O Homem Baile

Conciso e intenso

Scorpions faz boa síntese da carreira no encerramento do Rockfest, mas apresentação curta deixa lacunas no repertório. Fotos: Ricardo Matsukawa/Mercury Concerts.

O vocalista do Scorpions, Klaus Meine, segue encantando plateias com a voz anasalada que lhe é peculiar

O vocalista do Scorpions, Klaus Meine, segue encantando plateias com a voz anasalada que lhe é peculiar

A sensação de que um show foi bom, mas poderia ter sido muito melhor é a que fica depois de o Scorpions deixar o palco do Rockfest no sábado (21/9), no Allianz Parque, em São Paulo. Primeiro porque um headliner de festival não pode tocar por pouco mais de uma hora, ainda que esse tempo seja bem aproveitado, e esse procedimento deixa de lado um caminhão de músicas de sucesso do grupo – são 50 anos de estrada - que o público queria ver ao vivo. Depois, porque o show antecessor, o do Whitesnake, matou a pau com o mesmo tempo disponível (veja como foi), roubando assim a cena do nome principal. E – ainda tem mais essa – há três anos, durante a mesma turnê, tida então como a de despedida, os shows foram maiores; relembre o do Rio.

A parte boa é que as 14 músicas que sobram nesse tempo enxuto é basicamente o suprassumo da carreira do Scorpions, incluindo as músicas do álbum mais recente, o bom “Return to Forever”, de 2105; o rock mais pesado dos primórdios, ainda quem em um medley – matador, diga-se; as baladas total power que consagram o grupo e tocam nas FMs/playlists de qualquer gênero musical, incluindo essa que você está pensando; e até a inefável fase acústica, artifício que salvou fases ruins de milhares de bandas na década de 1990, Scorpions incluso. E tudo isso com a utilização generosa de projeções em vídeo em um telão gigante no fundo do palco e em um paredão sobre o qual a bateria é montada e onde os músicos transitam, resultando em ótimo efeito visual.

O guitarrista Rudolf Schenker, figuraça inquieta e único remanescente da formação original do Scorpions

O guitarrista Rudolf Schenker, figuraça inquieta e único remanescente da formação original do Scorpions

O show do Scorpions é completamente aeróbico, com os guitarristas Rudolf Schenker (único remanescente da formação original) e Matthias Jabs impossíveis, e o baixista Pawel Mąciwoda e o vocalista Klaus Meine fazendo uma coadjuvação em um grau a menos de transpiração. É como se, em cada música, um GPS os levasse exatamente para um ponto de encontro pré-determinado no palco, onde cada música atinge o auge de sua performance. Na sensacional instrumental “Coast to Coast”, com Mine assumindo uma terceira guitarra, esse artifício explode na ponta da passarela que avança sobre o público, quando o refrão é cantarolado a plenos pulmões. Em “Blackout”, as sirenes no telão empolgam a plateia também de modo destacado, e os 32 amplificadores que aprecem como se fossem de verdade no medley old school com “Top of the Bill”, “Steamrock Fever”, “Speedy’s Coming” e “Catch Your Train” é sensacional.

O senão nessa transpiração toda é a impressão – e não é de hoje - de que Klaus Meine, do alto de seus 71 anos, já não consegue acompanhar os demais, se deslocando no palco com certa dificuldade e até mancando em algumas passagens; talvez venha daí o decréscimo de temo do show. De outro lado, desde 2016 o Scorpions tem como indiscutível reforço Mikkey Dee, o homem que posta no Linkedin os 23 anos de serviços prestados ao Motörhead, de onde só saiu depois que a banda acabou, com a morte de Lemmy Kilmister. É dele a performance destacada em um solo de uns seis minutos de duração, com a bateria erguida ainda mais, por cabos de aço, até o teto do palco, em um espetáculo que segue funcionando em show de rock de arena como esse do Rockfest; imaginem na semana que vem, no Rock In Rio.

Meine vibra junto com o outro guitarrista, Matthias Jabs, durante o show de encerramento do Rockfest

Meine vibra junto com o outro guitarrista, Matthias Jabs, durante o show de encerramento do Rockfest

Klaus Meine, contudo, segue em dia com a voz anasalada que lhe é característica e realça em “Wind Of Change”, que trata da derrubada do muro de Berlim, quando visivelmente se emociona, o que causa reflexão quanto ao retrocesso humanitário que se vive no Brasil nesses tempos estranhos. Já no bis, essa mesma voz garante espécie de ungido total em cada pessoa dentro do Allianz Parque, quando chega a vez de “Still Loving You”. A senhora das baladas tem força irremediável e, tocada junto com “Rock You Like A Hurricane”, outro blockbuster sem fronteiras, com a força que o rock exige, sela uma grande amostra da importância do grupo em todos esses anos. Em um átimo de segundo, nem dá pra sentir ausências marcantes como as de “Bad Boys Running Wild”, “Dynamite”, “Holliday” (citada no final) e “No One Like You”, entre tantas outras. E fica a sensação de que os músicos deram honestamente tudo o que tinham.

Set list completo:

1- Going Out With a Bang
2- Make It Real
3- The Zoo
4- Coast to Coast
5- Top of the Bill/Steamrock Fever/Speedy’s Coming/Catch Your Train
6- We Built This House
7- Send Me an Angel
8- Wind of Change
9- Tease Me Please Me
10- Solo bateria
11- Blackout
12- Big City Nights
Bis
13- Still Loving You
14- Rock You Like a Hurricane

Mikkey Dee, 23 anos de Motörhead no currículo, tem solo com a bateria erguida ao teto por cabos de aço

Mikkey Dee, 23 anos de Motörhead no currículo, tem solo com a bateria erguida ao teto por cabos de aço

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