Caldeirão noventista
Urgente, Turnstile reúne apanhado da música pesada dos anos 90 em show exasperante para público afoito. Fotos: Rom Jom/Rock On Board.
A citação ao Suicidal ali em cima não é à toa, contudo, não deve ser regra para associar o som que o grupo vem mostrando ao hardcore, lugar comum ao qual reduz o abraço da banda em várias direções, quase todas tendo a música pesada da década de 1990 como destino. Ao menos a julgar por este show, todo calcado no disco mais recente deles, “Glow”, que cede 11 das 17 músicas do repertório. Um incauto com um pouco mais de idade que adentre o recinto de olhos vendados logo identifica ritmos, sotaques e formas já bastante conhecidos. É um riff do Metallica thrash raiz aqui, um para/continua do Rage Against The Machine ou do Helmet acolá, ou uma bateria mais tribal à Sepultura fazendo graça. E isso sem falar no tom de voz de Brendan Yates, semelhante ao de Perry Farrel.
Esquisitão, o cabeludo de última hora contribui com uma performance que foge do lugar comum do HC associado à banda: o Turnstile é uma banda e rock pesado das boas, e a turma mais jovem e naturalmente menos atenta que lhe segue sabe disso. Eles têm as músicas de “Glow”, lançado lá atrás em 2021, na ponta da língua, o que encorpa e muito o show, sobretudo para uma banda de realce recente no meio musical. A junção de “Come Back for More” e “Fazed Out”, por exemplo, se converte em um rockão estradeiro com introdução instrumental, sempre com o peso inerente ao grupo. O riff de “Gravity”, com muito groove, realça outra característica do grupo, a influência do mal trajado baixista Franz Lyons, uma constante em toda a noite, em que pese a boa performance de palco dele.
A performance de toda a banda, aliás, conta muito na reação da plateia. Embora, curiosamente, tudo se resolva – repita-se – em uma hora, há intervalos razoavelmente grandes entre uma música e outra, o que afasta ainda mais a banda dos clichês do HC clássico, onde bandas tocam cinco, seis músicas emendadas umas nas outras. É espaço para o respiro do público, que volta à carga com cantoria gritada e muito body surfing e abertura de roda de dança; o tempo todo. Acontece com destaque em “Fly Again”, que termina em um solo de bateria cheio de suingue de Daniel Fang, e até na ótima “Blackout”, que encerra a primeira parte do set. Essa um dos grandes hits dos caras, que praticamente põe a casa abaixo como se fosse realmente o fim do show.De modo meio inesperado e quase junto com a abertura das portas, tocaram antes a banda paulista Joker, hardcore clássico, e o americano Liam Benzvi, que cantou e tocou guitarra sobre uma bateria eletrônica; parece ter vindo de carona de Nova York com os integrantes do Turnstile. Embora ainda certa novidade, ainda mais para um show solo o Rio, o Turnstile demarca bem o território com essa apresentação urgente e intensa, mas talvez precise de mais tempo para mostrar que não é brisa que logo passa, ainda mais sob as agruras de um momento de grande hype no meio. Dúvidas que ficam entre várias certezas. Que os caras são bons de palco; que dialogam e convencem a turma mais jovem; e que a reciclagem do som pesado noventista com ares de moderno é uma bela de uma sacada.
Set list completo Turnstile
1- Mystery
2- Endless
3- Come Back for More/Fazed Out
4- Underwater Boi
5- Don’t Play
6- Wild Wrld
7- Drop
8- Real Thing
9- Big Smile
10- New Heart Design
11- I Don’t Wanna Be Blind
12- Fly Again
13- Blue by You
14- Blackout
Bis
15- Alien Love Call
16- Holiday
17- T.L.C. (Turnstile Love Connection)
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