Recomeçando
Na vida após a morte, Matanza Inc apresenta vocalista em show no Rio com a certeza de que há muito espaço para crescer. Fotos: Nem Queiroz.
A noite, portanto, é daquelas fadadas a comparações - e vai ser assim por algum tempo -, porque o clima é de expectativa plena e paira no ar a pergunta que intriga todo mundo que mostrou o RG na portaria: “E aí, ficou bom?”. Questão cuja resposta, de antemão, vem influenciada pelo fato de a banda ter feito um ótimo trabalho nas gravações de “Crônicas…”, um disco com a cara do gênio construtor da estética Matanza, o guitarrista Marco Donida, e que só poderia falar mesmo de uma espécie de vida após a morte, de propósito ou – vá lá - por força do subconsciente. E que tem um brilhante trabalho de Vital, que encarou de peito aberto a tarefa indigesta de substituir o indefectível Jimmy. O local escolhido para o show, menor que aqueles em que o Matanza habitualmente lotava, e a imagem dos integrantes atrás da banquinha de CDs/camisetas dão a mais que perfeita dimensão desse recomeço.

Matanza Inc: o guitarrista Marco Donida, Vital, o baixista Dony Escobar e o guitarrista Maurício Nogueira
Grande parte da músicas novas já é conhecida – ah, essa internet! – e o bom público que enche a casa canta copiosamente na maioria delas, sempre com abertura de rodas de dança dentro do padrão Matanza; e o grito de apoio se divide em “Matanza!” e “Inc!”, como se fossem primeira e segunda voz, respectivamente. O hit recente “Seja o Que Satan Quiser” embala a cantoria da plateia logo no início, com um bom solo de Donida, mais arisco a cada música, e muitas vezes duelando com Maurício Nogueira, o outro guitarrista, e “Péssimo Dia Pra Mim”, cujo riff colante conquista logo de cara até quem chegou por último, são bons exemplos de renovação no repertório. Mas é a duplinha “Tudo de Ruim Que Acontece Comigo”, com o batera Jonas Caffaro realçando a boa fase, e “Lodo No Fundo do Copo”, que têm em comum grandes refrães, a responsável pelo ótimo alcance no meio da turba de bebuns.
Dentre as antigas são claras as opções na escolha do repertório, considerando a condições de adaptação do novo vocalista: a) Tocar as mais conhecidas dos fãs; b) Aproveitar para desenterrar músicas boas, mas que não foram muito tocadas na época em que foram lançadas; ou c) Uma mistura das duas coisas. O grupo parece optar pela primeira, mesmo com a conversão de “Ela Roubou Meu Caminhão” na “Stairway to Heaven”/“Anna Julia” da vez, ou seja, limada sem dó. Assim, “Ressaca Sem Fim”, “O Chamado do Bar”, “Pandemonium” e “A Arte do Insulto” são as que têm melhores versões, mas é preciso lamentar que apenas duas músicas do álbum “Odiosa Natureza Humana”, a obra-prima do Matanza, de 2011, tenham entrado no set. E é preciso achar um lugarzinho para “Mulher Diabo” e “Whisky Para Um Condenado” também.O show como um todo – na comparação com a vida antes da morte – perde em quantidade de músicas (26 versus 32, no mínimo, relembre aqui e aqui) e sobretudo na dinâmica em que é concatenado, em que pese o acanhamento do palco do Odisséia. Mas aí só o tempo e uma boa sequência de turnês, se for esse o caminho, pode dar ao Matanza Inc aquela apresentação bem amarrada e redondinha que o Matanza conquistou suando a camisa ao longo dos anos. De todo modo, os músicos parecem bem mais à vontade no palco, o que contribuiu para essa evolução como um todo e para a descoberta de como tudo pode funcionar, incluindo novas possibilidades de repertório e a criação de uma nova identidade. Coisa que, seguramente, só o tempo pode trazer.

Ladrão: o guitarrista Farrah Santo Sé e o baixista Olmar Lopes, com o batera Daniel Vitarelli no fundo
Set list completo Matanza Inc:
1- Guia Para Demônios & Espíritos Obsessores
2- Interceptor V-6
3- Seja o Que Satan Quiser
4- Odiosa Natureza Humana
5- Lodo No Fundo do Copo
6- Todo Ódio da Vingança de Jack Bufalo Head
7- O Elo Mais Fraco da Corrente
8- A Arte do Insulto
9- As Muitas maneira de Arruinar a Sua Vida
10- Eu Não Bebo Mais
11- A Cena do Seu Enforcamento
12- Sabendo Que Posso Morrer
13- Péssimo Dia
14- Pé na Porta, Soco na Cara
15- Tudo se Ruim Que Acontece Comigo
16- Eu Não Gosto de Ninguém
17- Para o Inferno
18- Ressaca Sem Fim
19- Pior Cenário Possível
20- Chumbo Derretido
21- Pode Ser Que Eu Me Atrase
22- Countrycore Funeral
23- Remédios Demais
24- Bom é Quando Faz Mal
25- O Chamado do Bar
26- Pandemonium
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