa ascendente, o Bedroyt fez uma apresentação revivalista de heavy metal/hard rock, abusando dos covers – a balada “À Tout Le Monde”, do Megadeth, para se ter uma idéia, foi a abertura. Já o Beradelia, escalado mais para “ter algo parecido com o Emicida”, é uma espécie de Planet Hemp/O Rappa da beirada do Rio Madeira. A banda, numerosa, agradou geral e até abusou da boa vontade do público ao fechar o show com um tecnobrega ruim de doer.Placar Rock em Geral
Jam: 8
O Melda: 8
Zane: 6
Sub Pop: 7
Mr. Jungle: 6
Ultimato: 5
Dead Fish: 7
Expresso Imperial: 7
Versalle: 8
Djalma Lucio: 4
Di Marco: 5
Mezatrio: 4
Canastra: 8
Hellfire Club: 7
NEC: 8
Bedroyt: 4
Beradelia: 6
Black Drawing Chalks: 9
Emicida: 7
Veja também
Cobertura da primeira noite
Cobertura da segunda noite
Cobertura da terceira noite
Mais fotos, de Avener Prado: www.flickr.com/photos/avenerprado
Mais fotos, de Douglas Diógenes: www.flickr.com/photos/dgsdio
Tags desse texto: Festival Casarão
Valeu, Marcos… as resenhas estão muito boas, mas o seu conhecimento sobre ritmos amazônidas estão ruim de doer também! Abraço
Ihh.. kkkk Tem gente que se doeu.
Eheheh Infelizmente vou ter que concordar com os conhecimentos do Marcos Bragatto, hein? Amazônia? Deixa ela quietinha, Rafael!
Putz! Que comentário triunfal. Concordo plenamente!
Haha! Será o nome do próximo EP da Beradelia: “Tecnobrega ruim de doer, mas agrada geral”. Eu não me doí, apenas expressei minha opinião. E acho muito bom que tenha cada vez mais jornalistas de fora mesmo em nossos eventos. As resenhas estão muito boas, mas eu, mesmo, nunca toquei tecnobrega!
Alguns comentários:
1. Tecnobrega é um ritmo nascido no Pará, uma mistura de música eletronica de baixíssimo custo operacional e que se proliferou devido à facilidade de uso dos meios eletônicos. Consta na revista Caros Amigos um artigo falando da democratização cultural propiciada pela mesma. E mais ainda, o quanto de resistência e revolução essa música trás. Para os dois, dêem uma olhada nisso, trata-se de um ritmo popular espontâneo e muito independente (mais até do que 90 do povo que se diz).
2. Simples, rápido e prático (isso, como um miojo) é você colocar “regional” como subtítulo da sua banda, o público carente de identidade aceita, o escudo protege, pois os “xenófobos” são todos, todos mesmo, que não gostarem do som da banda. Já que são de Porto Velho, da bera do madeira, se você não gosta da minha banda não gosta da minha terra, logo é um escroto. Em expressões assim a retórica funciona mais que a própria música da banda, encobre a crítica e torna o público em quintal.
3. É costume em Porto Velho, não gostou da minha banda, ou da banda que eu sou fã, você não gosta de mim, da minha família, do meu lugar, da minha história, se não gosta não crítica… como se pode ver. Sabe por que ninquém escreve sobre bandas em Porto Velho? Então, preciso explicar? Acho que não.
4. A Ultimato levou 5, nota menor que outras bandas, e nem por isso ficaram nisso. Isso se chama classe, autoestima, maturidade, consciência… Não quer ouvir falar mal da sua banda, volta pro quintal (aqui não existe garagens) e toca pro seus amigos. Fácil, rápido e prático.
amazônidas ?
Meu comentário foi pro Marcos Bragatto, jornalista, o qual respeito muito, e não para vocês. Se o Marcos deixa um espaço para comentários é porque ele quer ter um feedback. Inclusive agradeci pela resenha, porque no geral ela foi muito boa para a nossa banda. Nos colocou no patamar de Planet Hemp e O Rappa, bandas que gosto muito, e falou da reação da galera que foi bem massa. O público interagiu muito bem em nossa apresentação, cantando junto e pulando freneticamente! E nós tocamos para o público… Em nenhum momento faltei o respeito com alguém, nem fui bairrista, nem chamei ninguém de escroto nem de otário.
Concordo integralmente com a resenha apresentada, há duas coisas distintas pela análise crítica. A qualidade das composições apresentadas pelas bandas e o quanto essas bandas agradaram ao público, no sentido de ter composições promissoras, alçando vôos mais altos, e dando uma longevidade à banda, ou seja, ser original e criativo ao mesmo tempo, outra coisa é tão somente agradar ao público do show tocando algo sem originalidade ou até mesmo já batido há muito tempo. Mas o que seria “ritmos amazônidas”? Temos algum ritmo de raízes puramente criado aqui? Não estou sendo irônico, é porque realmente não sei, moro em Porto Velho há 20 anos e não tenho conhecimento mesmo disso.
Respondendo, Othon: Não existe ritmo genuinamente ”de raiz” criado aqui em Porto Velho, ou mesmo em Rondônia.
Foda é ver Beradelia com nota 6 e Bedroyt, que detonou, mostrando um heavy metal de alta qualidade, levando nota 4.
Música regional - é música feita aqui, da cabeça de quem vive isso aqui, sem qualquer vinculo com ritmo nenhum. Pra mim.
Ah se aqui no MS tivesse um festival desses e o com resenha no Rock em Geral…
Sobre a Bedoryt, ele avaliou a originalidade das músicas e entendeu que são clichês e datadas, por isso uma avaliação baixa.
Ele falou algo parecido sobre a Mr. Jungle, de RR.
Então, eu falei de ritmos amazônidas, como o carimbó, marabaixo, o cirigandô com sua dança, e o próprio tecnobrega citado pelo Marcos, ritmo que a que a beradelia não toca… ainda.
Concordo com a opinião do Douglas e acho esse espaço de discussão formado aqui válido para o processo de construções de identidade que estamos passando. Levanto a bandeira beradera…