Outro nível
Sobrando em elenco indie, superbanda de Lenny Kravitz tem apresentação destacada no Lollapalooza. Fotos Divulgação Lollapalooza: Mila Maluhy.
Antes, em “Let Love Rule”, Kravitz, que passou boa parte do tempo preocupado em não escorregar na borda do palco molhada pela chuva – e seca daqui, seca de lá -, desce no vão que divide o público e circula cumprimentando fãs, ato relativamente costumeiro em seus shows, mas sempre bem-vindo. A música, um gospel de raiz reforçado pelos teclados com sotaque organista, é esticada e inclui grande solo do guitarrista Craig Ross, que há anos acompanha Kravitz. Um dos poucos não hits do repertório curto para um artista que poderia facilmente ser o headliner, contudo, não faz a plateia cantar como ele esperava, o que realça ainda mais a participação, também de um naipe de metais sui generis, com dois saxofonistas, de Harold Todd.
A performance de melhor maior destaque dele é em “Where We Are Runin’?”, um rockaço estradeiro cuja batida marcante encanta desde o início, e que tem entradas individuais de grande parte dos músicos, um por um, de modo que, quando se vê, lá está a bandaça toda botando pra quebrar sem dó. E isso porque a música vem depois, coladinha, de “Always On The Run”, outro blockbuster que Lenny faz questão de lembrar que é um parceria com o guitarrista Slash, quando o naipe de metais é o responsável por uma arremate extraordinário. Mas se tem Slash na gênese, tem riff contagiante e Ross outra vez botando pra quebrar. Desta feita, se vale da boa base que inclui a baixista Gail Ann Dorsey (David Bowie) para empunhar a guitarra com a propriedade que lhe é intrínseca.Com arranjos que estendem muitas das músicas e o tempo curto, muito embora além de não ter a cronometragem reduzida por causa das intempéries, Lenny teve direito a bis e uns quatro minutinhos a mais em relação ao programado, só sobrou espaço para uma música do novo álbum, “Raise Vibration”, que saiu no ano passado. “Low”, na parte inicial, é uma soul music bem arranjada, mas que passou batida. Também, veio depois de duas versões fundidas numa só: “American Woman”, do Guess Who e “Get Up Stand Up”, de Bob Marley. É o momento em que a transição do hard rock para o reggae se dá de forma precisa, como se fossem unidas de berço ambas as versões; com mais tempo, a segunda parte poderia render muito mais em um reggae rock dos bons, graças, uma vez mais, a Craig Ross.
O palco tem desenho próprio, sem telão e com uma plataforma atrás da bateria onde Lenny Kravitz aparece despejando decibéis com o riff de “Fly Away”, na abertura. O repertório tem ainda a psicodelia viajante de “Again”, que fecha a primeira parte; a fraca “Believe”, salva por um belíssimo solo de Craig Ross e o pop pueril, mas nem por isso a se descartar de “It Ain’t Over ‘Til It’s Over”. Ainda assim, segundo consta, com duas músicas a menos em relação ao show do Lolla argentino. Sinal de que já passou da hora de Lenny Kravitz vir ao Brasil em uma turnê própria, sem a grandiloquência do show da Praia de Copacabana, em 2005 (relembre) ou inserido em festivais como o Rock In Rio, e até mesmo em locais fechados, com tempo à vontade para desfilar com essa bandaça que, sob o comendo de quem é do ramo, tem o dom de melhorar todo o tipo de música.Set list completo:
1- Fly Away
2- Dig In
3- American Woman/Get Up, Stand Up
4- Low
5- It Ain’t Over ‘Til It’s Over
6- Believe
7- Always on the Run
8- Where Are We Runnin’?
9- Again
Bis
10- Let Love Rule
11- Are You Gonna Go My Way
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