Latifúndio inabitado
Dupla Royal Blood se esforça para conquistar o público no Rock In Rio e só obtém sucesso com a inclusão de um riff do Black Sabbath. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Rodrigo Esper (1), Marcelo Mattina (2, 3 e 4).
Era “Loose Change”, a penúltima música do show do Royal Blood no sábado passado (19/9), no Rock In Rio, e, portanto, faltava tocar a derradeira, “Out of the Black”, que se destaca pela citação de “Iron Man”, do Black Sabbath. Ou, por outra, não é que se saliente, mas é com o riff sombrio criado por Tony Iommi, mesmo tocado sem guitarra, que a duplinha consegue o que faltou durante todo o show: a adesão do povão com braços erguidos em coreografia ensaiada e o bater de cabeça que vem automaticamente sob essas circunstâncias. Sem guitarra? Sim, o Royal Blood é uma dupla em que o baixista Mike Kerr canta e Ben Thatcher, o tal homem que não sorri, toca bateria e dá uns moshs de vez em quando.
Acontece que, tal qual um Jack White às avessas – inevitável a relação com o White Stripes -, Kerr tira um som de baixo que se parece muito com o de uma guitarra, assim como White faz a guitarra, por vezes, parecer um baixo. Se Mike Kerr se revelará inventivo como Jack White, aí são outros quinhentos. Por ora, ele vai se esforçando um bocado, e, sim, é possível, em músicas como “Figure It Out”, uma das que o público ali na frente mais agita, afinal é espécie de hit deles, ou na psicodélica “Better Strangers”, esta já sem o apoio de antes, muito embora tenha lá seu apelo mais pop. Os caras cortam um dobrado para conquistar o público, tudo fã de Metallica e/ou Mötley Crüe, e, não custa repetir, sem uma guitarra sequer para fazer aquela firula sedutora para um camisa preta.“É que menos é mais”, há quem argumente com o velho chavão. Mas se menos é realmente mais, não seria menos tirar um som de guitarra com uma guitarra mesmo? Ou, quem sabe, ter um guitarrista numa formação de garage rock (que é a onda desses britânicos) de trio que ficaria uma beleza. Não, mas é mais. Mais complicado, num processo mais de engenharia o que de música, operar uma pedaleira gigantesca; mais difícil de chegar ao público que eventualmente se interesse; mais difícil sair do gueto; e mais difícil ainda habitar a imensidão do Palco Mundo. Talvez por isso Ben Thatcher não consiga sorrir, muito embora seja um cara legal que dá mosh no meio do povão. E que toca bateria muitíssimo bem, obrigado.
Assim, na ótima em “Little Monster”, Kerr se sai com um solo de pedal (nova categoria) que só encorpa o riff sugestivo da música. Quando sola, seguramente uma base eletrônica ou os tais efeitos de engenharia cobrem a base da música. “Blood Hands” é outra legal, e nessa Kerr canta com uma entonação bem parecida com a de Jack White, com falsete e tudo. A música tem um crescente que resulta com os dois músicos agitando junto da bateria, numa linda bateção de cabeça, naquela que foi, de longe, a segunda melhor performance da noite. Porque a primeira, vamos e venhamos, só pode ser a que inclui um riff criado por Tony Iommi.Set list completo:
1- Come on Over
2- You Can Be So Cruel
3- Figure It Out
4- Better Strangers
5- Little Monster
6- Blood Hands
7- One Trick Pony
8- Ten Tonne Skeleton
9- Loose Change
10- Out of the Black

Músico ou engenheiro: Mike Kerr trava um diálogo com os amplificadores durante o show do Royal Blood
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