O Homem Baile

Na memória

Em show marcado pela nostalgia, Scorpions celebra edição original do Rock In Rio com amplo material de várias fases da carreira. Fotos: Vinicius Pereira.

O vocalista Klaus Meine, em gesto de colocar o público para cantar com o pedestal do microfone

O vocalista Klaus Meine, em gesto de colocar o público para cantar com o pedestal do microfone

Não adianta. A imagem que não sai da cabeça em um show do Scorpions é mesmo aquela em que os dois guitarristas, o baixista e o vocalista, com uma guitarra a mais nas mãos, tocam empunhando seus instrumentos na beirada do palco, no auge do refrão justamente de uma música instrumental. No caso do show que encerrou a concorrida noite do metal, na edição desse ano no Rock In Rio, nesta sexta (4/10), “Coast to Coast”, além da sensacional coreografia que permeia toda e execução da música, tem um gigante plus “a mais”: Matthias Jabs participa com a guitarra verde decorada com bandeiras do Brasil em formato do mapa da América do Sul doada ao produtores do festival em 1985, e cedida de volta especialmente para essa edição.

E é verdadeiramente uma edição fadada a comparações, memórias e paisagens nostálgicas circulando no subconsciente de cada um ali nos arredores do Palco Mundo, incluindo o vocalista Klaus Meine. “Tocamos aqui em 1985, na primeira edição, dá pra acreditar?”, pergunta ele, meio que celebrando a data, antes de mandar, à capela, uma versão para “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, em bom português. Como, aliás, havia feito quando essa mesma turnê passou pelo Rio, há três anos (relembre). A música abre um trecho do show mezzo acústico mezzo elétrico, com a banda tocando na frente do palco, em uma plataforma avançada posicionada mais à frente, montada exclusivamente para a apresentação, depois do furação Iron Maiden (veja como foi). O que reforça uma derivativa faceta acústica do Scorpions, já com o hit “Send me na Angel”, de excelente resposta do público.

O alucinado guitarrista Rudolf Schenker, do Scorpions, se dirige a um fã na beirada do palco

O alucinado guitarrista Rudolf Schenker, do Scorpions, se dirige a um fã na beirada do palco

O começo, contudo, é no hard rock pesado tipicamente da banda alemã, com movimentação ampla, sobretudo do alucinado guitarrista Rudolf Schenker, único remanescente da formação original. “Going Out With a Bang” inicia com um palco multi-iluminado reforçado por um telão exuberante, digno de atração principal de um festival desse naipe. A música é uma das duas do álbum mais recente, “Return to Forever”, lançado em 2015, e já conhecida do público. A outra é “We Built This House”, cuja letra é exibida nos telões e o público responde à indicação de Meine cantando tudo certinho. Entre elas, além da fatídica “Coast to Coast”, “Make It Real” e “The Zoo” dão conta da agitação geral da plateia, menor que a do Iron Maiden, mas grande e participativa mesmo assim.

Outra faceta do amplo cabedal musical do Scorpions, sobretudo nessa turnê, é o medley com músicas da antigas de mexer com a emoção do fã de longa data, e pela reação do público, há muitos deles na Cidade do Rock. Mas é muito melhor quando os clássicos são tocados na íntegra, ainda mais se são de um patamar maior, caso “Blackout”, que aparece depois do solo de bateria do ex-Motörhead Mikkey Dee, sob sirenes. O solo, a bem da verdade, além de um exercício de habilidade e bom gosto, é mais um espetáculo visual, uma vez que a bateria é alçada ao alto do palco por correntes presas ao teto, sob a mira de muita iluminação estroboscópica. Outra é “Big City Nights”, cantada com grande vigor por toda a Cidade do Rock, que encerra a primeira parte do show. Hit inesperado é “Tease Me Please Me”, de uma fase insegura da banda, nos anos 90, que se revela um belo petardo ao vivo.

Meine e o guitarrista Matthias Jabs, com a guitarra usada no show do Rock In Rio original, de 1985

Meine e o guitarrista Matthias Jabs, com a guitarra usada no show do Rock In Rio original, de 1985

Em relação ao show de São Paulo, no Rockfest (relembre), no qual o Scorpions também foi headiner, entraram duas músicas. Além de “Cidade Maravilhosa”, por razões óbvias, “Delicate Dance”, um lindo momento solo de Jabs com o baixista Pawel Maciwoda e um guitarrista de apoio, mas sem Schenker e Meine, o que percorre cerca de hora e meia de bola rolando. O desfecho, no bis, é de domínio público: a indispensável “Still Loving You”, a Senhora das baladas, cantada com emoção ainda mais anasalada de Klaus Meine e seguida por todo mundo que resiste ao cansaço do dia do metal. Os solos rascantes de Mathias Jabs parecem fazer o volume ainda mais alto na parte final. Mas é no riff espetacular de “Rock You Like a Hurricane” que o público percebe onde se meteu e de como valeu à pena a espera pelo show de outras sete bandas. E assim o Rock In Rio faz o acerto de contas com o Scorpions, com quatro anos de atraso.

Set list completo:

1- Going Out With a Bang
2- Make It Real
3- The Zoo
4- Coast to Coast
5- Top of the Bill/Steamrock Fever/Speedy’s Coming/Catch Your Train
6- We Built This House
7- Delicate Dance
8- Cidade Maravilhosa
9- Send me an Angel
10- Wind of Change
11- Tease Me Please Me
12- Solo Bateria
13- Blackout
14- Big City Nights
Bis
15- Still Loving You
16- Rock You Like a Hurricane

O ex-baterista do Motörhead, Mikkey Dee, titular do posto no Scorpions, atrás do poderoso kit

O ex-baterista do Motörhead, Mikkey Dee, titular do posto no Scorpions, atrás do poderoso kit

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