O Homem Baile

Horror do bem

Um simpático Michale Graves revive os bons tempos tocando a íntegra dos dois discos que gravou à frente do Misfits. Fotos: Nem Queiroz.

O ex-vocalista do Misfits, Michale Graves e sua fiel interpretação para  horror punk da banda

O ex-vocalista do Misfits, Michale Graves e sua fiel interpretação para o horror punk da banda

O roteiro prevê uma pausa e o baterista desce do praticável enquanto o vocalista começa a falar. Ele, com rosto de defunto que remete ao símbolo maior da banda que representa, entrou no palco e ficou um bom tempo trancafiado em uma camisa de força. Depois, mostrou animação ímpar com a reação do público a cada música, e já foram 32! Agora, em um discurso de generosidade, aponta para os fãs a razão de tudo isso acontecer, repassa mensagens do tipo “não deixe ninguém te colocar pra baixo nem desista de seus sonhos”, e quase vai às lágrimas ao lembrar que ele próprio realiza os seus. Um respiro daqueles bem fundos e Michale Graves, ex-vocalista do Misfits, segue o baile com “Fiend Club”, quase um hino, um épico realmente de fazer carrancudo chorar nesta quinta (20/6), no Circo Voador.

Graves fico conhecido por aqui como o vocalista da Marky Ramone’s Blitzkrieg, a banda de Marky Ramone que tocava basicamente material do Ramones e volta e meia se apresentava no Brasil, foi até atração do no Rock In Rio de 2013 (relembre aqui e aqui). No Misfits, substituiu Glenn Danzig, da formação original, e gravou dois álbuns com a banda, “American Psycho”, de 1997, e “Famous Monsters”, lançado dois anos depois, e é justamente a íntegra desse material, de cabo a rabo, que ele vem tocando nessa turnê, totalizando nada mais nada menos que 37 porradas na orelha (uma do próprio Michale Graves, “I Don’t Wanna Be (A Superhero))”, em 90 minutos de bola rolando, e rolando à vera. Porque o público, em sua maioria conhece cada cantinho de cada fixa executada umas emendadas na outras, se diverte em rodas de dança sem parar e vibra um pouco mais aqui e acolá dependendo do reconhecimento e uma ou outra mais famosa, por assim dizer.

Graves ao lado do guitarrista Carlos 'Loki' Cofino: banda de apoio é entrosada e muito boa

Graves ao lado do guitarrista Carlos 'Loki' Cofino: banda de apoio é entrosada e muito boa

Em “Dig Up Her Bones”, por exemplo, dá pra se identificar quase um sussurro de torcida no início, e no manjado refrão explode a cantoria, em um dos momentos de vibração também de Michael Graves. “Crimson Ghost”, mais adiante, à custa de um riffaço oriundo do metal, desencadeia sequências de pula-pula, punhos erguidos e bater de cabeça inexoravelmente. “Scream”, anunciada pelo guitarrista Carlos “Loki” Cofino, soa como um verdadeiro hit do horror punk mundial. Pode não parecer, mas “American Psycho” e “Famous Monsters”, se não são o grande momento da carreira do Misfits, tem um punhado de boas músicas, tanto que, na última passagem da banda nesse mesmo Circo Voador, com o baixista Jerry Only acumulando os vocais, há cinco anos (relembre), foram tocadas 12 músicas desse material, e a reação do público hoje não preserva dúvidas.

Se o Misfits tocou em um domingo de Páscoa, Graves veio no dia do Corpo de Cristo. Tem a ver se pintam no show músicas como “Descendng Angel”, outra boa de pular, com Graves exibindo boa voz; “Day Of The Dead”, com interpretação até corporal; e “Ressurrection”, na qual um incauto sobe no palco e dá um gole na cerveja dos músicos. O que inicia um constrangimento generalizado por conta da desastrosa participação de parte do público, que, em vez de subir no palco e saltar de volta (o tradicional mosh), fica fazendo fotos, lives e afins ao lado do vocalista. O simpaticão Michale Graves até releva, mas esse comportamento bisonho quase estraga a noite. Primeiro, ele pede para que, quem quiser participar, que suba no palco e logo volte para o salão. Depois, Loki limita em “sete segundos” o tempo de permanência de cada um no palco. Por fim, visivelmente aborrecido, proíbe que façam fotos. De nada adianta e por muito pouco uma noite de festa não se converte em chateação geral com a interrupção do show, por causa do emburrecimento generalizado nesses tempos tão estranhos.

No início, além da maquiagem de defunto, Michale Graves aparece trancafiado em uma camisa de força

No início, além da maquiagem de defunto, Michale Graves aparece trancafiado em uma camisa de força

Graves está em excelente forma e mostra afinação em dia e bom alcance vocal, especialmente em “Dust to Dust”, “Crawling Eye” e “Pumpkin Head”, e não à toa o público volta e meia lança o coro de “Graves! Graves! Graves!”. Além de Loki, a banda, muito boa, tem o baixista Howie Wowie e o ótimo baterista Adam Parent. Eles tocam quase sem parar, no maior estilo Ramones, procedimento devidamente aprovado pela paleia, especialmente quando petardos como “Die Monster Die”, “Living Hell” e “Descending Angel” aparecem juntinhas de nascença, mas é como se unidas fossem agora, de tão bom que é o resultado. Tem ainda “Helena”, outra celebrada pela plateia, que faz par romântico com “Saturday Night”, uma das poucas que dá pra respirar, e a colante “Hate the Living, Love the Dead”, em meio a uma festa generalizada que, de tanta emoção, fez Michele Graves – quem diria – gelar os ossos.

Set list completo:

1- Abominable Dr. Phibes
2- American Psycho
3- Speak of the Devil
4- Walk Among Us
5- The Hunger
6- From Hell They Came
7- Dig Up Her Bones
8- Black Light
9- Resurrection
10- This Island Earth
11- Crimson Ghost
12- Day of the Dead
13- The Haunting
14- Mars Attacks
15- Hate the Living, Love the Dead
16- Shining
17- Don’t Open ‘Til Doomsday
18- Hell Night
Intervalo
19- Kong at the Gates
20- The Forbidden Zone
21- Lost in Space
22- Dust to Dust
23- Crawling Eye
24- Witch Hunt
25- Scream!
26- Saturday Night
27- Pumpkin Head
28- Scarecrow Man
29- Die Monster Die
30- Living Hell
31- Descending Angel
32- Them
33- Fiend Club
34- Hunting Humans
35- Helena
36- I Don’t Wanna Be (A Superhero)
37- Kong Unleashed

Banda de Michale Graves em ação enlouquece o público, tocando por uma hora e meia quase sem parar

Banda de Michale Graves em ação enlouquece o público, tocando por uma hora e meia quase sem parar

Tags desse texto: ,

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado