Zumbido sem fim
Matanza aproveita som equalizado no talo para encerrar seu próprio festival com a sutileza de uma escavadeira desgovernada. Fotos: Nem Queiroz.
Ocorre que – e ainda tem mais essa – o som está equalizado em um volume saturado absurdo de fazer o ouvido zumbir pelas próximas semanas e deixar Lemmy Kilmister, sabe-se lá onde, com um raro sorriso escancarado. E, como se sabe, as músicas são emendadas cruelmente umas nas outras, de modo que não há respiro, pera aí que eu vou ali e que tais vacilações. E – ainda tem essa outra – a formação é turbinada pela presença do encastelado Donida, o guitarrista chave para se entender o Matanza e suas andanças pelo som pesado e por personagens com os quais todo mundo ali no meio do salão (será mesmo?) se identifica, de um modo ou de outro. Há tempos, no entanto, não segue a banda nas turnês, e, com ele, o couro come pra valer, em dobro, de modo que o repertório pode praticamente ser virado de ponta cabeça que o resultado não deixa a desejar.
Daí que parece normal o início com um bloco de músicas das antigas, em que brilha “Santa Madre Cassino”, justamente pela resposta do público, em uma cantoria linda, ao reger do maestro Jimmy. E que dá até para encaixar, mais adiante, “Mais Um Dia Por Aqui”, desenterrada de priscas eras quando juntar meia dúzia de três ou quatro era difícil pra dedéu. E assim mesmo misturar, parece até que no modo aleatório inconsciente coletivo, pedradas como “Eu Não Gosto de Ninguém”, patrimônio inalienável do público, em letra e música; “A Arte do Insulto”, que parece ter se tornado real profissão de fé do ideário camisa preta da noite; o dilema desapontador de “O Último Bar”; ou mesmo “Tudo Errado”, nem sempre contemplada pelos palcos do grupo.Verificações que enterram os argumentos segundo os quais um show do Matanza é sempre a mesma coisa. E são reforçadas por versões bem diferentes de algumas músicas, como “Quanto Mais Feio”, espécie de surf heavy music metal; “Santânico” (sane-se lá qual parte), que se pronuncia mais lenta e é arrematada numa velocidade abissal, imposta pelo batera Jonas; e a mítica “Clube dos Canalhas”, sem o blábláblá de antes. Mudanças que, por vezes, interferem até na coreografia de Jimmy London, resultando em terríveis dancinhas sem noção, mas – vá lá – até divertidas. Curiosamente, a música mais recente da banda, a boa “Assim Começa a Bebedeira”, lançada em um compacto em vinil no final do ano passado, não é tocada, o que também faz lembrar que já é hora de a abanda gravar um novo disco, o sucessor de “Pior Cenário Possível”, que saiu já há mais de dois anos.

Teve até parabéns pra você para Jimmy, o aniversariante deste domingo, e para o guitarrista Maurício
Para ver como foram os shows de abertura, com Inocentes, DFC e Cabeça, clique aqui.
Set list completo:
1- Introdução
2- Interceptor V-6
3- Santa Madre Cassino
4- Rio de Whisky
5- Conforme Disseram as Vozes
6- Bom é Quando Faz Mal
7- O Chamado Do Bar
8- Taberneira, Traga o Gim
9- Tudo Errado
10- O Que Está Feito, Está Feito/Eu Não Bebo Mais
11- Eu Não Gosto de Ninguém
12- Todo Ódio da Vingança de Jack Buffalo Head
13- Quanto mais Feio
14- Clube dos Canalhas
15- Odiosa Natureza Humana
16- Tempo Ruim
17- Matadouro 18
18- Contrycore Funeral
19- Remédios Demais
20- Mesa de Saloon
21- Ressaca Sem Fim
22- Santânico
23- Carvão, Enxofre, Salitre
24- Five Feet High
25- Maldito Hippie Sujo
26- Remédios Demais
27- O Último Bar
28- Ela Não Me Perdoou
29- Mulher Diabo
30- Sabendo Que Eu Posso Morrer
31- Pé na Porta, Soco na Cara
32- Mais Um Dia Por Aqui
33- Meio Psicopata
34- A Arte Do Insulto
35- Ela Roubou Meu Caminhão
36- Estamos Todos Bêbados
37- Interceptor V-6
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