O Homem Baile

No gogó

Show interativo do Blind Guardian no Rio tem conversa fiada, cantoria e até música. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista do Blind Guardian, Hansi Kürsch, em ótima forma vocal, coloca o público pra cantar

O vocalista do Blind Guardian, Hansi Kürsch, em ótima forma vocal, coloca o público pra cantar

Pense em um público de show, uma boa quantidade de gente, que não consegue parar quieta em música alguma. Realize essa turba pedindo uma música para uma banda - a favorita deles, claro - com tamanha intensidade que a referida canção tem que ser executada de um modo ou de outro. No fundo, no fundo, pode ser tudo intuitiva encenação, uma vez que, em tempos de informação jogada na cara da gente por telas todos os dias, já se sabe qual música vai ser tocada em um show e em que momento ela será tocada. É ou não é? Pouco importa. Porque ontem (18/11), em um Circo Voador cheio de dar gosto, o público pediu o clássico “Valhalla” no meio de um caprichado bis e o Blind Guardian teve que tocar.

Não é nenhuma novidade porque não é a primeira vez da banda por essas plagas (relembre 2015 e 2007), o que resulta em certa - por assim dizer – intimidade entre banda e público. Parece bom, e para grande parte da plateia e para o ego dos músicos é mesmo, mas é justamente isso que emperra o show. Porque entre todas as músicas a banda para de tocar e o vocalista Hansi Kürsch desanda a puxar assunto, em espécie de “stand up” com pouca graça, mas que o público adora. É a necessidade de compartilhamento de tudo desses tempos tão estranhos, colocando o ritmo do show em si em segundo plano. E, ainda tem mais essa, há no set duas músicas tocadas em formato acústico, pecado maior para uma banda de heavy metal, mesmo o melódico, e ainda separadas uma da outra. Ou seja, o show não engrena, mas o bate-papo, esse sim.

Principal músico do Blind Guardian, o guitarrista André Olbrich, condutor de solos arrojados

Principal músico do Blind Guardian, o guitarrista André Olbrich, condutor de solos arrojados

O que importa, contudo, é: a) A boa forma dos músicos, em especial o guitarrista André Olbrich, condutor de andamentos e solos arrojados; b) A sustentação vocal irretocável de Kürsch, um raro tenor no meio que alcança notas mais altas sem dificuldade; c) O repertório com ótimo apanhado da carreira da banda, que já beira os 40 anos; e d) A diminuição do entorno dito épico/clássico, que tem se tornado um saco na banda e no meio do metal de um modo geral, o que faz do show algo mais direto e cru, como um espetáculo de rock pesado deve ser. Como se vê, por exemplo, em “Blood of the Elves”, porrada das boas, logo no início da noite. A música é uma das três novas apresentadas pela banda, todas do álbum “The God Machine”, lançado há cerca de um ano, e que dá nome à turnê.

As outras duas são “Secrets of the American Gods” e “Violent Shadows”. A primeira, com tonalidades épicas, realça, ao vivo, um baixo cavalgante e a destreza em compor refrães que marca o BG há bastante tempo, sem deixar pra trás o trabalho de guitarras. A segunda, mais direta, mas ao mesmo tempo com mudanças de andamento, é outra pedrada das boas do disco novo. Ambas causam efeito parecido na plateia, com boa parte já acompanhado tudo certinho, inclusive com a costumeira cantoria. As duas tocadas em formato acústico são “Skalds and Shadows” e “The Bard’s Song - In the Forest”, e acabam sendo uma oportunidade de ouro para que Hansi Kürsch descanse o gogó que o povaréu garante. Ô, se garante.

O outro guitarrista, base e mais discreto, Marcus Siepen, dando aquela força nos vocais de apoio

O outro guitarrista, base e mais discreto, Marcus Siepen, dando aquela força nos vocais de apoio

Mas é no bis generoso que vêm os hits da banda, o que permite, inclusive, a abertura de rodas de dança não muito comuns para esse tipo de público. Dá pra escolher entre a poderosa “Valhalla”, citada lá em cima, e que segundo Kürsch, “é impossível não tocar depois de um pedido desses”, e a turma corresponde; “Lord of the Rings”, mais pesada e cujo título já contribui para o entorno de uma banda como o Blind Guardian; ou “Mirror Mirror”, no encerramento, e na qual um cantarolar altíssimo é que dá início à música, em um espetáculo completo incluindo o apoio vocal/épico de todos no palco. Um belo arremate para a noite. E, se bobear, no momento em que esse texto é lido, ainda tem uma meia dúzia de camisetas pretas lá no Circo gritando “olê, olê, olê, olê, blaindê guardiê”.

Set list completo

1- Imaginations From the Other Side
2- Blood of the Elves
3- Nightfall
4- The Script for My Requiem
5- Violent Shadows
6- Skalds and Shadows
7- Time Stands Still (At the Iron Hill)
8- Secrets of the American Gods
9- The Bard’s Song - In the Forest
10- Majesty
11- Traveler in Time
Bis
12- Sacred Worlds
13- Lord of the Rings
14- Valhalla
15- Welcome to Dying
16- Mirror Mirror

André Olbrich, Hansi Kürsch e Marcus Siepen, com o batera Frederik Ehmke lá no fundo do palco

André Olbrich, Hansi Kürsch e Marcus Siepen, com o batera Frederik Ehmke lá no fundo do palco

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