O Homem Baile

Cantoria afiada

Com público na mão e participativo, Blind Guardian se assume como banda clássica em show com mais de duas horas de duração no Rio. Fotos: Amanda Respício.

O iluminado vocalista Hansi Kürsch mostra excelente forma à frente do adorado Blind Guardian

O iluminado vocalista Hansi Kürsch mostra excelente forma à frente do adorado Blind Guardian

O sujeito que chegasse mais ou menos meia hora atrasado ontem, no Vivo Rio, seguramente seria surpreendido pela cena. No palco, uma banda regendo um coro de mais de três mil pessoas que não se cala de jeito algum. Ou os músicos passam para outro número ou os caras seguem cantando os últimos versos. A música é “The Last Candle” e o procedimento se repetiria com força ainda em “Valhalla”, já no bis, uma música tão pedida, mas tão pedida pela plateia que se não fosse tocada os músicos certamente teriam que sair da cidade disfarçados de mulher. Assim, a maior preocupação entre os fãs na saída era como recuperar o voz gasta em tanta cantoria, com tanta animação. E assim foi outro show do Blind Guardian no Rio de Janeiro.

Só que esse Blind Guardian é outro Blind Guardian, se compararmos com as passagens anteriores do grupo por aqui (veja como foi em 2007). Mais cascuda, agora a banda se assume como clássica – lá se vão 30 anos, acredite – e faz um set abrangente e longo, com mais de duas horas de duração, como uma banda com rodagem deve fazer, salpicando o show com músicas de várias fases, além de mostrar algumas novas e com um vigor de quem não pretende sair de cena tão cedo, muito embora siga representando um subgênero do metal meio parado no tempo – o heavy melódico – e sem jamais ter ocupado os principais holofotes do tal segmento. Mas assim são as bandas que se assumem como clássicas e vivem da história que criaram, e é assim que o Blind Guardian segue muito, mas muito querido por essas plagas.

O que não impede que a abertura seja com “The Ninth Wave”, uma bela peça de quase 10 minutos que abre o disco mais recente, “Beyond the Red Mirror”, lançado em janeiro. A recepção é até calorosa, dada a ansiedade, mas a coisa só engrena na paulada “Banish From Sanctuary”, resgatada lá do final dos anos 1980 e que voltou a ser tocada ao vivo nessa turnê. As outras duas novas são “Twilight of the Gods”, que entrou no bis, e foi recebida com frieza – uma frieza morna, digamos, para uma plateia animadíssima -, e “Prophecies”, uma das melhores do disco e que, menos acelerada, funciona muito bem ao vivo. Ressalta-se o que parece ser mais incisivo do que nas outras vezes, a força da segunda voz dos guitarristas André Olbrich e Marcus Siepen. Olbrich, que faz quase todos os solos, também parece mais arrojado em alguns deles, como os de “Tanelorn (Into the Void)”, que reforça a tonalidade épica da composição, e na espetacular debulhagem de “Lost in the Twilight Hall”, que ainda reserva um belo riff, para ficarmos só em duas.

O cada vez mais arrojado André Olbrich, guitarrista responsável pelos solos no show do Blind Guardian

O cada vez mais arrojado André Olbrich, guitarrista responsável pelos solos no show do Blind Guardian

Mas o show também tem seus pecados. Primeiro, sofre com a descontinuidade, uma vez que o vocalista Hansi Kürsch fala em absolutamente todos os intervalos, e sem que tenha muito a dizer. Ok que o Blind Guardian é a trilha sonora oficial de jogos de RPG e afins, mas enfileirar umas três quatro músicas de vez em quando não seria má idéia. Depois, a inclusão de dois números acústicos em meio a uma sessão de belas porradas é de embrulhar o estômago. Não há lugar pior para se usar esse artifício do que num show de heavy metal, onde, de antemão, deveria ser proibido o uso de violões. Mas o público gosta, se diverte e vê o artifício como uma oportunidade de cantar ainda mais e ser ouvido melhor ainda, sobretudo na em “The Bard’s Song - In the Forest”, num clima de sarau, bem no meio do segundo bis.

Se Kürsch fala um bocado, está cantando que é uma beleza. Não que fosse caquético a ponto de não ter voz, mas se aperfeiçoou como bom tenor que é, e lida bem com as partes mais altas, mostrando bom fôlego para um show de duas horas e cacetada. Outros destaques são a operística “Bright Eyes”, que o povão adora; “Sacred Worlds”, que abre o primeiro bis no gás; e a dobradinha final com “Majesty”, que a banda fica esperando o público pedir só para dizer que foi um pedido do público, pois seria tocada de qualquer forma, e “Mirror Mirror”, quando múltiplas rodas de dança se fundem no salão. Pode-se ter opinião formada sobre o Blind Guardian, mas uma coisa é certa: poucos shows têm uma interação tão completa e intensa com o público como o deles.

Set list completo:

1- The Ninth Wave
2- Banish from Sanctuary
3- Nightfall
4- Fly
5- Tanelorn (Into the Void)
6- Prophecies
7- The Last Candle
8- A Past and Future Secret
9- Bright Eyes
10- Lost in the Twilight Hall
11- And the Story Ends
Bis
12- Sacred Worlds
13- Twilight of the Gods
14- Valhalla
Bis
15- Into the Storm
16- The Bard’s Song - In the Forest
17- Majesty
18- Mirror Mirror

A guitarra base de Marcus Siepen, que assim como André Olbrich, contribui muito nas vocalizações

A guitarra base de Marcus Siepen, que assim como André Olbrich, contribui muito nas vocalizações

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