O Homem Baile

Nostalgia e emoção

Biohazard revive era de ouro do hardcore nova-iorquino em show com a formação clássica no Rio; na abertura, Raimundos decepciona com apresentação sem pressão. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista e baixista do Biohazard, Evan Seinfield, de volta para completar a formação clássica

O vocalista e baixista do Biohazard, Evan Seinfield, de volta para completar a formação clássica

A noite está prestes a se encerrar, a música, ao que se sabe, é a derradeira e o guitarrista americano, sem parar de tocar, sai do palco de modo a “caminhar” sobre as cabeças do público. Um equilíbrio que desafia as leis de Newton e só é possível graças a dedicados e robustos fãs que se aglomeram na beirada do palco desde cedo. Antes, falando um português torto, mas honestamente divertido, ele conquista mais ainda a simpatia da plateia e ainda promete sortear/leiloar/vender sua própria camiseta, suada e autografada, em benefício de uma campanha de combate ao câncer de mama (!?). É assim que uma horinha passa rápido e o público se vê no fim de um ótimo show do Biohazard no Circo Voador, nesta terça (23/4) de feriado local.

De certo modo é até injusto destacar Billy Graziadei, o tal guitarrista gente boa, uma vez que o que marca essa turnê é o retorno do baixista e vocalista Evan Seinfeld à banda, depois de mais de 10 anos ausente, o que configura uma turnê de reunião da formação clássica, quase original. Seinfield, vamos e venhamos, é a cara da banda – uma cara hoje meio desgastada, é verdade – mas faz diferença como contraponto vocal ao próprio Graziadei e muto pela atitude e presença de palco. Isso porque o repertório é basicamente calcado nos três primeiros álbuns da banda, com prioridade para o mais que clássico “Urban Discipline”, de 1992, cuja faixa-título abre o show e incendeia o público em um pula-pula generalizado.

As feras: Seinfield, o guitarrista Billy Graziadei, o batera Danny Schule e o guitarrista Bobby Hambel

As feras: Seinfield, o guitarrista Billy Graziadei, o batera Danny Schule e o guitarrista Bobby Hambel

Não é novidade que o show do Biohazard seja essencialmente físico – fortões tatuados que adoram jiu-jitsu são emblemas do hardcore nova-iorquino -, mas a energia e o vigor da banda no palco, com os integrantes cinquentões, ainda impressionam bastante. É como se tudo se fundisse com a porrada sonora característica do gênero, e o resultado é realmente explosivo. Que o digam músicas como “Shades of Grey”, colada na primeira e que mantém o pique da cantoria generalizada e tem como acréscimo ótimos solos do guitarrista e rodopio ambulante Bobby Hambel; e “Wrong Side of the Tracks”, quando Evan Seinfield determina a já tradicional divisão do público em duas frentes para a aceleração do caos no meio do salão em seguida.

Parece clichê – e é! -, mas o Biohazard está entre as bandas que inventaram isso há mais de 30 anos e o troço segue funcionando que é uma beleza. Impressiona também como estão presentes no som da banda elementos tipicamente noventistas como a bateria tribal/grooveada de Iggor Cavalera e do Sepultura – eram bandas irmãs -, sobretudo em “Retribuition”, e de como a banda tem a medida certinha para o traço entre metal (mais thrashão) com hardcore e rap/hip hop, de modo a não causar constrangimento entre as tribos de tudo o que é lado. E ainda tem a cover para “We’re Only Gonna Die”, do Bad Religion, ícone do hardcore melódico, em tese rival do hardcore nova-iorquino; coisa do passado, né?

O 'abrasileirado' Billy Graziadei e o 'homem rodopio' Bobby Hambel, um de costas para o outro

O 'abrasileirado' Billy Graziadei e o 'homem rodopio' Bobby Hambel, um de costas para o outro

Outros destaques – o show é curto demais! – são “Victory”, que já vem com um “ôôô” instantâneo da plateia, sempre com o gogó afiado; “Love Denied”, na qual Seinfield apresenta o próprio filho, um cabeludo espécie de assessor de palco que passa o show gravando imagens da banda; e o desfecho, sem bis sem nada, com “Hold My Own”, aquela mesmo em que o abrasileirado Billy Graziadei flutua sobre o público com a guitarra em punho. A música tem ainda um discurso meio emocionado de Evan Seinfield, ao lembrar que a banda está na estrada desde 1987, e que os fãs continuam correspondendo, ao menos desde a primeira vinda ao Brasil, no Monsters Of Rock de 1996. Estaria virando hippie o distinto tatuado? Que siga na banda e volte logo ao Brasil!

Na abertura, o Raimundos fez um show decepcionante em vários sentidos. O guitarrista Marquim, cheio de problemas técnicos pra tocar, e o vocalista Digão, com a voz baleada, ficam na conta do imponderável. Mas o fato é que a banda tem convertido várias das músicas mais porradas em reggaes/introduções lentas, o que mata o show, além de muita falação entre uma música e outra. Não é possível que eles não consigam mais engatar três, quatro hardcores seguidos, ainda mais uma noite de abertura para o Biohazard. O pouco e frio público ainda cedo do Circo também não ajudou, mas sucessos inquestionáveis como “Mulher de Fases”, “A Mais Pedida” e “Eu Quero Ver o Oco” tiveram excelente participação mesmo assim.

Vista geral da turnê que marca a volta da formação clássica do Biohazard no clássico Circo Voador

Vista geral da turnê que marca a volta da formação clássica do Biohazard no clássico Circo Voador

Set list completo Biohazard

1- Urban Discipline
2- Shades of Grey
3- Tales From the Hard Side
4- Wrong Side of the Tracks
5- Black and White and Red All Over
6- Retribution
7- Five Blocks To The Subway
8- How It Is
9- Down for Life
10- Victory
11- Love Denied
12- We’re Only Gonna Die
13- Punishment
14- Hold My Own

A atual formação do Raimundos, com apenas o guitarristta e vocalista Digão remanescente da original

A atual formação do Raimundos, com apenas o guitarristta e vocalista Digão remanescente da original

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