Na memória
Em show marcado pela nostalgia, Scorpions celebra edição original do Rock In Rio com amplo material de várias fases da carreira. Fotos: Vinicius Pereira.
E é verdadeiramente uma edição fadada a comparações, memórias e paisagens nostálgicas circulando no subconsciente de cada um ali nos arredores do Palco Mundo, incluindo o vocalista Klaus Meine. “Tocamos aqui em 1985, na primeira edição, dá pra acreditar?”, pergunta ele, meio que celebrando a data, antes de mandar, à capela, uma versão para “Cidade Maravilhosa”, de André Filho, em bom português. Como, aliás, havia feito quando essa mesma turnê passou pelo Rio, há três anos (relembre). A música abre um trecho do show mezzo acústico mezzo elétrico, com a banda tocando na frente do palco, em uma plataforma avançada posicionada mais à frente, montada exclusivamente para a apresentação, depois do furação Iron Maiden (veja como foi). O que reforça uma derivativa faceta acústica do Scorpions, já com o hit “Send me na Angel”, de excelente resposta do público.
O começo, contudo, é no hard rock pesado tipicamente da banda alemã, com movimentação ampla, sobretudo do alucinado guitarrista Rudolf Schenker, único remanescente da formação original. “Going Out With a Bang” inicia com um palco multi-iluminado reforçado por um telão exuberante, digno de atração principal de um festival desse naipe. A música é uma das duas do álbum mais recente, “Return to Forever”, lançado em 2015, e já conhecida do público. A outra é “We Built This House”, cuja letra é exibida nos telões e o público responde à indicação de Meine cantando tudo certinho. Entre elas, além da fatídica “Coast to Coast”, “Make It Real” e “The Zoo” dão conta da agitação geral da plateia, menor que a do Iron Maiden, mas grande e participativa mesmo assim.Outra faceta do amplo cabedal musical do Scorpions, sobretudo nessa turnê, é o medley com músicas da antigas de mexer com a emoção do fã de longa data, e pela reação do público, há muitos deles na Cidade do Rock. Mas é muito melhor quando os clássicos são tocados na íntegra, ainda mais se são de um patamar maior, caso “Blackout”, que aparece depois do solo de bateria do ex-Motörhead Mikkey Dee, sob sirenes. O solo, a bem da verdade, além de um exercício de habilidade e bom gosto, é mais um espetáculo visual, uma vez que a bateria é alçada ao alto do palco por correntes presas ao teto, sob a mira de muita iluminação estroboscópica. Outra é “Big City Nights”, cantada com grande vigor por toda a Cidade do Rock, que encerra a primeira parte do show. Hit inesperado é “Tease Me Please Me”, de uma fase insegura da banda, nos anos 90, que se revela um belo petardo ao vivo.
Em relação ao show de São Paulo, no Rockfest (relembre), no qual o Scorpions também foi headiner, entraram duas músicas. Além de “Cidade Maravilhosa”, por razões óbvias, “Delicate Dance”, um lindo momento solo de Jabs com o baixista Pawel Maciwoda e um guitarrista de apoio, mas sem Schenker e Meine, o que percorre cerca de hora e meia de bola rolando. O desfecho, no bis, é de domínio público: a indispensável “Still Loving You”, a Senhora das baladas, cantada com emoção ainda mais anasalada de Klaus Meine e seguida por todo mundo que resiste ao cansaço do dia do metal. Os solos rascantes de Mathias Jabs parecem fazer o volume ainda mais alto na parte final. Mas é no riff espetacular de “Rock You Like a Hurricane” que o público percebe onde se meteu e de como valeu à pena a espera pelo show de outras sete bandas. E assim o Rock In Rio faz o acerto de contas com o Scorpions, com quatro anos de atraso.Set list completo:
1- Going Out With a Bang
2- Make It Real
3- The Zoo
4- Coast to Coast
5- Top of the Bill/Steamrock Fever/Speedy’s Coming/Catch Your Train
6- We Built This House
7- Delicate Dance
8- Cidade Maravilhosa
9- Send me an Angel
10- Wind of Change
11- Tease Me Please Me
12- Solo Bateria
13- Blackout
14- Big City Nights
Bis
15- Still Loving You
16- Rock You Like a Hurricane
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