Nostalgia e emoção
Biohazard revive era de ouro do hardcore nova-iorquino em show com a formação clássica no Rio; na abertura, Raimundos decepciona com apresentação sem pressão. Fotos: Daniel Croce.
De certo modo é até injusto destacar Billy Graziadei, o tal guitarrista gente boa, uma vez que o que marca essa turnê é o retorno do baixista e vocalista Evan Seinfeld à banda, depois de mais de 10 anos ausente, o que configura uma turnê de reunião da formação clássica, quase original. Seinfield, vamos e venhamos, é a cara da banda – uma cara hoje meio desgastada, é verdade – mas faz diferença como contraponto vocal ao próprio Graziadei e muto pela atitude e presença de palco. Isso porque o repertório é basicamente calcado nos três primeiros álbuns da banda, com prioridade para o mais que clássico “Urban Discipline”, de 1992, cuja faixa-título abre o show e incendeia o público em um pula-pula generalizado.

As feras: Seinfield, o guitarrista Billy Graziadei, o batera Danny Schule e o guitarrista Bobby Hambel
Parece clichê – e é! -, mas o Biohazard está entre as bandas que inventaram isso há mais de 30 anos e o troço segue funcionando que é uma beleza. Impressiona também como estão presentes no som da banda elementos tipicamente noventistas como a bateria tribal/grooveada de Iggor Cavalera e do Sepultura – eram bandas irmãs -, sobretudo em “Retribuition”, e de como a banda tem a medida certinha para o traço entre metal (mais thrashão) com hardcore e rap/hip hop, de modo a não causar constrangimento entre as tribos de tudo o que é lado. E ainda tem a cover para “We’re Only Gonna Die”, do Bad Religion, ícone do hardcore melódico, em tese rival do hardcore nova-iorquino; coisa do passado, né?
Outros destaques – o show é curto demais! – são “Victory”, que já vem com um “ôôô” instantâneo da plateia, sempre com o gogó afiado; “Love Denied”, na qual Seinfield apresenta o próprio filho, um cabeludo espécie de assessor de palco que passa o show gravando imagens da banda; e o desfecho, sem bis sem nada, com “Hold My Own”, aquela mesmo em que o abrasileirado Billy Graziadei flutua sobre o público com a guitarra em punho. A música tem ainda um discurso meio emocionado de Evan Seinfield, ao lembrar que a banda está na estrada desde 1987, e que os fãs continuam correspondendo, ao menos desde a primeira vinda ao Brasil, no Monsters Of Rock de 1996. Estaria virando hippie o distinto tatuado? Que siga na banda e volte logo ao Brasil!Na abertura, o Raimundos fez um show decepcionante em vários sentidos. O guitarrista Marquim, cheio de problemas técnicos pra tocar, e o vocalista Digão, com a voz baleada, ficam na conta do imponderável. Mas o fato é que a banda tem convertido várias das músicas mais porradas em reggaes/introduções lentas, o que mata o show, além de muita falação entre uma música e outra. Não é possível que eles não consigam mais engatar três, quatro hardcores seguidos, ainda mais uma noite de abertura para o Biohazard. O pouco e frio público ainda cedo do Circo também não ajudou, mas sucessos inquestionáveis como “Mulher de Fases”, “A Mais Pedida” e “Eu Quero Ver o Oco” tiveram excelente participação mesmo assim.
Set list completo Biohazard1- Urban Discipline
2- Shades of Grey
3- Tales From the Hard Side
4- Wrong Side of the Tracks
5- Black and White and Red All Over
6- Retribution
7- Five Blocks To The Subway
8- How It Is
9- Down for Life
10- Victory
11- Love Denied
12- We’re Only Gonna Die
13- Punishment
14- Hold My Own