Cantoria afiada
Com público na mão e participativo, Blind Guardian se assume como banda clássica em show com mais de duas horas de duração no Rio. Fotos: Amanda Respício.
Só que esse Blind Guardian é outro Blind Guardian, se compararmos com as passagens anteriores do grupo por aqui (veja como foi em 2007). Mais cascuda, agora a banda se assume como clássica – lá se vão 30 anos, acredite – e faz um set abrangente e longo, com mais de duas horas de duração, como uma banda com rodagem deve fazer, salpicando o show com músicas de várias fases, além de mostrar algumas novas e com um vigor de quem não pretende sair de cena tão cedo, muito embora siga representando um subgênero do metal meio parado no tempo – o heavy melódico – e sem jamais ter ocupado os principais holofotes do tal segmento. Mas assim são as bandas que se assumem como clássicas e vivem da história que criaram, e é assim que o Blind Guardian segue muito, mas muito querido por essas plagas.
O que não impede que a abertura seja com “The Ninth Wave”, uma bela peça de quase 10 minutos que abre o disco mais recente, “Beyond the Red Mirror”, lançado em janeiro. A recepção é até calorosa, dada a ansiedade, mas a coisa só engrena na paulada “Banish From Sanctuary”, resgatada lá do final dos anos 1980 e que voltou a ser tocada ao vivo nessa turnê. As outras duas novas são “Twilight of the Gods”, que entrou no bis, e foi recebida com frieza – uma frieza morna, digamos, para uma plateia animadíssima -, e “Prophecies”, uma das melhores do disco e que, menos acelerada, funciona muito bem ao vivo. Ressalta-se o que parece ser mais incisivo do que nas outras vezes, a força da segunda voz dos guitarristas André Olbrich e Marcus Siepen. Olbrich, que faz quase todos os solos, também parece mais arrojado em alguns deles, como os de “Tanelorn (Into the Void)”, que reforça a tonalidade épica da composição, e na espetacular debulhagem de “Lost in the Twilight Hall”, que ainda reserva um belo riff, para ficarmos só em duas.

O cada vez mais arrojado André Olbrich, guitarrista responsável pelos solos no show do Blind Guardian
Se Kürsch fala um bocado, está cantando que é uma beleza. Não que fosse caquético a ponto de não ter voz, mas se aperfeiçoou como bom tenor que é, e lida bem com as partes mais altas, mostrando bom fôlego para um show de duas horas e cacetada. Outros destaques são a operística “Bright Eyes”, que o povão adora; “Sacred Worlds”, que abre o primeiro bis no gás; e a dobradinha final com “Majesty”, que a banda fica esperando o público pedir só para dizer que foi um pedido do público, pois seria tocada de qualquer forma, e “Mirror Mirror”, quando múltiplas rodas de dança se fundem no salão. Pode-se ter opinião formada sobre o Blind Guardian, mas uma coisa é certa: poucos shows têm uma interação tão completa e intensa com o público como o deles.
Set list completo:
1- The Ninth Wave
2- Banish from Sanctuary
3- Nightfall
4- Fly
5- Tanelorn (Into the Void)
6- Prophecies
7- The Last Candle
8- A Past and Future Secret
9- Bright Eyes
10- Lost in the Twilight Hall
11- And the Story Ends
Bis
12- Sacred Worlds
13- Twilight of the Gods
14- Valhalla
Bis
15- Into the Storm
16- The Bard’s Song - In the Forest
17- Majesty
18- Mirror Mirror
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