Popularizou de vez
Em show pulsante, sonoridade peculiar do Royal Blood leva riffs de ‘baixo-guitarra’ para as massas. Fotos: Rom Jom/Rock On Board.

O 'baixista-guitarrista' do Royal Blood, Mike Kerr, ao lado do baterista Ben Thatcher: duo sui generis
Explica-se que que o grupo britânico é um duo sui generis formado pelo baixista/vocalista Mike Kerr e pelo baterista Ben Thatcher, o tal sujeito corpulento citado ali em cima. Doravante entenda-se que o baixo tocado por Kerr tem muitas vezes (a maior parte delas?) som de guitarra, em um processo de alquimia e engenharia sonora bastante peculiar, o que confere a Kerr status de desenvolvedor técnico do próprio instrumento, e, por conseguinte, uma sonoridade única ao grupo. Soma-se a isso o peso inerente o rock, certa eletrônica do bem, e, sobretudo, boas composições e bingo! Temos aí um dos shows de rock mais explosivos dos últimos tempos, ainda mais sob a aura de lugar especial como a lona voadora. É o show certo no lugar certo.
A turnê é a do álbum mais recente da banda, o ainda pouco digerido “Back to the Water Below”, lançado há menos de um ano, que cede quatro músicas ao show. Entre elas, cabe à dobradinha “Shiner in the Dark”/“Supermodel Avalanches” o momento de maior representatividade das novidades. A primeira, com um cantarolar de fábrica em pleno refrão, é a quem mais agrada, e a segunda, mais pra dançante do que pra riffônica, é recebida com certa frieza pelo público, até que Thatcher puxe palmas em uma breve (mais interessante) mudança de andamento. As duas têm o acompanhamento do tecladista Darren James (novidade nas turnês), o que, honra seja feita, faz pouca diferença, exceto em momentos pontuais como o sotaque tecnopop que fornece na ótima “Troubles’s Coming.”
A música é o carro chefe do disco anterior do grupo, “Typhoons”, de 2021, e aparece emendada na faixa-título, em um dos pontos altos da noite. Isso porque a cantoria rola solta e os riffs bem sacados de Kerr ressaltam um forte poder de convencimento, mesmo para ouvidos menos acostumados ao peso; há, vamos e venhamos, considerável distância entre esse tipo de público e o de bandas mais conectadas com o rock de guitarras. O que também reforça a contundência desse disco junto aos fãs. Contudo, o grupo prefere enfatizar, no repertório do show, músicas mais conhecidas do primeiro disco – sete no total -, o que não se justifica, já que o Royal Blood tem comparecido ao País com razoável frequência, incluindo a presença em festivais transmitidos ao vivo por TV como Rock In Rio (relembre) e Lollapalooza (veja como foi). Mais coragem, pessoal.O que não faz muita diferença ali, bem no meio do salão, metralhado por uma iluminação estroboscópica montada no fundo e nos lados do palco que faz diferença em um show de rock que flerta com o eletrônico já na própria gênese. Porque nada tira a força de petardos como “Out Of The Black”, a segunda da noite, reconhecida nos primeiros acordes e já com um solo de baixo-guitarra de Mike Kerr; da sensacional “Litttle Monster”, ao vivo com um “que” de Queens Of The Stone Age, aquela citada lá em cima; e da ótima “How Did We Get So Dark?”, faixa-título do segundo álbum, que aparece em uma versão alongada, cativante e que reforça o poder de fogo de uma boa música calcada em um bom riff. Assim, até dois inglesinhos tímidos passam a ter carisma, peça final do quebra-cabeças pra se entender como o Royal Blood de consolida cada vez mais por essas (e outras) plagas.
Set list completo:
1- Boilermaker
2- Out of the Black
3- Mountains at Midnight
4- Come on Over
5- Lights Out
6- Shiner in the Dark
7- Supermodel Avalanches
8- Blood Hands
9- Trouble’s Coming
10- Typhoons
11- Pull Me Through
12- One Trick Pony
13- Little Monster
14- How Did We Get So Dark?
15- Loose Change
Bis
16- Ten Tonne Skeleton
17- Figure It Out
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